Esperado começo

Megaprojeto de minério de ferro de Simandou inicia operações na Guiné; BTG e Vale minimizam impactos em preços

Megaprojeto de minério de ferro de Simandou inicia operações na Guiné; BTG e Vale minimizam impactos em preços
Rio Tinto

São Paulo, 12/11/2025 – O enorme projeto de minério de ferro de Simandou, na Guiné, iniciou operações, informaram a australiana Rio Tinto e a chinesa Baowu, que fazem parte do grupo de empresas envolvidas nos longos esforços para exploração das promissoras reservas, com a Rio estimando que a região poderá exportar até 120 milhões de toneladas de minério de alta qualidade por ano– a título de comparação, a brasileira Vale espera produzir total de até 335 milhões de toneladas em 2025.

Embora Simandou venha sendo apontado por especialistas como potencial fator de pressão sobre os preços no mercado de minério de ferro, o megacomplexo não chegou a derrubar as cotações da commodity como se temia, com analistas ponderando que a expectativa de estímulos da China à economia pode sustentar a demanda, e com importantes players, como a Vale, também minimizando os impactos de curto prazo.

Os preços do minério de ferro mantiveram a resiliência mais recentemente, desafiando projeções, e levando diversas casas de análise e bancos a reverem para cima seus cálculos. Em entrevista nesta semana, o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, disse à Bloomberg que espera que o mercado siga equilibrado apesar da nova oferta de Simandou.

A visão do CEO da Vale, já externada em ocasiões anteriores, leva em consideração uma redução anual de oferta de minério de 50 milhões a 60 milhões de toneladas, com esgotamento de minas na Austrália, e inviabilidade de produção de outras 150 milhões de toneladas se os preços caírem abaixo dos US$90 por tonelada, de cerca de US$100 atualmente.

A equipe de analistas do BTG Pactual avalia que Simandou “segue como principal risco” para os preços do minério de ferro e, consequentemente para a tese de investimento nas ações da Vale. “Mas estamos ganhando conforto de que (Simandou) não vai gerar uma disrupção na estabilidade dos preços ao redor do intervalo entre US$95/t e US$105/t”, escreveram, em relatório de 29 de outubro, no qual elevaram a recomendação de Vale para “compra”.

“Revisamos nossas projeções para Simandou, esperando produção de 20 milhões de toneladas em 2026, 40 milhões em 2027, e 55 milhões em 2028. Embora a entrada desse volume em um mercado sem crescimento represente riscos aos preços, eles não devem gerar disrupção material ao balanço (de oferta e demanda). Riscos de execução seguem altos, dados os desafios logísticos e políticos de Simandou, e recentes atualizações sugerem uma crescente probabilidade de atrasos e entregas abaixo do esperado, em nossa visão”, acrescentou o BTG.

No final de outubro, o Goldman Sachs elevou as projeções para preço do minério de ferro em 2026 para US$93/t, de US$88/t anteriormente, citando um mercado mais forte do que previsto ao longo dos meses anteriores.

PROJETO EMBLEMÁTICO
O começo das operações de Simandou foi comemorado em cerimônia que contou com a presença do presidente da Guiné e das companhias responsáveis, que incluem a Rio Tinto e parceiros chineses, como Chinalco, Baowu, China Rail Construction Corporation e outras. No momento, estão em andamento testes e comissionamento de mina e infraestrutura de transportes, e já teve início o transporte de minério de ferro da mina ao porto, por meio de uma ferrovia local.

Além da mina, com minério de ferro de alta qualidade, Simandou inclui um complexo com ferrovia com mais de 600 quilômetros e portos, envolvendo investimentos totais de mais de US$20 bilhões, segundo a chinesa Baowu, uma das líderes do projeto.

Ao longo de vários anos de desenvolvimento de Simandou, os custos foram aumentando com novas exigências do governo da Guiné de investimentos em infraestrutura local, e houve até acusações de pedidos de propinas por políticos e irregularidades nas concessões para exploração, relatadas no livro “O Mapa da Mina”, de André Guilherme Delgado Vieira, que resume a fracassada tentativa da Vale de participar da exploração.

A Vale chegou a pagar US$500 milhões de dólares, parte de um preço acordado de US$2,5 bilhões, por participação em uma parte de Simandou, em um negócio com o grupo BSG Resources, mas depois foi surpreendida por revisão contratual pelo governo da Guiné, que revogou a concessão atribuída às empresas, alegando corrupção da BSGR.

A Vale sempre negou qualquer envolvimento ou conhecimento de fraudes ou corrupção na aquisição dos direitos, mas acabou levando pesado prejuízo no negócio. Outros grupos que conseguiram manter e avançar com suas concessões, como a Rio Tinto, foram constantemente surpreendidas por novas exigências do governo que aumentavam custos, evidenciando as dificuldades de se levar adiante dentro do prazo e orçamento um megaprojeto como esse em um país como a Guiné, marcado pela instabilidade política crônica.

Na cerimônia de inauguração de Simandou, nesta terça-feira, o chefe da Casa Civil do governo da Guiné, Djiba Diakité, disse que “Simandou é mais que um projeto de mineração: é a força matriz por trás de uma transformação nacional”. O governo local hoje detém participação acionária no projeto, e ainda lidera um “Comitê Estratégico Simandou 2040”.