Paradoxo elétrico

Brasil tem sobra de energia durante o dia e risco crescente de apagão à noite, alerta ONS

Brasil tem sobra de energia durante o dia e risco crescente de apagão à noite, alerta ONS
Reprodução/MegaWhat/YouTube

São Paulo, 04/09/2025 – O Brasil enfrenta situação peculiar no setor elétrico, com tendência de grandes sobras de energia na maior parte do dia, porém com crescente risco de falta de suprimento no pico de demanda da noite, alertou hoje o diretor de Planejamento do Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), Alexandre Zucarato.

O excesso de energia visto hoje está ligado ao crescimento da geração solar, que leva o ONS a ordenar cortes de produção em usinas fotovoltaicas e eólicas quando há limitações na rede, como restrições de transmissão ou falta de demanda. Os cortes têm impactado severamente resultados de empresas como Echoenergia, da Equatorial, Auren, Engie e outras.

Apesar desse excedente, não há “folga” de energia no final da tarde e à noite, quando a geração solar deixa de contribuir para o sistema, e critérios de segurança do ONS já estão sendo violados, alertou Zucarato, em referência a um cálculo que considera aceitável até 5% de chances de faltar energia para atendimento à ponta de demanda em inúmeros cenários simulados.

“É assustador você olhar e ver que existe 96% de você perder carga por insuficiência de recursos (em 2029). Não estou falando no cenário ruim– são em todos os cenários, somados, dá 96%. Era para você ter 5% de risco de dar problema, e nós temos 5% de risco de dar certo, de conseguir atender à carga”, disse Zucarato, durante evento do portal MegaWhat em São Paulo.

Ao mesmo tempo, um outro estudo do ONS projeta que poderá haver cortes de geração eólica e solar, conhecidos como “curtailment”, em 86% das horas diurnas no horizonte dos próximos cinco anos.

“Isso significa que minha equipe de planejamento já consegue enxergar o dia em que vamos ter que cortar geração de manhã, na escala de dezenas de gigawatts…e cortar carga, em escala de unidades de gigawatts, à noite, no mesmo dia”, explicou Zucarato.

Questionado sobre quando esse cenário poderia se concretizar, o diretor do ONS disse que, “em um cenário hidrológico muito crítico, você consegue enxergar isso no ano que vem”.

LEILÃO URGENTE

Para Zucarato, o quadro reforça a urgência de o governo realizar um leilão para contratar termelétricas e expansões de hidrelétricas para reforçar o atendimento aos picos de demanda. O certame chegou a ser agendado para junho, mas após disputas judiciais foi adiado para 2026.

“Acho que não temos mais espaço para hesitação. Estamos chegando muito perto de um ponto de não retorno”, pontuou Zucarato.

Ele também defendeu que a indústria elétrica precisa de uma reforma regulatória, e disse esperar que o Congresso possa aprovar avanços durante a análise da medida provisória 1304/2025, que trata de temas do setor.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)