São Paulo, 17/07/2025 – A australiana Rio Tinto deve antecipar o início das operações do mega projeto de minério de ferro de Simandou, na Guiné, para ainda neste ano, em movimento que poderá abalar as estruturas do mercado da commodity, alertaram analistas do BTG em relatório.
Os preços do minério de ferro tocaram os US$100 por tonelada nesta semana, apoiados por expectativas de novos estímulos econômicos na China, mas o rali “pode estar perdendo fôlego”, com a perspectiva de aumento da oferta e com a produção siderúrgica recuando, apontaram os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi.
“Do lado da oferta, a Rio Tinto antecipou a expectativa de primeiros embarques da gigante mina de Simandou para novembro. Embora os volumes iniciais possam ser modestos, o projeto marca uma mudança estrutural de longo prazo, potencialmente desafiando a participação de mercado de Austrália e Brasil”, escreveu o time do BTG.
Localizadas no sudeste da República da Guiné, na África, as cordilheiras de Simandou contém reservas de minério de ferro de alto teor de classe mundial, comparáveis às que a Vale explora em Carajás, no Pará. A Rio Tinto cita reservas estimavas em 1,5 bilhão de toneladas.
A região é considerada a próxima fronteira exploratória, e a Vale chegou a tentar cravar presença por ali, inclusive envolvendo-se em um negócio que depois se tornou um pesadelo e terminou nos tribunais. A mineradora brasileira fechou em 2010 acordo de US$2,5 bilhões com o empresário Benjamin Steinmetz por licenças em Simandou que depois foram canceladas por acusações de corrupção da parceira e levaram a uma longa disputa judicial.
“Quando estiver operando com carga total, Simandou deve acrescentar uma oferta considerável (ao mercado de minério de ferro) até o final da década”, apontou o BTG, citando que isso representaria “pressão adicional em um balanço (de oferta e demanda) já frágil”.
Com isso, na visão do BTG, a relação entre oferta e demanda deve continuar a se deteriorar, o que deve levar os preços do minério de ferro para uma correção, indo abaixo dos US$90/t ao final de 2025.
VISÃO DA VALE
Recentemente, executivos da Vale disseram acreditar que Simandou deveria começar a operar apenas em 2027, embora na época a Rio Tinto ainda apontasse para 2026, segundo escreveu a Genial Investimentos em relatório, em maio.
“Muitos gestores de fundos com quem estamos em contato estão precificando o minério de ferro em US$80/t já em 2027, e uma porção significativa desse declínio estaria relacionada à entrada de Simandou”, escreveram os analistas Igor Guedes e Luca Vello.
Mas o time da Genial apontou que a gestão da Vale pareceu “minimizar” potenciais impactos de Simandou sobre os preços do minério de ferro, com avaliação de que o mercado “vai se acomodar”, como ocorreu após a inauguração do S11D em Carajás.
“O minério de Simandou tenderia a substituir parte do volume produzido localmente na China, que tem custo de produção alto e restrições ambientais. A Vale acredita que o impacto seria mais de substituição que aumento líquido da oferta”, escreveram os analistas.
A direção da Vale também disse que o mercado tende a subestimar as dificuldades de se avançar em projetos como o de Simandou, e levantou dúvidas sobre o ritmo de entrega das próximas fases, segundo a Genial.
A própria Vale teve importantes experiências sobre essas dificuldades quando se envolveu em tentativa de explorar Simandou.
Além de sofrer pressões do governo da Guiné por mudanças na rota ferroviária que exportaria a produção da mina, aumentando custos e distâncias, a Vale depois viu a licença obtida por seu parceiro Steinmetz ser revogada. Depois de uma mudança de governo na Guiné, o novo presidente acusou propinas no negócio, algo que a Vale sempre disse desconhecer.
A exploração de Simandou, no final, ficou a cargo da Simfer, que reúne Rio Tinto e um grupo de investidores chineses incluindo Chinalco e Baowu, com concessões dos bloos 3 e 4, e de um consórcio entre Winning International, Weiquiao Aluminium e United Mining, com os blocos 1 e 2. O governo da Guiné detém participação de 15% em todas áreas. A Rio Tinto estimou investir US$6,2 bilhões para desenvolver mina e infraestruturas ferroviárias e portuárias na região.