Grupo de Ometto sob pressão

Cosan precisa de outros desinvestimentos além de saída da Vale, diz diretor

Cosan precisa de outros desinvestimentos além de saída da Vale, diz diretor

São Paulo, 16/05/2025 – O grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto, tem “senso de urgência” sobre alternativas para ajustar sua estrutura de capital, disseram diretores durante teleconferência nesta sexta-feira, diante de um elevado endividamento que, em período de juros elevados, tem pressionado os resultados.

“Temos total clareza de que o desinvestimento que fizemos de Vale é parte do que precisamos fazer. Para nós, é muito claro que temos ainda uma jornada de recursos a levantar. Com cuidado para que, ao final dessa jornada, a gente não termine com um portfólio muito pior”, explicou o diretor financeiro, Rodrigo Araujo.

Desinvestimentos da holding Cosan e da subsidiária Raízen estarão no foco dos planos, enquanto vendas de participações relevantes na Rumo ou na Compass não são consideradas, disse o CEO da companhia, Marcelo Martins.

Ele falou em “volume de desinvestimentos substancial”, que deve passar por ativos na área de energia e redução da capacidade de moagem, com venda de algumas usinas.

Segundo o executivo, no caso da Raízen, “todas as alternativas estão na mesa”, o que seria válido também para a Shell, sócia da Cosan na empresa de bioenergia.

RESULTADOS FRACOS
A Cosan reportou prejuízo de R$1,8 bilhão no 1T25, pior que os R$192 milhões de perdas no 1T24, embora abaixo dos R$9,29 bilhões do 4T24, quando realizou impairment de R$4,8 bilhões por perdas no investimento na Vale.

O grupo de Ometto vendeu suas ações na Vale em uma operação em bolsa que levantou R$9 bilhões em janeiro, utilizando os recursos para quitar dívidas. O empresário admitiu que não queria fazer a operação, mas tomou a decisão por pragmatismo, diante do cenário de juros. A Cosan encerrou o 1T25 com alavancagem em 2,8 vezes, com dívida bruta de R$21 bilhões, redução de R$6,1 bilhões ante 4T24. O resultado financeiro do grupo ficou negativo em R$721 milhões no 1T25, diante dos altos gastos com juros da dívida.

Pressionado em praticamente todas suas empresas pelo quadro de Selic restritiva no Brasil, Ometto tem feito duras críticas públicas ao governo Lula, principalmente na área fiscal, e à condução da política monetária pelo Banco Central. Ele chegou a pedir diretamente ao hoje presidente do BC, Gabriel Galípolo, que não subisse mais a Selic.

TURNAROUND?

As ações da Cosan caem 46% em 12 meses, com perda de 8% no acumulado deste ano, saindo das mínimas com sinais de que o ciclo de alta da Selic pode estar perto do fim. Mas, para o BTG Pactual, a ação só deve se recuperar mesmo quando a empresa fizer anúncios relevantes.

“Ter as ações da Cosan hoje requer certa dose de confiança de que a administração é capaz de conseguir as opções corretas para as vendas de ativos, vender fatias em empresas, e/ou melhorar a performance operacional de algumas das subsidiárias mais probleméticas, jogando a matemática a seu favor”, escreveram os analistas do BTG.

“Mantemos recomendação de ‘compra’, na esperança de que o recente senso de urgência vai prevalecer, com agilidade para endereçar essas questões, do mesmo modo que a sensata administração da Cosan tem mostrado ao longo dos anos”, apontou o banco.

A Cosan tem participações na Rumo, de ferrovias, na Compass, de gás, na Raízen, de açúcar e bioenergia, uma joint venture com a Shell, na Radar, de terras, e Moove, de lubrificantes.