Eleições 2026 cada vez mais no radar

Coluna de Marcio Aith - A única pessoa que pode tirar Bolsonaro da prisão: Tarcísio de Freitas

Reuters News Brasil
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A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, entre outras acusações, é amplamente tida como inevitável. Paralelamente, há quem projete que sua prisão venha a ocorrer em 2026, ano eleitoral, segundo uma fonte com acesso privilegiado ao andamento dos processos.

Existem apenas três meios de evitar ou abreviar o cumprimento da pena de prisão, conduzindo à chamada “extinção da punibilidade”. O primeiro é a anistia, um benefício concedido pelo Congresso Nacional por meio de lei, capaz de eliminar não apenas a pena, mas também todos os seus efeitos. Nesse cenário, Bolsonaro recuperaria seus direitos políticos e poderia retomar o jogo eleitoral — o que lhe seria ideal. No entanto, essa possibilidade não conta com o ímpeto de seus apoiadores, como demonstrou o fraco comparecimento à manifestação realizada em 16 de março, em Copacabana (Rio de Janeiro).

Essa falta de mobilização reflete diretamente na ausência de entusiasmo até mesmo entre parlamentares de direita, que seriam a base de aprovação de uma eventual anistia no Congresso. Embora o bolsonarismo ainda mantenha relevância política, não aparenta deter força suficiente para conduzir deputados e senadores — do centro à extrema direita — a uma iniciativa de alto risco, que possivelmente resultaria em fracasso e traria considerável desgaste aos envolvidos.

É preciso ressaltar ainda que a anistia só faria sentido após a definição da pena, algo que ainda não ocorreu. O julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) está previsto para iniciar em 25 de março e, mesmo que seja concluído ainda este ano, a defesa certamente apresentará recursos. Embora sejam vistos como improváveis de prosperar, esses recursos empurrariam o cumprimento da pena para 2026. Assim, no momento, a anistia permanece um sonho distante para o ex-presidente.

Restam, portanto, outras duas hipóteses concretas de extinção da pena: indulto e graça, ambas independentes tanto do Congresso quanto do STF, já que decorrem exclusivamente de um ato do presidente da República. Essas medidas liberam o condenado de cumprir a pena, mas mantêm efeitos secundários, como a perda de direitos políticos e a manutenção dos antecedentes criminais. Em outras palavras, o beneficiado por indulto ou graça escapa da prisão, mas não recupera a chamada “ficha limpa”.

Diante disso, fica claro que a única pessoa capaz de livrar Bolsonaro da prisão é quem ocupa o Palácio do Planalto. E, como se sabe, se Lula continuar no poder, não é provável que ele conceda esse favor ao ex-presidente. Logo, as esperanças de Bolsonaro residem na possibilidade de vitória eleitoral de um de seus herdeiros políticos que tenha condições de derrotar Lula ou outro candidato petista em 2026 — e o nome de maior potencial atualmente é Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.

Permanece, contudo, a indagação: por que Bolsonaro insiste em divulgar a tese de que será anistiado e participará das eleições de 2026, se sua única saída prática — e até mesmo prisional — é fortalecer um sucessor político? Ao manter essa narrativa, ele parece desestimular que qualquer liderança bolsonarista de peso construa uma campanha consistente, capaz de vencer em 2026 e, assim, lhe conceder a liberdade.

Afinal, por que Bolsonaro estaria dificultando que Tarcísio, governador de São Paulo, admita abertamente seu desejo de concorrer à Presidência? Bolsonaro instituiu uma espécie de censura sobre o tema: em seu círculo familiar, a ordem é atacar qualquer liderança que “atropelar” o ex-presidente. Todos devem repetir o mantra de que o único candidato viável será Bolsonaro — ou alguém designado por ele.

Volta, então, a dúvida: se Tarcísio, a partir de 1º de janeiro de 2026, for a única pessoa capaz de impedir que Bolsonaro cumpra uma pena que pode superar 20 anos de reclusão, por que o ex-presidente insiste em obstaculizar o surgimento de seu provável salvador político?

Uma hipótese plausível é que ambos já saibam que Tarcísio será o candidato, mas Bolsonaro tenta impor exigências que desagradam ao governador. Entre elas, especula-se a imposição de Michele Bolsonaro ou de algum dos filhos do ex-presidente como vice na chapa. Tarcísio, ao que tudo indica, não veria essa ideia com bons olhos, travando as negociações.

Outro ponto sensível pode ser a definição de como serão utilizados os fundos eleitorais dos partidos que sustentarão a candidatura bolsonarista. Vale lembrar que o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, domina tais acordos.

Enquanto o tempo corre, Bolsonaro se arrisca a ficar cada vez mais isolado em suas convicções, podendo descobrir, tarde demais, que o único caminho para escapar da prisão é justamente o que ele próprio insiste em obstruir.

Para deixar mais claro:

  • Graça é um benefício individual, concedido pelo presidente da República a um condenado específico. Depende de um pedido do próprio preso e do Ministério Público (que não pode vetá-la, apenas formalizá-la). Pode ser concedida em qualquer época do ano.
  • Indulto é um benefício coletivo, concedido a um grupo específico de condenados, e geralmente ocorre por ato espontâneo do presidente da República (ou de autoridade a quem ele delegue). Tradicionalmente, é concedido no Natal, mas nada impede que outro governante inicie nova prática.

Políticos ouvidos pelo FLJ julgam mais apropriado que, diante de uma eventual vitória de Tarcísio, ele inclua Bolsonaro entre os beneficiários de um indulto — juntamente com os demais envolvidos nos ataques às sedes dos três Poderes.

Um obstáculo pode ser o decreto assinado por Lula em 22 de dezembro de 2023, talvez já com o intuito de obstruir um possível indulto a Bolsonaro. Esse texto legal proíbe a concessão de indulto em situações que se encaixariam no processo do ex-presidente. Porém, por se tratar de um decreto, o próprio presidente em exercício poderia revogá-lo.

A principal dificuldade, nesse caso, seria o STF vir a barrar o indulto ou a graça por meio de alguma ação movida por partidos ou entidades habilitadas. A discussão sobre indulto no STF não é inédita: em 2019, a Corte validou o decreto de indulto natalino assinado por Michel Temer, entendendo que o indulto é ato de competência privativa do presidente. À época, a medida gerou polêmica ao beneficiar condenados por crimes de colarinho branco, como corrupção e peculato.