Por Reuters
Líderes europeus, latino-americanos e caribenhos proclamaram uma nova era de maior cooperação política e econômica nesta terça-feira (18), mas sua cúpula foi ofuscada por disputas sobre como lidar com a guerra da Rússia na Ucrânia.
A reunião de cerca de 50 líderes das três regiões em Bruxelas teve como objetivo revitalizar suas relações enquanto a UE busca renovar suas alianças internacionais em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia e um crescente sentimento de cautela em relação à China.
“É uma página promissora e otimista que se abre nas relações entre América Latina, Caribe e União Européia”, afirmou Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, que reúne os líderes nacionais da UE.
Mas embora os líderes na cúpula tenham declarado que compartilham valores comuns, como a democracia, os direitos humanos e o Estado de direito, suas disputas sobre a guerra na Ucrânia destacaram diferenças em uma questão de suma importância para a Europa.
Autoridades da UE esperavam que a cúpula com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) deplorasse claramente a Rússia por invadir seu vizinho em fevereiro do ano passado. Mas a declaração final não mencionou a Rússia.
O comunicado expressa “profunda preocupação com a guerra em curso contra a Ucrânia” e diz que a guerra está causando imenso sofrimento humano, restringindo o crescimento, aumentando a inflação, interrompendo as cadeias de abastecimento e aumentando a insegurança energética e alimentar.
Mesmo esse teor foi forte demais para a Nicarágua, governada pelo ex-guerrilheiro esquerdista Daniel Ortega. O comunicado especificava que um país discordou de um parágrafo da declaração. Autoridades disseram que se referia à Nicarágua e ao parágrafo sobre a Ucrânia.
O presidente argentino, Alberto Fernández, insistiu que a cúpula era muito mais do que a guerra, abordando questões como mudanças climáticas, comércio e uso justo dos recursos naturais.
Ele também lembrou que muitos países latino-americanos criticaram a Rússia pela invasão. “É claro que houve vozes diferentes, mas não era o item principal da nossa agenda”, disse ele a repórteres. “Não é que a América Latina relutasse em falar contra a guerra na Ucrânia, nós fizemos isso nas Nações Unidas”, acrescentou.
Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, repetiu esse ponto. Mas ele também disse que o Ocidente precisa entender as acusações de hipocrisia em sua posição sobre a Ucrânia.
“Historicamente, tivemos muitas atividades de grandes potências contra países menores e mais pobres – países menos poderosos”, disse ele, citando experiências na América Latina e no Caribe.
Os esforços da UE para intensificar a cooperação com a América Latina refletem um esforço para buscar novas fontes de energia e matérias-primas críticas à medida que isola a Rússia e diversifica suas cadeias de abastecimento para ser menos dependente da China.