Inflação ao consumidor sobe 0,84% e supera previsão colocando dúvida no alívio antecipado da Selic

O item que mais impactou nesse resultado foi Educação, que mostrou a maior variação e o maior peso no índice

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Por: Patricia Lara, Fabricio Julião e Simone Kafruni

A inflação ao consumidor no Brasil acelerou em fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e superou as expectativas, puxada por reajustes em Educação.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro subiu 0,84%, ante 0,53%na medição de janeiro. A expectativa era de alta de 0,78% em fevereiro, de acordo com a mediana das 37 projeções colhidas pela Mover e Economatica para o Consenso TC.

Mesmo acima do esperado, o indicador mostra uma inflação bem menor do que a observada no mesmo período do ano passado, quando o IPCA subiu 1,01%.

O item que mais impactou nesse resultado foi Educação, que mostrou a maior variação e o maior impacto no índice. A alta foi de 6,28%, com reajuste de 7,58% dos cursos regulares, puxados por ensino médio (10,28%), ensino fundamental (10,06%), pré-escola (9,58%) e creche (7,20%), segundo o IBGE.

Na sequência, vieram Saúde e Cuidados Pessoais (1,26%) e Habitação (0,82%).

O grupo de Transportes apontou desaceleração para 0,37%, ante 0,55% em janeiro. A principal razão foi a gasolina, único combustível que subiu no mês. A alta desse derivado foi de 1,16%. Todos os demais combustíveis registraram queda de preço em fevereiro: etanol (-1,03%), gás veicular (-2,41%) e óleo diesel (-3,25%).

O IPCA é divulgado após as taxas de juros recuarem nas últimas quatro sessões, diante de apostas para um corte da taxa Selic ainda em maio com a perspectiva de apresentação de uma nova regra fiscal pelo governo.

O BC brasileiro tem a tarefa de cumprir a meta de inflação, que foi fixada pelo Conselho Monetário Nacional em 3,25% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Quadro negativo da inflação

As medidas de núcleo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro mostram um quadro mais negativo da inflação, provocado principalmente pelos preços do setor de serviços, mostram dados da TC Matrix.

O índice de difusão da inflação em fevereiro subiu para 65,25%, ante 63,13%, o que indica altas mais disseminadas de preços entre os produtos da cesta do índice, mostra levantamento da TC Matrix. A média dos núcleos por exclusão captou a uma taxa de 0,80% ante 0,48% observada no mês anterior. A cesta de preços de associados a serviços tiveram forte peso, com alta de 1,42% em fevereiro, ante 0,60% no mês anterior. Excluindo-se os preços subjacentes, a alta dos serviços foi de 0,54% no mês passado, um alívio ante 0,58% de janeiro.

“O número cheio do IPCA veio pior que o esperado. Ao olhar os detalhes, as aberturas, os núcleos. Há algumas coisas em linha, mas outras com viés negativo. Estou falando basicamente de serviços”, disse Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original.

O IPCA cheio de fevereiro subiu 0,84%, ante 0,53% na medição de janeiro. A expectativa era de alta de 0,78% em fevereiro, de acordo com a mediana das 37 projeções colhidas pela Mover e Economatica para o Consenso TC.

O IPCA leva o mercado a interromper a sequência de quatro sessões de quedas das taxas de juros futuros, colocando um desafio para as apostas para um corte da taxa Selic ainda em maio, formadas sob a perspectiva de apresentação de uma nova regra fiscal pelo governo.

Perto das 9h55, o DI janeiro 2024 subia 8 pontos-base, a 13,12%.

Desafio para o Banco Central

O dado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro mostra que não há alívio no cenário de inflação, o eleva o desafio enfrentando pelo Banco Central neste momento, disseram especialistas ao Mover.

“As leituras recentes do IPCA sugerem que a tendência de desinflação observada no ano passado parece perder força, com os índices ainda em níveis elevados. Isso não é uma boa notícia para o Copom, à medida que se aproxima a reunião de março”, afirmou Caio Megale, economista-chefe da XP, ao Mover.

O indicador acima do esperado também pode indicar uma reaceleração da inflação no segundo semestre, segundo Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original.

“O índice cheio do IPCA veio mais salgado que o imaginado. E vemos uma sugestão de reaceleração dos núcleos e de outras aberturas. Apesar de estarmos observando uma descompressão do indicador de 12 meses, o resultado sugere uma reaceleração do IPCA no segundo semestre”, pontuou o economista.

Economistas já destacavam algumas categorias do setor de serviços com alta bem mais elevada que a média histórica, como educação e energia elétrica, conforme antecipou o Mover.

Além do fator sazonal ter pesado no IPCA de fevereiro, com os reajustes de matrículas escolares pós-pandemia, o setor de serviços é impactado com a criação de 83,2 mil empregos com carteira assinada em janeiro deste ano e o valor do salário médio 4,62% mais alto, segundo o Caged.

Lula cobra Haddad e Tebet sobre investimentos

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou os ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), e os bancos públicos para que encontrem dinheiro a fim de alavancar investimentos no país.

Lula faz essa cobrança em meio a um cenário desafiador para o Banco Central e para as expectativas de um corte da taxa Selic ainda em maio, diante da perspectiva de apresentação de uma nova regra fiscal pelo governo.

O presidente está reunido, nesta sexta-feira, com ministros de várias pastas no Palácio do Planalto, para que apresentem seus projetos de infraestrutura.

“Não podemos ficar chorando o dinheiro que não temos. Temos que utilizar bem o que temos. Por isso Haddad é ministro da Fazenda, ele é criativo”, brincou. “Ele e a Simone vão sentar na mesa e arrumar o dinheiro que nós precisamos para fazer investimento nesse país”, completou.

Lula afirmou querer saber “qual o papel dos bancos públicos” para alavancar investimentos. “Não pode ser proibido emprestar dinheiro. Por que não emprestar para pequenos, médios empreendedores, grandes empresários, estados, prefeituras, cooperativas?”, indagou.

Segundo o presidente, é preciso emprestar recursos para estados e prefeituras com capacidade de endividamento. “Não dá para achar que o ‘gostoso’ é guardar dinheiro. Dinheiro bom é investido em obras, educação, saúde, sobretudo emprego”, ressaltou.

Lula lembrou do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos governos petistas anteriores. “O PAC foi uma coisa extraordinária porque não foi feito só pelo governo federal, ouvimos governadores e prefeitos para construir um arcabouço de propostas. Foi o momento mais rico de investimentos do país”, assinalou.

Agora, Lula quer que os ministros criem outro programa de investimentos em infraestrutura. “Sejam criativos, precisamos de um novo nome”, disse. Ele ainda ressaltou que o país está com 14 mil obras paradas, 186 mil casas do Minha Casa Minha Vida paralisadas.

“Já visitamos alguns estados e inauguramos algumas obras. Quando eu voltar da China, vou viajar pelo Brasil para reinaugurar mais”, afirmou. Durante a reunião, que deve terminar apenas às 14h, cada ministro terá em torno de 20 minutos para apresentar seus projetos.

Além de Tebet e Haddad, também estão presentes os ministros da Casa Civil, Rui Costa (PT); dos Transportes, Renan Filho (MDB); de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB); de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD); da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck (PT); das Comunicações, Juscelino Filho (União); da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (PDT); das Cidades, Jader Filho (MDB); da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo (PT); de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT); e da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT).