Governo sofre derrota dupla com Petrobras (PETR4) e Eletrobras (ELET3)

Enquanto isso, riscos sobre as duas empresas diminuem, segundo analistas

Agência Brasil
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Por Bruno Andrade

Duas grandes promessas de campanha do presidente Lula parecem estar distantes a cada dia que se passa. O presidente prometeu reestatizar a Eletrobras (ELET3) e acabar com a Política de Paridade Internacional (PPI) da Petrobras (PETR4).

Ontem, o CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior renunciou ao cargo de presidente da Eletrobras. O comunicado não tinha nenhuma informação concreta sobre sua saída. O que se tem de bastidor, até o momento, é que a saída do CEO aconteceu em meio a uma pressão dupla: do setor privado e do governo federal.

O governo Lula pressionou a gestão de Ferreira para suspender o plano de demissões voluntárias em andamento. A tensão acirrou os ânimos internos com os  controladores, privados, da empresa, que pediam a Wilson Ferreira que ignorasse o governo.

No bastidor, os conselheiros que representam o setor privado reclamavam sobre a companhia parecer uma estatal. Em meio a esse desacordo, Ferreira Júnior preferiu sair ao invés de aceitar todas as exigências dos acionistas privados, que são maioria no conselho.

Na avaliação dos analistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ), a saída do CEO é ruim para a empresa no curto prazo, visto que Ferreira Júnior é um nome muito renomado no setor elétrico.

“Ele já presidiu a CPFL. A gestão de Ferreira na companhia foi muito rentável, então a queda do CEO acaba sendo uma grande perda para a empresa”, disse Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.

Ainda assim, essa mudança nas cadeiras é positiva para a Eletrobras, pois mostra que o governo, acionista minoritário. realmente tem pouca força na empresa elétrica, por não conseguir emplacar os seus desejos e ainda perder Wilson Ferreira, a única pessoa que ainda dava atenção às sugestões de Lula.

Por isso, o analista do TC Matrix, Arlindo Souza, explica que o investidor pode ficar despreocupado com a companhia no longo prazo e mantém recomendação de compra para o papel. “O governo tem a minoria das cadeiras e, por isso, os riscos de uma intervenção na Eletrobras são baixos”, diz Souza.

Já Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, as falas de Lula, de que vai reestatizar a empresa, e as suas ações nos bastidores, podem impactar o valor das ações da Eletrobras no curto prazo. No entanto, o controle acionário e a decisão final ficarão com os acionistas privados.

“Sendo assim, investir no papel pode ser interessante para o investidor mais arrojado que busca lucros com a queda dos juros. No entanto, essa possibilidade de risco político, mesmo que quase irrelevante, pode trazer volatilidade para o ativo no curto prazo”, disse Lopes.

Petrobras sobe combustível e implode discurso sobre fim do PPI

Ainda no meio das promessas de campanha, o presidente prometeu acabar com a Política de Paridade Internacional (PPI) da Petrobras, extinto em maio passado.

Em entrevista exclusiva ao Faria Lima Journal (FLJ) na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse que o governo acabou com “a política criminosa do PPI”.

Todavia, a Petrobras anunciou hoje um aumento de cerca de 16% no valor da gasolina em suas refinarias e uma elevação de 26% no diesel, citando “a consolidação dos preços do petróleo em outro patamar” e afirmando que havia atingido o “limite de sua otimização operacional”. Em resumo, o governo teve que fazer, ainda que forçadamente, uma aproximação entre os preços externo e interno dos combustíveis.

Na visão dos três analistas, a decisão de hoje é mais uma derrota de Lula e seus ministros. Para Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, o fato é muito positivo para o mercado e os investidores.

“Isso afastou o risco de ingerência política da política da empresa e o possível sacrifício do lucro da companhia para o governo ter popularidade”, disse Conde.

Segundo Paloma Lopes, da Valor Investimentos, o governo consegue interferir na Petrobras, mas “somente pelas beiradas”.

“A lei das estatais dificulta uma ação direta do governo na empresa, pois, caso o presidente da companhia faça algo que a prejudique, ele responderá a processos na justiça”, afirmou Lopes.

Ainda assim, Arlindo Souza, do TC, pede cautela para as ações da Petrobras e tem recomendação neutra para a companhia. Por isso, ele indica que o investidor deve optar por pequenas empresas do setor de petróleo.

“Nesse caso vemos a PRIO (PRIO3), antiga PetroRio, como uma ação interessante para o investidor, visto que a companhia é uma das mais rentáveis do setor”, concluiu Souza.