CEO da Eletrobras (ELET3) deixou cargo após pressões do governo para conter programa de demissão voluntária

Veja os bastidores da renúncia de Wilson Ferreira

Agência Brasil
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Por: Luciano Costa

O governo federal tentou intervir na gestão da Eletrobras (ELET3), onde hoje tem posição minoritária no Conselho de Administração, pedindo ao CEO, Wilson Ferreira, que suspendesse um plano de demissões voluntárias em andamento. A pressão acirrou ânimos internos e levou o executivo a pedir demissão ontem, disseram três fontes à Mover.

Ferreira, que comandou a Eletrobras nos tempos de estatal, nos mandatos dos ex-presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro, e foi trazido de volta após a privatização da empresa em junho de 2022, vinha sofrendo forte pressão contra sua atuação na empresa, ainda de acordo com as fontes, que pediram anonimato.

Mais recentemente, a importante acionista 3G Radar também estava em conflito com Ferreira, por desentendimentos sobre a estratégia para lidar com as tentativas do governo de retomar influência na elétrica, disseram as fontes.

Com a saída de Ferreira, divulgada na noite de segunda-feira, o até então presidente do conselho, Ivan Monteiro, assumirá como CEO. Monteiro, que foi diretor financeiro do Banco do Brasil e presidiu a Petrobras, vinha liderando conversas com a União sobre a ação judicial em que o governo questiona regras da privatização da empresa, segundo as fontes.

Após a renúncia ser anunciada pela Eletrobras, os depósitos de recibos das ações da companhia na bolsa de Nova York cederam mais de 3%, no pós-mercado. Ontem, as ON fecharam estáveis na B3. No ano, acumulam queda de 10,32%.

Tensão dominava a Eletrobras

O clima na Eletrobras já vinha tenso e esquentou mais após um ofício do Ministério de Minas e Energia, assinado pelo secretário-executivo Efrain Cruz, pedindo que a empresa “avalie a possibilidade de suspender o PDV”. “Sendo a União o maior acionista da empresa, manifesto minha apreensão em relação à possível saída desses funcionários”, afirmou Cruz no documento, visto pela Mover.

“O Wilson estava sofrendo muita pressão do Poder Executivo”, disse uma das fontes, acrescentando que a eventual saída dele poderia facilitar um alívio na relação entre a ex-estatal e o governo. “Estava tudo muito tenso”, disse outra fonte.

De acordo com duas outras fontes, a acionista 3G Radar também estaria pressionando Ferreira, depois de ter apoiado sua indicação, embora os motivos não tenham ficado imediatamente claros. Não foi possível falar com Ferreira ou com a 3G Radar de imediato.

A Eletrobras tem avançado mais lentamente que o previsto em seu primeiro programa de desligamentos pós-desestatização, o que deverá reduzir em R$100 milhões as economias esperadas com os cortes neste ano.

A companhia disse que algumas demissões foram postergadas devido à necessidade de manutenção em linhas de transmissão após atos de vandalismo no início do ano. A elétrica também enfrenta questionamentos judiciais que atrapalham o processo.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 08H15min, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.