Especialistas divergem sobre futuro do petróleo e impactos no governo

Commodity encerra o dia em alta de mais de 6%

Pixabay
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Por Bruno Andrade

O preço do barril de petróleo subiu 6,37%, nesta segunda-feira (03), a US$ 84,98. A alta acontece após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) informar que vai reduzir a produção em cerca de 1,15 milhão de barris por dia.  O acontecimento dividiu os especialistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ) sobre o futuro da commodity e os impactos no governo Lula.

Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o preço do barril do petróleo deve encerrar o ano entre US$ 90 e US$ 95 por barríl e ter alguns picos por volta dos US$ 100 por barril.

Para ele, a alta do preço da commodity viria com a reabertura da economia chinesa. “Por causa da abertura da China, começamos a enxergar que a recessão seria muito mais leve pelo globo”, afirmou.

“Essa abertura da economia chinesa deve pressionar a demanda pela commodity em um cenário de oferta restrita, como o anunciado pela Opep”, explicou. “Essa combinação deve fazer com que o preço do barril atinja facilmente o patamar dos US$ 90 e que tenha alguns picos passando os US$ 100 o barril”, disse.

Outro ponto, é que os países da Opep, que são responsáveis por 30% da produção mundial, dificilmente deixariam que o preço do petróleo recuasse. “O corte anunciado mostra claramente que a Rússia e a Opep controlam a curva do preço do petróleo desde o início da pandemia”, disse Pires.

“Mesmo se o petróleo cair novamente, os países da Opep e a Rússia vão cortar a produção para fazer a commodity voltar para os patamares robustos, visto que esses países são dependentes desse combustível fóssil”, afirmou Pires.

Já na visão do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o petróleo dificilmente chegaria ao patamar de US$ 100 por barril. O especialista calcula que a commodity deve variar entre US$ 80 por barril ao longo de 2022.

Segundo ele, a desaceleração econômica da Europa e dos EUA em meio a alta das taxas de juros dos bancos centrais, deve pesar mais que a reabertura da economia chinesa. “Tendo em vista essa expectativa de desaceleração na Europa e nos EUA, a Opep não teria força para fazer cortes e elevar o preço do barril”, disse Vale.

De acordo com o economista, uma forte alta do petróleo só aconteceria se uma variável muito diferente aparecesse no mercado. “Somente uma intensificação da guerra na Ucrânia ou algum outro choque faria com que o petróleo ultrapasse o valor de US$ 90 por barril”, comentou.

O peso do petróleo no governo Lula

A visão dos especialistas sobre o governo também é conflitante. Pires acredita que, caso o cenário de maior alta se concretize, a Petrobras será pressionada a alinhar seu preço à sua expectativa do petróleo nas alturas. “O preço médio dos derivados do petróleo, como a gasolina e o diesel, deve subir 7,5% ao longo do ano”, afirmou Pires.

Ele comenta que o governo ficará entre a cruz e a espada diante da decisão de seguir os preços do petróleo no mercado internacional ou de controlar a inflação de forma artificial. “Se Lula fizer a escolha de elevar a sua popularidade, o acionista da Petrobras vai pagar a conta”, comentou.

Sobre a questão dos juros, o sócio diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), acredita que o ideal seria o Conselho Monetário Nacional (CMN) rever as metas de inflação, pois se petróleo disparar conforme ele espera, entraríamos em um ciclo vicioso.

“Combustíveis sobem, pressionam inflação, juros sobem e geram desaceleração econômica e queda do petróleo, Opep corta produção e faz petróleo subir e combustíveis subirem de novo, que puxam a inflação, que pedem por mais juros”, explicou.

Por outro lado, Sérgio Vale comentou que tudo deve continuar como está. “O petróleo deve se manter no patamar atual, ou seja, não teremos novas pressões inflacionárias além do esperado, por isso, acredito que o IPCA deve encerrar 2023 em 6% ao ano”, afirmou.

Para o economista, a Selic inclusive passaria a ter cortes a partir do terceiro trimestre. “Quando chegarmos lá, o arcabouço fiscal ou estará aprovado, o que vai liberar espaço para o cortes na Selic”, disse Vale.

Em uma visão mais conservadora e cautelosa, Sérgio Vale vai um caminho totalmente oposto ao de Adriano Pires e comenta que a única coisa que não pode acontecer é a revisão das metas de inflação. “A não revisão das metas de inflação é um dos requisitos para o BC começar a cortar juros”, diz.

Por fim, Vale e Pires concordam em um único ponto: a taxação sobre as exportações de petróleo não deve aumentar significativamente as receitas do governo. “A medida tem previsão de duração de apenas quatro meses, isso não deve trazer grandes impactos na receita do governo”, disse Sérgio Vale.

Já Adriano Pires comenta que Lula não tem força para aprovar o projeto. “O governo não vai conseguir emplacar essa pauta no Congresso, uma aprovação seria muito difícil, a medida realmente deve caducar em julho”, concluiu Pires.