Por Bruno Andrade e Patricia Lara
A principal mensagem dos dados da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de hoje é que ela volta a justificar as sinalizações mais duras do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Na véspera, Campos Neto explicou em entrevista exclusiva ao Faria Lima Journal (FLJ) que vê desafios em relação à possibilidade de redução dos juros antes do esperado.
Segundo ele, “os núcleos da inflação permanecem elevados”. “Isso acontece devido à difusão da inflação pelos setores e às fortes pressões subjacentes em segmentos com preços mais rígidos, como os de serviços”, disse Campos Neto ao FLJ.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,61%, ante 0,71% na medição de março. Segundo o TC Consenso, o mercado esperava uma variação mensal de 0,55%, de acordo com a mediana das 21 projeções colhidas.
A alta de 0,61% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril é um “balde de água fria” para aqueles que apostavam em uma queda da Selic em breve. Essa é a avaliação do mercado, como um todo, apropriadamente confirmada pelo economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo. “É um dado que surpreende negativamente. Eu esperava que a variação seria de 0,54%, próximo do consenso do mercado”, afirmou.
Mercado reforça tese de Campos Neto
Já o economista-chefe do BNP Paribas, Gustavo Arruda, “quando olhamos para os núcleos e medidas de serviços, todas elas pioraram um pouco ou até, razoavelmente, bastante”, disse
“O IPCA deixa uma mensagem mais em linha com o comunicado do Banco Central de que não é hora de se discutir corte de juros, segundo o economista. “Deixa também algum desapontamento para quem esperava que os números pudessem aumentar a probabilidade de corte nas próximas reuniões”, acrescentou.
O BNP só vê espaço para corte da taxa básica Selic em 2024, e não alterou cenário após o dado. “Continuamos vendo inflação desancorada e não vemos motivos para o Banco Central se antecipar e começar a cortar juros”, declarou Arruda
Ele comentou ainda que a desinflação acontece de forma não linear. “Embora a redução de cerca de 10% para 5% tenha sido mais rápida, a redução de 5% para 2%, que em geral é o valor das metas nos países avançados, pode levar mais tempo e ter custo mais elevado”, afirmou Campos Neto ao Faria Lima Journal.
Por fim, ele disse que essa não linearidade representa um desafio para os bancos centrais.
“Os BCs veem um debate crescente sobre os custos, em termos de atividade econômica, de trazer a inflação para as suas metas”, concluiu o presidente do BC.