Bolsas externas sobem com foco em inflação e investidor local repercute regra fiscal

Por: Patrícia Lara

O ambiente externo traz sinais positivos nas bolsas antes da divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos e com sinais de desaceleração das pressões dos preços na Zona do Euro nesta última sessão do primeiro trimestre. Mas o preço do minério de ferro voltou a subir, após índices de atividade acima das expectativas na China, que confirmam que a economia do principal parceiro comercial do Brasil seguiu firme após o alívio das restrições à pandemia.

O clima contribui para balizar os ativos domésticos, após uma recepção favorável dos investidores ao anúncio do novo arcabouço fiscal, ainda que analistas façam ressalvas sobre as projeções de receita e capacidade dos novos mecanismos para evitar o descontrole das contas públicas. As regras são mais flexíveis em relação ao Teto de Gastos e ainda precisam ser formuladas em uma proposta para serem votadas no Congresso. Nesta sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tem uma série de reuniões agendadas com economistas de gestoras e bancos em São Paulo, um dia após a apresentação das novas regras.

Mesmo com análises divergentes sobre o marco fiscal, o Ibovespa encerrou a sessão da última quinta-feira em alta pelo quinto pregão consecutivo, reduzindo a perda no mês para 1,16%. O índice caminha para encerrar o trimestre com queda de mais de 5%.

No exterior, as bolsas europeias e os futuros de NY sobem. A inflação está em foco. Nos Estados Unidos, sai o resultado de fevereiro do Índice de preços dos Gastos com Consumo Pessoal, o PCE, às 9h30. O consenso aponta para uma desaceleração do núcleo do dado, que exclui a variação de alimentos e energia, para 0,4%, após alta de 0,6% em janeiro.

Na Zona do Euro, os preços tiveram uma desaceleração acentuada, com a ajuda da queda dos custos de energia, ainda que o núcleo siga teimosamente alto. Dados ainda preliminares de março divulgados pela agência de estatísticas Eurostat mostraram alta anual da inflação de 6,9% em março, o menor nível desde fevereiro de 2022, ante 8,5% em fevereiro. O dado ficou abaixo do consenso, que apontava para 7,1%. Na contramão, o núcleo do índice, que exclui os preços voláteis de energia, alimentos, álcool e tabaco, atingiu o recorde de 5,7%, ante 5,6% no mês anterior.

No mercado de câmbio, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas pares, opera em leve alta.

Os rendimentos dos títulos de dívida do Tesouro dos EUA sobem. Na véspera, autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, descartaram projetar se a autoridade monetária elevará os juros básicos dos Estados Unidos em maio, diante do estresse financeiro ocasionado pela falência do Silicon Valley Bank, em meados de março. Hoje, há nova fala de um dos chamados “fed boys”, que pode ajudar nos ajustes das expectativas dos investidores. O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, discursará em evento às 16h05.

Na China, o Índice de Gerentes de Compras do setor manufatureiro NBS caiu para 51,9 pontos em março, de 52,6 pontos em fevereiro, quando atingiu o maior nível em 11 anos. Mas o dado superou o consenso, que era de 51,5 pontos, e segue acima do patamar de 50 pontos, o que indica expansão da economia chinesa.

O indicador deu suporte aos contratos futuros de minério de ferro, que se valorizaram e marcaram o segundo ganho trimestral consecutivo de preços devido às expectativas de melhora da demanda de aço na China, além do suporte de restrições de oferta. O contrato para maio encerrou a sessão na Bolsa de Dalian em alta de 1,2%, a 907 iuanes, o equivalente a US$132,13 a tonelada, ampliando o ganho trimestral para mais de 6%, segundo a Reuters.

O petróleo opera perto da estabilidade, enquanto os contratos referenciais da commodity caminham para o pior desempenho mensal desde novembro. O contrato do Brent ostenta queda mensal de preço ao redor de 5% e o WTI, de 3%, com a crise bancária que movimentou o mês de março esvaziando o ímpeto da commodity.

Na agenda doméstica, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de evento aberto à imprensa, e profere palestra no evento “Mulheres e homens construindo um setor público com mais equidade”, promovido pelo Tribunal de Contas da União, em Brasília. Ontem, Campos Neto disse que o BC não teve tempo de analisar o texto final do arcabouço fiscal, mas afirmou que as propostas pareciam razoáveis.

Entre os indicadores, hoje saem dados de desemprego da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, além de resultados fiscais.

O mercado de câmbio tem ajustes para formação da Ptax do fim do mês, o que pode trazer volatilidade.

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio cedia 0,03%, a US$79,25 o barril.

O Bitcoin recuava 0,80% nas últimas 24 horas, a US$27.907; o Ethereum cedia 0,14% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, ETF que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,40% no pré-mercado americano, após avançar 2,44% ontem.

Os contratos de juros futuros na B3 podem prolongar o alívio visto na véspera após a apresentação da proposta de novas regras fiscais.

DESTAQUES

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), disse ontem que o relator do arcabouço fiscal deve ser um congressista do seu próprio partido, o Progressistas, embora tenha dito que isso ainda não foi acertado. O parlamentar afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), explicou pela manhã, durante reunião no Senado, que falta fazer alguns ajustes no texto das novas regras fiscais, mas afirmou que a proposta é um bom começo. (Mover)

As vendas no varejo da Alemanha recuaram 1,3% em fevereiro ante janeiro, segundo dados publicados nesta sexta-feira, pela Destatis, como é conhecida a agência de estatísticas do país. Em relação a igual mês do ano passado, as vendas no setor varejista alemão sofreram contração de 7,1%. (Financial Times)

No Japão, a rodada de indicadores mostrou um desempenho da economia acima do esperado. A produção industrial japonesa teve crescimento de 4,5% em fevereiro, no comparativo mensal, ante consenso de 2,7%. As vendas do varejo subiram 6,6%, no comparativo anual, ante consenso de 5,8%. (Agências)

O Banco Central do Egito elevou suas taxas de juros em 200 pontos-base, com a taxa de empréstimo subindo para 19,25%, em medida para conter a inflação. (Reuters)