Por Luciano Costa
As ações da 3R Petroleum (RRRP3) despencaram nesta segunda-feira na B3, após a companhia ter anunciado no domingo um aumento de capital de entre R$600 milhões e R$900 milhões. A medida, que surpreendeu analistas de mercado que seguem a empresa, pode diluir acionistas que não participarem da operação.
Os papéis ordinários da 3R desabaram 15,7%, a R$ 27,71, maior queda do índice Ibovespa. Na mínima do dia, eles chegaram a recuar mais de 17%, a R$ 27,18 cada.
O aumento de capital da 3R deve movimentar o equivalente a 9% a 10% do valor de mercado da companhia. O preço de emissão das ações foi fixado em R$24,45 cada, um desconto de 20% em relação aos últimos trinta pregões até 11 de abril, segundo afirmou a equipe do Goldman Sachs, liderada por Bruno Amorim.
“Segundo o anúncio, a diluição potencial resultante da emissão para os acionistas que não subscreverem ações no aumento de capital será de 10,8% a 15,3%, dependendo do número de papéis efetivamente emitidos”, escreveram, em relatório hoje.
“Vemos o anúncio de hoje como uma surpresa dado que, em nossa visão, a companhia já havia assegurado financiamentos para custos com aquisições neste ano”, acrescentou o time do banco americano, projetando reação negativa do mercado.
Em teleconferência com investidores e analistas nesta manhã, o diretor financeiro da 3R Petroleum, Rodrigo Pizarro, defendeu que a necessidade de recursos da companhia “era bem óbvia”, tendo em vista a previsão de conclusão da aquisição do Polo Potiguar, da Petrobras, provavelmente em meados de maio.
Pizarro explicou que a 3R optou pelo aumento de capital para não precisar captar dívidas em um “cenário caro”. Além disso, a companhia desistiu de buscar parceiros para o fechamento da compra de Potiguar, possibilidade cogitada antes.
“É um volume relativamente pequeno de injeção de capital, vis a vis o tamanho da companhia em valor de mercado”, disse Pizarro, acrescentando que o desconto oferecido no valor da ação “é um estímulo para que todos acionistas exerçam seu direito de preferência” na operação.
MERCADO REAGE MAL
Um analista de uma grande corretora disse à Mover que a tendência é que as ações da 3R caiam a níveis próximos dos R$24,45 definidos na operação de aumento de capital. Essa fonte questionou a forma de comunicação sobre a transação, bem como sua realização antes do fechamento definitivo da compra de Potiguar junto à Petrobras, ainda vista como sujeita a alguma incerteza.
“O ´timing´ foi ruim, e a comunicação também. Você viu algum analista de sell side falando que a empresa ia precisar emitir ações? Ninguém. Aí fica uma pulga atrás da orelha”, afirmou a fonte, que acompanha as ações da 3R.
O analista do TC Matrix, Arlindo Nonato, também disse ver como “inesperado e um tanto injustificado” o aumento de capital da 3R, ao avaliar que a companhia poderia desenvolver suas operações sem levantar grandes volumes no mercado.
“Outro ponto que nos incomodou bastante nesse aumento foi o elevado deságio em relação ao preço em tela, sob a justificativa de fazer uma oferta atraente. Além de aumentar o fator de diluição, entendemos que o mercado tenda a ver com mais ceticismo a tese da companhia”, disse Nonato à Mover.
O Goldman Sachs tem recomendação de compra para as ações da 3R, com preço-alvo de R$58,40 para os papéis da companhia.
Segundo Pizarro, o Polo Potiguar representará cerca de 40% do portfólio de ativos da companhia quando a transação for concluída.
O executivo disse que as últimas condições precedentes para fechamento da aquisição junto à Petrobras devem ser fechadas ainda neste mês. “Aí passamos a ter 20 dias úteis para combinar a data de ´closing´ com a Petrobras”, explicou.