Nesse texto, vamos aprender como calcular a taxa interna de retorno implícita nos preços das ações, o qual você pode utilizar como métrica de auxílio na tomada de decisão nos seus investimentos. Para um melhor entendimento, vamos por partes:
- A taxa interna de retorno: forma de cálculo e interpretação
- Taxa interna de retorno implícita no preço: como calcular na prática
- Exemplificando com uma ação da B3
- Reflexões para investidores
Boa leitura!
O que é a taxa interna de retorno?
A taxa interna de retorno (TIR) é a taxa que iguala os fluxos de caixa de um investimento a zero. Em outras palavras, é a taxa que faz com que o valor presente líquido (VPL) do investimento seja nulo. Ou ainda, expresso na fórmula matemática abaixo:
Como regra de bolso, podemos analisar a TIR da seguinte forma:
- Se a TIR for superior ao custo de capital (WACC por exemplo), o projeto tem capacidade de criar valor;
- Se a TIR for inferior ao custo de capital, então o projeto destrói riqueza
Naturalmente, nós buscamos projetos que agreguem valor, mirando sempre uma TIR positiva, e, além disso, superiores ao custo de oportunidade, ou seja, TIR > WACC.
Taxa interna de retorno implícita no preço
Ao avaliar empresas, o que estamos fazendo é avaliar uma carteira de diversos projetos unidos em um só ativo, a empresa. Nesse sentido, nós podemos utilizar a taxa interna de retorno para nos auxiliar em nossas decisões de investimentos.
Com a fórmula que apresentei acima, nós precisamos das seguintes variáveis para calcular a TIR implícita no preço de uma ação:
Investimento – saída de caixa necessária para o projeto, no caso, a saída de caixa necessária para adquirir a empresa
Custo de capital – WACC ou Ke, a depender dos parâmetros que você esteja utilizando para avaliação
Fluxos de caixa a serem gerados pela empresa
Seguindo esse racional, podemos mensurar a taxa interna de retorno implícita no preço de uma ação como:
Entenda mais sobre o conceito de fluxo de caixa nos artigos abaixo:
Um ponto interessante refere-se aos fluxos de caixa. Lembre-se que a TIR exige um período n para geração de caixa, e na prática a empresa não possui uma vida útil definida, onde precisamos estabelecer um valor em perpetuidade.
Uma forma de atenuar isso, é assumir a taxa interna de retorno implícita do negócio considerando o valor da perpetuidade no último período estimado em nosso modelo. Podemos interpretar esse pressuposto como o valor pelo qual esperamos vender o negócio ao final do período explícito da avaliação. Para calcular a perpetuidade usamos:
Assim, nós temos um fluxo de caixa com o seguinte modelo:
Para o nosso exemplo acima, a nossa TIR calculada seria de 11,94%.
Exemplos práticos
Calcular taxa interna de retorno da LOGN3
Para deixar tudo mais claro, vamos avaliar a taxa interna de retorno implícita no preço das ações da Log-In (LOGN3). Lembrando que este exemplo possui apenas fins educativos, e não deve ser usado como recomendação de investimentos. Vamos às premissas (ultra simplificadas):
- Período de alto crescimento de 3 anos a 12% a.a.
- Crescimento intermediário a 7,12% do ano 4 ao ano 10 da projeção
- Crescimento na perpetuidade de 2,5%
- WACC de 9,8%
- Market cap de 1,56 bi
- Dívida líquida de 0,95 bi
- Enterprise Value de 2,5 bi
Para facilitar o seu entendimento, estou deixando a planilha que eu utilizei disponível para download:
Com esses dados, nós podemos estimar os fluxos de caixa da empresa de forma razoável. Aqui usei o fluxo de caixa para a empresa, então para calcular a TIR nós usaremos o Enterprise Value.
Fórmula no Excel
Com o Enterprise Value atual, os fluxos de caixa estimados e o valor da perpetuidade, agora nós podemos calcular a taxa interna de retorno implícita. No Excel, nós usamos a fórmula “TIR”:
Portanto, de acordo com os nossos parâmetros e estimativas, a ação LOGN3 possui uma taxa interna de retorno implícita na faixa de 14%. Lembrando da nossa regra de bolso, como a TIR é superior ao custo de capital, nós podemos interpretar que este é um investimento que tem a capacidade de criar valor.
Importante: Assumimos que o Fluxo de Caixa da Empresa é igual ao Fluxo de Caixa do Acionista, porém, na prática, não é sempre assim que funciona.