Em entrevista à TC News

Tirar gastos com segurança de arcabouço seria "um erro", diz Felipe Salto; "contabilidade criativa começa assim"

Tirar gastos com segurança de arcabouço seria "um erro", diz Felipe Salto; "contabilidade criativa começa assim"
Agência Senado

Por: Luciano Costa e Leonardo Levatti

São Paulo, 19/11/2025 – Uma eventual retirada de parte das despesas com segurança pública da meta fiscal, possiblidade levantada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, nesta semana, seria “um erro”, e “desastrosa”, alertou o economista-chefe e sócio da Warren Investimentos, Felipe Salto, em participação na TC News.

Lewandowski ventilou a possível nova exceção ao arcabouço fiscal durante evento do Jota, dizendo que a ideia estaria sendo avaliada pelo presidente Lula, poucos dias antes de o presidente sancionar, nesta quarta-feira (19/11), lei que permite tirar da meta até R$5 bilhões por ano em gastos com “projetos estratégicos de defesa” nos próximos cinco anos.

“Se essa decisão, pré-anunciada, se confirmar, é desastrosa. Porque, como eu disse quando foi aprovada a questão da não incidência das regras fiscais sobre os gastos com defesa, a contabilidade criativa começa assim”, disse Salto, durante entrevista à TC News.

“E sempre há uma razão nobre. Então é a segurança pública, a defesa. Daqui a pouco, outras áreas vão ter, obviamente, a mesma ideia. A questão que se coloca é por que não cortar outras despesas para que se possa adequar o orçamento a essas necessidades, essas urgências, emergências”, acrescentou.

“A primeira ideia que surge é sempre retirar os gastos da incidência das regras fiscais. Ora, então para que elas servem?”, questionou Salto. “A responsabilidade fiscal é um preceito constitucional tão relevante quanto é guarnecer essas áreas relevantes de políticas públicas, como é o caso da segurança”.

AJUSTE OBRIGATÓRIO
Salto elogiou os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, incluindo medidas de cortes de despesas aprovadas ontem no Senado, que antes constavam da MP 1303, do IOF, e disse que “vão na direção correta”, assim como projeto do senador Renan Calheiros para elevar taxação de bets e fintechs, mas defendeu que qualquer que seja o próximo presidente nas eleições de 2026, será preciso um ajuste de contas em 2027.

“O quadro fiscal é tão grave, e isso vai se tornar ainda mais evidente, a partir do ano que vem. Aquele que ganhar as eleições não vai ter como prescindir de um programa de ajuste fiscal”, disse o economista-chefe da Warren.

Ele disse que a Warren tem mostrado em relatórios algumas possíveis medidas de ajuste, incluindo desvinculação de despesas com saúde e educação, mudanças no FUNDEB, separação da política do salário mínimo dos benefícios sociais e previdenciários e revisão de subsídios, além de retomada de discussões sobre reforma da Previdêcia, inclusive dos militares. Revisões de super salários e de programas como o abono social também estão no cardápio.

“Mesmo em um cenário-base em que você fala um ajuste mínimo, digamos assim, isso já tem respostas, efeitos, resultados num prazo razoavelmente curto”, defendeu.

MASTER
Questionado sobre a decisão do Banco Central de decretar liquidação extrajudicial do Banco Master, Salto disse que a medida “está correta”, e “mostra a importância de termos um BC atuante e autônomo, como é hoje determinado pela lei”.

Ele disse que poderiam caber discussões sobre se a medida foi tomada no momento adequado — poderia ter sido antes–, mas apontou que isso poderia levar a um debate sobre modernização regulatória para permitir acompanhar o ritmo “frenético” em que as coisas acontecem hoje no setor.

“Cabe também destacar que, no nosso caso, aqui na Warren, desde agosto de 2023 já vínhamos alertando os clientes para essa questão do Master, e cortando qualquer tipo de recomendação ou decisão de alocação nesse tipo de ativo”, disse Salto.