Para Lula, juro serve para combater inflação de demanda, e não cumprir meta

Lula repete críticas ao BC; mais cedo anunciou aumento do salário mínimo e da faixa de isenção do IR

Agência Brasil
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Por: Lucinda Pinto e Machado da Costa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira em entrevista à CNN que uma alta da taxa básica de juros, a Selic, só faz sentido  quando houver inflação de demanda, o que, segundo ele, não seria o caso do Brasil.

Em conversa com a jornalista Daniela Lima, Lula não mostrou um único sinal de pacificação da guerra travada pelo governo contra o Banco Central. O presidente disse que o chefe da autarquia, Roberto Campos Neto, só permanece no cargo devido ao seu mandato – que vai até 2024. Ele também falou que se o economista “topar” vai leva-lo para conhecer “lugares mais miseráveis”. Ao fazer isso, ele ressalta a origem de Campos Neto, que veio de família abastada.

“Teria até direito de brigar, pois não foi indicado por mim”, acrescentou Lula.

“A cabeça dele é muito diferente da minha, mas ele tem mandato”, declarou o presidente. Lula manteve as críticas à política monetária conduzida pelo BC e disse que, caso fique claro que a independência da autarquia não provocou uma melhora da economia, será preciso revê-la.

“Vamos ver qual é a utilidade da independência do BC. Se foi extraordinariamente positiva, não tem por que [revê-la]”, afirmou. “Mas se não melhorar a economia, temos que mudar.”

Ele ressaltou que a Selic acaba prejudicando o crescimento econômico, no momento em que o país vive uma crise de crédito. “Não tem crédito neste país. Somos um país capitalista sem crédito. Qual é o empresário que vai investir pagando 13,75%?”

Questionado sobre sua visão sobre declarações feitas recentemente pelo presidente do BC que indicaram a disposição de se aproximar do governo, Lula disse que cabe ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fazer esse papel. “Acho que o Haddad tem toda a disposição de conversar com o presidente do BC”, afirmou. “Se eu não posso conversar sobre taxa de juros, sobre emprego… então, sobre o que eu vou conversar?”, disse, acrescentando que só esteve com Campos Neto “duas vezes”.

Para Lula, o importante é que Campos Neto “cumpra a meta de inflação, e que ele tenha noção de que a meta não pode ser a razão para ele subir o juro, mas sim a inflação de demanda.”

Apesar das críticas, Lula disse que não tem interesse em brigar com o BC. “Eu até teria o direito, porque ele não foi indicado por mim, mas pelo Bolsonaro. Mas ele está lá, tem um mandato”, afirmou, mencionando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lula reiterou ainda que deseja que o país crie empregos para a roda da economia voltar a girar. E que quer que o salário mínimo seja reajustado a partir da variação da inflação e do crescimento do Produto Interno Bruto.

ISENÇÃO DO IR E AUMENTO DE SALÁRIO MÍNIMO

Mais cedo, a CNN divulgou trechos da entrevista em uma materia em que Lula anuncia o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 2.640, ele também disse que vai elevar o salário mínimo de R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de 1º de maio.

“Vamos começar a isentar em R$ 2.640 até chegar em R$ 5 mil de isenção. Tem que chegar, porque foi compromisso meu e vou fazer”, disse o presidente segundo trecho da entrevista antecipado pela CNN. A faixa de isenção equivale a dois salários mínimos, considerando o aumento previsto. 

De acordo com o presidente, em maio, haverá não só um reajuste, mas também a reintrodução da política de salário mínimo utilizada durante os governos petistas, a qual considera o aumento da inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Lula acrescentou que as mudanças estão alinhadas com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Trabalho, Luiz Marinho. A íntegra da entrevista foi ao ar às 18h (no horário de Brasília), no canal da emissora.

(Colaboração de Patrícia Vilas Boas)