São Paulo, 13/12/2024 – O dólar renovou as máximas da sessão por volta das 14h30 de hoje, minutos após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicar em rede social vídeo que o mostra caminhando ao lado de um médico no hospital, após ter sido internado nesta semana para cirurgia, seguida de procedimentos médicos, devido a um sangramento no cérebro decorrente de recente acidente domiciliar.
Também por volta das 14h30, os vértices da curva de juros avançaram para as máximas intradiárias, com traders afirmando à Mover que o mercado operava, nesta sexta-feira, à base de “boletins médicos” do estado de saúde do presidente, como já havia ocorrido antes na semana.
“É a realidade. Ele posta um vídeo bem e os DIs disparam, dólar bate máxima”, disse um operador.
No final do pregão de quarta-feira, o índice avançou, alcançando patamar superior aos 130 mil pontos, e o dólar recuou abaixo de R$6,00 com notícias de que Lula passaria por novo procedimento médico. O gestor Dan Kawa avaliou que “o mercado viu (ou interpretou) o problema de saúde de Lula como um empecilho para uma possível reeleição em 2026”.
Com a ressalva de que torce pela recuperação de Lula, e faz apenas uma leitura de mercado, Kawa disse que, como o mercado vê a política econômica do governo como errada, investidores veem como positivo qualquer sinal de uma mudança de governo, mesmo que só em 2026.
Tanto que fez preço no mercado, na quinta-feira, uma afirmação do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, garantindo que Lula será candidato à reeleição. A afirmação estressou o dólar, que reverteu trajetória de queda até então, e pressionou os juros futuros.
Na publicação de hoje, no “X”, Lula disse estar “firme e forte”, e acrescentou que deve estar pronto para voltar ao trabalho “em breve”.
BC INTERVÉM
Na sequência à publicação, com o dólar renovando máximas nesta tarde, o Banco Central anunciou intervenção no câmbio via leilão à vista, na primeira operação do tipo com mercado aberto desde abril de 2022.
É difícil atribuir se o movimento do BC esteve ligado à disparada do dólar em razão do estado de saúde do presidente, mas alguns operadores disseram não ver disfuncionalidade que justificasse tal medida. Em eventos recentes, diretores do BC disseram que a autarquia só atuaria no câmbio em caso de “disfuncionalidade”.
O BC vendeu US$845 milhões no leilão, tendo aceitado nove propostas, com uma taxa de corte de 6,0200, de acordo com comunicado reportado pelo sistema BC Correio. O dólar futuro imediatamente recuou após o anúncio da operação. Às 15h58, operava em alta de 1,21%, cotado a R$6,058, após ter tocado máxima intradiária de R$6,085, às 14h37.
O contribuidor do TC, Alex Martins, atribuiu a intervenção do BC, via leilão à vista, pelo tradicional período de fim de ano, com envio de remessas de lucros para o exterior.
“Essa saída do fim de ano aumenta, e provavelmente o mercado já não quer mais (leilão de) linha… está demandando mais um dólar spot (à vista), até olhando para o ano que vem, não está confiante de que o balanço de risco pode melhorar. Então (operadores) não querem o compromiso de devolver os dólares, quer sair, mas sem obrigação de devolver”, explicou Martins. O leilão de linha, outra modalidade de intervenção do BC, é aquela com compromisso de recompra, e já fora utilizada nesta semana pela autarquia.
O BC já havia realizado uma intervenção, via leilão à vista, em 30 de agosto deste ano, ofertando US$1,5 bilhão, em movimento atribuído, por operadores, ao rebalanceamento do índice MSCI Brazil na ocasião. Já com o mercado aberto, a última intervenção do BC, via leilão à vista, ocorreu em 22 de abril de 2022, quando ofertou US$571 milhões.