Por Luciano Costa
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dado sinais de que deseja retomar a construção da usina nuclear de Angra 3, projeto da estatal federal ENBPar em parceria com a Eletrobras (ELET3), apesar de notícias recentes de que o projeto não deve entrar no Plano de Aceleração do Crescimento, disseram à Mover duas fontes próximas do assunto.
Na Eletrobras, ainda não chegou nenhum aceno de Brasília sobre mudança nos planos de levar adiante a obra da terceira central nuclear brasileira, disse uma das fontes, que pediu anonimato para falar livremente sobre o assunto.
Angra 3, inclusive, foi alvo de algumas reuniões recentes com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) e a Eletronuclear, subsidiária da ENBPar – a empresa pública criada para ficar com ativos da Eletrobras que continuaram estatais após a privatização da empresa. Segundo a fonte, “nessas ocasiões, tudo parecia normal”.
“Dizem que não vai entrar no PAC, mas isso não significa que não vão fazer”, afirmou essa fonte. Ela lembra que o próprio Ministério de Minas e Energia participou de reuniões recentes sobre a usina nuclear, “em nível técnico”.
Uma segunda fonte que acompanha o andamento de Angra 3 disse que o projeto “não entrou no PAC agora em razão de algumas inconsistências”, mas não detalhou quais seriam os problemas. A entrega do empreendimento é considerada “fundamental” para manter a viabilidade da ENBPar, de acordo com essa fonte.
Analistas do Itaú BBA estimaram em relatório na semana passada que uma desistência de Angra 3 poderia gerar custos de R$13,3 bilhões, entre gastos com desinstalação, multas e pagamento de financiamentos já tomados. O impacto para a Eletrobras, considerando que o governo federal e a ENBPar não assumam o passivo, poderia atingir R$7,8 bilhões. “Pode entrar no PAC em um segundo momento. Mas com PAC, ou sem PAC, vai seguir em frente”, afirmou.
Procurada, a Eletrobras não respondeu de imediato a pedidos de comentários. O Ministério de Minas e Energia também não retornou até o momento.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estimou em maio que a conclusão de Angra 3 exigiria cerca de R$20 bilhões em investimentos adicionais. Para uma das fontes, a comparação de valores mostraria a viabilidade de concluir os 35% restantes do projeto, mesmo com o país hoje enfrentando certa sobra de energia.
A Eletrobras projeta atualmente que Angra 3 deve iniciar operações em meados de 2029, com a retomada das principais obras em 2025. No momento, o BNDES apoia a empresa e a ENBPar na definição de um modelo de negócios que permita atrair investimentos e financiamento para a conclusão da usina.
“Ficamos surpresos com a notícia de que Angra 3 poderia não ser desenvolvida, dado que nossas recentes interações com membros do governo e a empresa sugeriam o contrário. Dito isso, destacamos que nenhuma decisão foi tomada e ainda há uma chance de Angra 3 avançar”, escreveu a equipe liderada por Marcelo Sá.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 17H27, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.