13/05/2023 – Nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, o maior especialista em pesquisas da maior democracia mundial, Nate Silver, no dia da eleição, cravou que a chance de Hillary Clinton se eleger com base em pesquisas de mais de duas dezenas de institutos era de 71,4 %. O resultado daquele pleito, sabemos, deixou Nate a ver navios. Trump venceu as eleições e habita até hoje o palco político americano.
Pesquisas, portanto, não são infalíveis
Temos o exemplo disso hoje (13/05) no Brasil. Pesquisa Genial/Quaest mostra que, para 55% dos brasileiros, Lula não merece um segundo mandato. Mais: em um eventual segundo turno, Lula venceria o governador paulista Tarcísio de Freitas com placar apertado de 46% a 40%.
A pesquisa tem problemas.
Perguntar sobre o merecimento de um segundo mandato poderia até ser uma boa sacada. Mas abrir o questionário com essa pergunta é induzir o entrevistado a um dilema exótico. Na realidade, apenas os eleitores “polarizados” têm a resposta na ponta da língua. O eleitor neutro tende a dizer “não”, pois, afinal, político nenhum merece algo, no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo.
Mas esse não é o principal problema da pesquisa.
O instituto que a faz continua mantendo, em sua ponderação, apenas 30% de pessoas com renda familiar de 0-2 Salários Mínimos (contingente em que Lula tem mais votos). Os outros institutos, do Ipespe ao Datafolha, consideram esse contingente muito mais amplamente (conforme tabela acima).
Vejamos um exercício matemático básico. A pesquisa mostrou Lula seis pontos à frente de Tarcísio num eventual segundo turno em 2026. No entanto, se o tamanho do eleitorado de baixa renda fosse o adotado pelo Datafolha, Lula venceria Tarcísio por 51 a 34. E quanto a resposta sobre Lula merecer ou não um segundo mandato, o “não merece” cairia de 55% para 50%.
Problemas metodológicos à parte, a pesquisa mostra, sim, um cenário dividido, repetindo um padrão de pesquisas anteriores em que o presidente Lula não desaba, mas não consegue mais oxigênio de popularidade.
Claudio Couto (FGV), um dos mais influentes cientistas políticos no mercado, disse ao FLJ que a pesquisa Genial/Quaest em grande parte se explica pela polarização. “Hoje, fica muito estreito o espaço para avaliação positiva ou negativa de qualquer um dos que ocupam os dois lados da polarização (a esquerda com Lula e o PT ou a extrema-direita com o bolsonarismo)”, diz ele. “O piso e o teto dos dois ficam comprimidos pelo outro lado. Por isso creio que por muito tempo não teremos quem consiga repetir as altas avaliações de antes de 2013, ou as baixíssimas que Dilma teve em 2015/16.”