"Acabamos com política criminosa", diz ministro de Minas e Energia

Alexandre Silveira afirma que Petrobras precisa ajudar em combustível, mas está no caminho certo

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Marcio Aith e Luciano Costa

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), disse ao Faria Lima Journal (FLJ) que a Petrobras (PETR4) precisa dar uma contribuição para manter os preços dos combustíveis em patamar adequado no Brasil. Chamou de “criminosa” a política do Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobras em 2016 e extinta pelo atual governo em maio passado. E fez um aceno positivo à nova política comercial da estatal para a gasolina e o diesel, que “abrasileirou” os preços dos combustíveis, em um momento em que a companhia é pressionada pelo mercado devido ao atual movimento de alta nos preços internacionais do petróleo. 

“Desde o início do nosso governo, temos buscado ‘abrasileirar o preço’ dos combustíveis. E conseguimos acabar com aquela política de paridade internacional que era criminosa contra brasileiras e brasileiros”, disse Silveira em entrevista exclusiva ao FLJ. Essa é a primeira parte do conteúdo, e a próxima será disponibilizada na segunda-feira (7).

“Nós entendemos que a Petrobras, respeitada sua governança e sua natureza jurídica, tem que ser a grande indutora da competitividade de preços de combustíveis, em especial de combustíveis derivados, como a gasolina, o gás de cozinha e o diesel”.

Silveira definiu a nova prática comercial da Petrobras, anunciada em maio, como “preço de competitividade interna”, em oposição ao “preço de paridade de importação”, que a empresa dizia seguir antes. “Acredito que estamos no caminho certo. Para que o mercado seja livre. Para que nós tenhamos redução no preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha”, afirmou. 

Desde o anúncio da nova política, a Petrobras decidiu por uma redução de 5% na gasolina, em junho, mas, desde então, não mexeu mais nos valores, embora o petróleo Brent tenha se valorizado desde então, da faixa dos US$75 por barril para US$85 atualmente, devido a uma sólida demanda e cortes de oferta da Arábia Saudita e Rússia, pressionando o diesel e a gasolina nos mercados internacionais.

Analistas do Goldman Sachs avaliam que, após a definição da nova política de dividendos da estatal, na última sexta-feira (28), o foco do mercado nos próximos dias será a possibilidade de reajuste dos combustíveis. Um eventual aumento seria muito bem vindo pelo mercado, enquanto a manutenção da atual defasagem, acima de 20% ante os preços externos, deve começar a gerar desconforto entre investidores.

Após a divulgação da entrevista ao FLJ, o ministro preocupou-se em desfazer qualquer ideia de que o governo tem ingerência na gestão dos preços da Petrobras. Silveira disse à GloboNews que o governo tem “lucidez” de que qualquer intervenção na política da estatal iria afugentar investidores e poderia eventualmente comprometer o suprimento interno de combustíveis, que depende de importações.

“Estamos atentos a essa política de preços, para que ela não possa, em nenhum momento, nem comprometer o caixa da Petrobras, comprometer sua rentabilidade numa média internacional razoável, e muito menos faltar suprimento ao consumidor”, disse.

GÁS É PRIORIDADE

Outro foco da gestão de Silveira, que participou do primeiro governo Lula, a partir de 2003, e depois se tornou deputado e senador, é o aumento da oferta de gás natural, alvo do programa Gás para Empregar, hoje em discussão na pasta. 

As avaliações sobre medidas para o gás, no entanto, têm gerado trocas públicas de farpas entre Silveira e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, uma vez que a estatal e outras empresas hoje re-injetam boa parte da produção do insumo nos campos, para aumentar a produção de petróleo, mais valioso. 

“As discussões de como esses produtores podem re-injetar menos gás natural nos reservatórios, os principais desafios, as dificuldades e as soluções que podem ser criadas para limitá-las estão sendo realizadas”, disse Silveira ao FLJ, acrescentando que um grupo de trabalho deverá apresentar em 120 dias um conjunto de propostas de medidas nesse sentido. 

“Nossa expectativa é de que, em 2029, o Brasil atinja a posição de quinto maior produtor de petróleo do mundo, com cerca de 5,4 milhões de barris/dia, quando produzirá 320 milhões de m³/dia de gás natural”, afirmou. Em junho, o Brasil produziu 3,36 milhões de barris de petróleo por dia, além de 152 milhões de m³/d de gás.

Para viabilizar o Gás para Empregar, que, segundo o governo, geraria investimentos de R$94 bilhões, o plano é usar a estatal Pré-Sal Petróleo SA, que Bolsonaro queria privatizar, trocando barris de petróleo aos quais a empresa tem direito, devido a leilões de áreas realizados sob regime de Partilha de Produção, como moeda de troca por gás. 

A ideia é que a PPSA “possa dar lastro econômico para viabilizar a construção de infraestruturas, como, por exemplo, na construção, operação e manutenção de gasoduto”, explicou Silveira. 

Segundo ele, a PPSA deve ser o “braço executor” do programa voltado ao gás, que terá objetivo de “reindustrialização” e foco em segmentos específicos com consumo intenso do energético, como a indústria de fertilizantes nitrogenados e outros produtos químicos.