Por que o mercado de criptoativos tem performado tão bem?

Muitos se perguntam por que o mercado de criptoativos tem se descolado dos mercados internacionais, e é uma pergunta pertinente

Unsplash
Unsplash

Por Jorge Souto

Muitos têm se perguntado por que o mercado de criptoativos tem se descolado dos mercados internacionais. É uma pergunta pertinente, pois, desde o início de 2022, a correlação do mercado cripto, representado pelo Bitcoin, com o mercado de equities americano, ficou muito alto. Chegou a bater o recorde histórico, chegando a 0.95. Para aqueles que não estão muito familiarizados com esse mercado, parecia ser natural que essa correlação permanecesse. Porém, acredito que um dos principais catalisadores para esse descolamento foi a liquidez global.

​Durante 2022 ocorreu globalmente um enxugamento muito agressivo de liquidez pelos bancos centrais, que se deu por aumentos nas taxas de juros e diminuição dos balanços dos bancos centrais. Com menor liquidez, mercados de risco, como equities e cripto, tendem a sofrer, e foi o que aconteceu. 

Mesmo quando tínhamos dados macro favoráveis, o mercado performava mal; e quando os dados vinham fracos, as quedas eram exacerbadas.

Entretanto, no final de 2022, mesmo após o evento cataclísmico da quebra da FTX, o mercado cripto começou a demonstrar uma força relativa que há muito não se via. Muitos começaram a questionar qual seria a causa, já que tudo indicava que estávamos entrando numa recessão: lucros e guidances das empresas vieram baixos, e os bancos centrais do ocidente estavam reforçando que iriam continuar subindo juros e apertando a liquidez. 

Estavam olhando para o lugar errado.

Quem está nesse mercado há mais tempo já poderia ter notado que o mercado cripto é bastante influenciado pela liquidez global. Enquanto todos estavam focados no FED e no BCE, no Oriente a história era um pouco diferente. A China começou a reabertura e precisou entregar as metas de crescimento. Para tal, começou a injetar liquidez na economia (barras amarelas no gráfico abaixo). Paralelamente, o BoJ também passou a injetar liquidez na economia para gerar crescimento, apesar dos dados de inflação acima das metas. Não por coincidência o mercado cripto começou a quebrar a correlação com os índices de equities americanos.

Não é apenas no oriente que estamos vendo essa mudança no perfil de liquidez. O governo americano também passou a aumentar a liquidez no mercado. Apesar de o FED manter sua meta mensal de diminuição do seu balanço em U$D 95bi, o Tesouro americano foi forçado a usar sua “Conta Corrente” junto ao FED (chamada de Treasury General Account – TGA), dado que o governo atingiu o teto de endividamento. 

Para negociar um aumento desse teto, o governo democrata agora se depara com um congresso republicano e um senado basicamente dividido entre os 2 partidos, o que torna a negociação mais demorada e difícil. Até que essa situação seja resolvida, o Tesouro será forçado a usar sua conta para financiar os gastos do governo. 

Atualmente a TGA tem por volta de USD 400 bi, que provavelmente serão usados quase em sua totalidade. Vemos esse cenário como benéfico para os criptoativos, mas é importante ficar alerta, pois podemos ver uma alteração nesse cenário de injeção de liquidez durante o ano de 2023 com um novo presidente do BoJ e com um eventual aval do congresso americano para aumentar o teto de endividamento.

Fonte: Citibank