Quando pensamos em pessoas ricas, é comum imaginar um punhado de bilionários do Vale do Silício, magnatas do mercado financeiro ou celebridades empresariais que vivem sob os holofotes. Mas a verdade é bem menos vistosa: a maioria esmagadora dos milionários do mundo real não aparece na mídia, não participa de painéis no SXSW e não tem perfil na Forbes.
Eles estão nas margens — em galpões industriais, rotas de entrega, oficinas, fábricas, empresas de manutenção, distribuição e prestação de serviços. Muitos constroem fortunas sólidas em setores vistos como “sem glamour”. E a grande maioria jamais será reconhecida fora do seu círculo regional.
Esses são os ricos invisíveis — empresários que enriqueceram com negócios tradicionais, muitas vezes considerados banais, mas extremamente lucrativos. A riqueza deles não veio de inovação tecnológica, mas da constância, da execução eficiente e de atender uma necessidade simples do mercado.
O caso de Derek Olson, EUA:
Derek Olson cresceu sonhando em ser dono de uma empresa. Décadas depois, esse sonho se tornou realidade — mas não da forma que ele imaginava. Olson ficou milionário fabricando máquinas que arrancam carpetes de escolas públicas americanas.
“Pense nisso: o colégio médio nos EUA tem mais de 11 quilômetros de carpete. E crianças são… crianças. Então, todo verão as escolas precisam trocar o piso,” diz ele, rindo. Sua empresa, a National Flooring Equipment, com sede em Minnesota, espera faturar US$ 50 milhões este ano. Seu estilo de vida inclui dois Land Rovers, escola particular para os filhos e um mês de férias na Europa — nada mal para alguém que lucra com carpete sujo.
David MacNeil e os tapetes de carro:
Já David MacNeil construiu sua fortuna com tapetes de borracha para carros. A história começa em 1989, quando ele alugou um carro na Escócia e se impressionou com a qualidade dos tapetes. Eram grossos, resistentes e tinham bordas que impediam a água e a lama de escorrer para o carpete do carro.
De volta a Chicago, MacNeil hipotecou sua casa e importou um contêiner com 20 pés de tapetes. Nos primeiros anos, atendeu telefonemas de madrugada, fazia entregas e empacotava os pedidos. Três anos depois, já faturava quase meio milhão de dólares por ano.
Hoje, a WeatherTech tem mais de 1.800 funcionários, fabrica tudo nos EUA e projeta faturamento de US$ 800 milhões em 2025. E MacNeil segue discreto, apaixonado por carros antigos e aviação — seu jato Gulfstream é um dos poucos luxos que exibe.
Larry Fleming: hambúrgueres e cerveja
Outro exemplo é Larry Fleming, de Oklahoma, que começou sua trajetória com franquias do Wendy’s. Mas percebeu que ganhava mais vendendo cerveja. Ele comprou uma distribuidora regional e, ao longo dos anos, foi ampliando sua participação no mercado até dominar 64% da distribuição de bebidas em Oklahoma. Seu negócio, a LDF Sales and Distributing, fatura US$ 250 milhões por ano. E ninguém fora de Muskogee conhece seu nome.
E no Brasil? A mesma lógica se aplica — com suor e criatividade.
A diferença é que, no Brasil, essas histórias quase nunca são contadas.
Márcio Araújo (Litoral Embalagens – Santos/SP)
Márcio começou pequeno. Tinha um Fusca, um porão alugado e um estoque inicial de bobinas de plástico. Passou anos vendendo pessoalmente para padarias e mercearias do litoral paulista. Com o tempo, diversificou: sacolas, caixas térmicas, produtos de limpeza.
Hoje a Litoral Embalagens é fornecedora de atacadistas e redes regionais de supermercado, com uma operação que atende três estados. Nunca deu entrevista, nunca apareceu na mídia. Márcio tem casa no Guarujá, dois filhos estudando no exterior — e um negócio que fatura mais de R$ 30 milhões ao ano.
Regina Torres (Roval Higienização – Recife/PE)
Regina herdou uma pequena lavanderia hospitalar do pai e transformou a empresa em um império de serviços de higienização. Expandiu para a limpeza técnica de hotéis, clínicas, até aviões. Ela descobriu um nicho: grandes clientes com demandas específicas e contratos longos.
Hoje, a Roval emprega mais de 400 pessoas e atende redes como Dasa, Hapvida e Azul. Regina mora na mesma casa há 30 anos, dirige um Corolla blindado e é uma das mulheres mais ricas do Recife. Sem nunca ter aparecido na mídia.
Pedro Soares (TecBrasil Manutenção – Joinville/SC)
Pedro trabalhava em manutenção de máquinas industriais. Cansado de ser mal remunerado, decidiu abrir sua própria empresa. Começou com dois funcionários e uma Kombi. Hoje, a TecBrasil presta manutenção em linhas automatizadas de indústrias têxteis e metalúrgicas em SC, PR e RS.
O negócio fatura R$ 18 milhões por ano com margem líquida de mais de 20%. Pedro se orgulha de pagar bem os funcionários e reinveste pesado. Nunca quis virar “influencer da engenharia” nem abrir o capital. “Negócio bom é o que funciona em silêncio,” diz ele.
As fortunas silenciosas são maioria. Enquanto a mídia se concentra nos nomes chamativos, a verdadeira massa de milionários — nos EUA, no Brasil, no mundo — se forma no dia a dia da economia real. Eles vendem coisas que ninguém presta atenção, resolvem problemas que poucos enxergam e seguem construindo, longe dos holofotes.
Se existe uma lição clara em todas essas histórias, é a seguinte: as oportunidades de enriquecimento estão por toda parte. Estão nas esquinas, nos galpões, nas rotas de entrega, nos setores que ninguém quer olhar porque parecem “simples demais”. O segredo não está em encontrar uma “ideia genial”, mas sim em enxergar o que os outros ignoram — e, acima de tudo, executar com excelência, consistência e visão de longo prazo.
É justamente esse perfil — de empresários discretos, obstinados, atentos às necessidades reais do mercado e comprometidos com a criação de valor — que compõe a imensa maioria dos meus clientes na minha atuação em Wealth Management. São homens e mulheres que constroem riqueza silenciosa, sólida e duradoura. Eles não vendem promessas; vendem soluções. E enquanto o mundo se distrai com as luzes do palco, eles seguem crescendo — no backstage.
Esses são os verdadeiros protagonistas da economia real.
Eles não fazem barulho. Mas fazem muito dinheiro.
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*Bruno Corano é empresário, investidor, economista formado pela UPENN – Universidade da Pennsylvania, sócio controlador da Corano Capital NYC, maior gestora privada brasileira nos EUA.