
“Apesar de a segurança pública ser uma pauta tradicional da direita, a operação do governo do Rio de Janeiro no Complexo da Penha deve abrir uma disputa de narrativas. De um lado, o modelo do governo Lula, que prioriza o combate ao “andar de cima” do crime organizado, focando em mecanismos de financiamento como a lavagem de dinheiro em postos de combustíveis e no sistema financeiro. De outro, o método do governador Cláudio Castro, baseado na lógica de que “bandido bom é bandido morto”, com alto custo humano envolvendo traficantes, policiais e moradores das comunidades”, avaliou o analista político Leopoldo Vieira, da IdealPolitik
Confira a seguir o restante da análise completa de Vieira, colunista do Faria Lima Journal.
“A polarização narrativa fica evidente: enquanto Castro celebra o sucesso da operação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em vez de se limitar a denunciar violações de direitos, convidou o governador a se somar ao enfrentamento do “andar de cima” do crime organizado. Já a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu prioridade para a chamada “PEC da Segurança”, que reforça a cooperação federativa entre forças públicas — algo que, segundo especialistas, faltou no Rio de Janeiro. Em contraste, a Polícia Civil insistiu em classificar os mortos como “narcoterroristas” e afirmou não haver vítimas além dos quatro policiais mortos, posição desmentida pela comunidade, que expôs dezenas de corpos até então não contabilizados.
A convergência entre a declaração do senador Flávio Bolsonaro — que sugeriu um bombardeio americano a embarcações criminosas no Rio —, a operação policial mais letal da história do estado, o projeto articulado no Congresso pelo governador paulista Tarcísio de Freitas, que pretende classificar o narcotráfico como terrorismo, e o reconhecimento do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC) como “narcoterroristas” pelo governo argentino de Javier Milei, indica uma tentativa de construir uma agenda coordenada para atrair a atenção de Washington. Castro, inclusive, enviou um relatório à diplomacia dos Estados Unidos com detalhes sobre CV e PCC.
Na prática, a direita antecipa seu principal trunfo para 2026, justamente no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recupera favoritismo com pautas populares e avança nos entendimentos comerciais com Donald Trump. Dessa disputa de narrativas pode surgir algum desgaste ao Palácio do Planalto, mas ele tende a ser diluído pelo tempo político acelerado das redes digitais, pela agenda positiva vigente, pela dinâmica da conjuntura brasileira e pela distância do pleito eleitoral. No entanto, o revés será muito mais grave para a direita caso perca mais essa batalha na opinião pública. As próximas pesquisas dirão se a maioria social, nacional e local, ainda é favorável ao modelo de enfrentamento ao crime visto na operação do Complexo da Penha”.