O que podemos aprender com o caso Americanas até agora?

Americanas era uma empresa que costumava acessar mercado de crédito, principalmente via debêntures e era considera empresa AAA pelas agências de rating

Agência Brasil
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Por Artur Losnak

Do dia para a noite o CEO anunciou que 20 bilhões de reais foram contabilizados de maneira errada no balanço da companhia ao longo dos últimos anos e pediu demissão. E, por algum motivo, ele comentou que 92% da dívida que a companhia tinha no mercado não possuía garantia. Logo, credores não conseguiriam executar nada. Ou partiam para a mesa de negociações ou ficavam sem nada.

Após o anúncio, vários fundos de crédito sofreram e, consequentemente, cotistas tiveram medo e se perguntaram até onde que iria o problema.

No começo de 2020 já tivemos um estresse nos fundos de crédito, principalmente nos fundos que chamamos de “caixa” (que possuem liquidez diária).

Mas dessa vez o “problema Americanas” foi para a mídia e a marcação a mercado dos títulos penalizou cota de vários fundos

Pessoas com medo realizaram resgates e com isso fundos tiveram de vender alguns ativos para honrar estes resgates (sendo da Americanas ou não), pressionando assim o mercado como um todo.

Vimos que o mercado ficou mais retraído, emissão de dívida basicamente morreu neste começo de ano e vários papéis de empresas não relacionadas à Americanas começaram a ter questionamentos sobre a saúde financeira.

Bancos sofreram muito com impacto das Americanas e passaram a ser mais restritivos com crédito.

Mercado começou a questionar quem teria vencimentos relevantes no curto prazo e penalizar as companhias (de maneira análoga ao que vimos em 2015). Quando diversas companhias começam a pedir assessoria financeira, anunciando recuperação judicial (ou até falência), você não sabe aonde vai parar e muitas pessoas possuem maior conforto em converter tudo em caixa e pronto.

Infelizmente juros altos penalizam a economia e se permanecem altos por muito tempo algumas empresas não conseguem sobreviver. Algumas empresas que anunciaram recuperação judicial ou contrataram assessoria para renegociar dívidas já estavam em momento desafiador, os juros altos “apenas” aceleraram o movimento. Em termos práticos, vamos dizer que não houve “novidade” em si e sim um movimento que já acontecia nos últimos anso.

Não, o movimento ainda não acabou. Afinal precisamos entender o impacto real nos fornecedores da Americanas, o plano de recuperação judicial da Americanas e quantas empresas no mercado de dívida anunciam recuperação judicial ou renegociação de dívidas.

É sempre bom lembrar que, ao contrário de ações, crédito é algo muito complexo. Se der tudo certo, você recebe o que foi combinado. E se não der certo? Você corre atrás das garantias. E se não tiver garantia? Aí você lamenta e entra na fila da recuperação judicial.

O lado bom de investir em um fundo é a diversificação e, de maneira geral, caso algum evento específico ocorre o impacto pode até ocorrer, mas é em uma porcentagem bem menor. E, caso tenha de correr atrás do valor investido, brigar na justiça, o fundo certamente irá fazer (a pessoa física não precisa se dedicar a isso)

Assim como em 2020, o mercado se acostumou com fundos de liquidez diária que entregavam um pouco acima do CDI. Mas não há mágica: para entregar acima do CDI precisamos tomar um risco maior. Cabe a nós investidores entender se o risco que estamos correndo é realmente o risco que queremos correr. É muito fácil e conveniente tomar risco quando ganha dinheiro. Agora, quando você perde, você toma consciência do risco que estava tomando e se questiona se irá tomar o mesmo risco no futuro.

Sim, a indústria de crédito vai sobreviver. Sim, a indústria de crédito está maior e mais robusta que em 2015. Não é possível antecipar rombos contábeis, mas podemos definir o montante que queremos se expor a determinado ativo e assim, não sofrer muito caso ocorra um evento específico.