Mercado de privados: como a tecnologia está potencializando a disseminação desses investimentos

Ecossistema corporativo global está se desenvolvendo extraordinariamente

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Por: Oscar Decotelli

A recente transformação digital, evidenciada pela pandemia do Covid-19, proporcionou efeitos permanentes na grande maioria dos setores. Dentre eles, com disrupções importantes servindo como base sólida para sua evolução, não há dúvidas de que o mercado financeiro atuou como um dos principais beneficiados desse processo.

Primeiramente, essa transformação proporcionou um desenvolvimento extraordinário do ecossistema corporativo global, onde grandes empresas buscaram agregar a tecnologia no seu modelo de negócios para se adaptarem às novas demandas de consumo, e outras milhares de pequenas companhias iniciaram sua atuação no mercado buscando preencher os mais diversos gargalos evidenciados pelo coronavírus. 

O surgimento dessas novas oportunidades (somado ao cenário de flexibilização monetária da época) se traduziu em um aquecimento dos mercados público e privado, com a potencialização de fusões e aquisições, criação de novos unicórnios e níveis recordes de IPOs. Dessa forma, apesar de no presente momento a conjuntura econômica se encontrar marcada por altas taxas de juros a nível global, a herança de um ambiente mais dinâmico e desenvolvido permanece – o que também permite que boas oportunidades já tenham provado seu valor e recebam investimentos a um preço mais justo, uma vez finalizada a euforia do mercado. 

Por outro lado, investidores individuais passaram a dominar o mercado por meio de corretoras digitais. De acordo com a B3, em 2018, o número de investidores pessoa física na bolsa brasileira era de cerca de 700 mil e, em dezembro de 2022, foi atingida a marca de 5 milhões – o que representa um aumento de mais de 700%. Dessa forma, o número ratifica que mesmo após o fim do período de flexibilização monetária, quando a renda fixa já oferecia retornos atrativos, outros tipos de investimentos continuaram sendo mais disseminados entre os indivíduos.

Esse panorama também se estende para os ativos privados, como o private equity e venture capital. A transformação digital, redução nas taxas de juros e a forte instabilidade do mercado de ações no período pandêmico despertou maior interesse por parte dos indivíduos em ativos que se estendem além dos tradicionais, e potencializou um movimento – ainda que incipiente – de maior disseminação e democratização dessas categorias, onde gestoras tradicionais passaram a se utilizar da tecnologia para alcançarem maior número de investidores com cheques menores. 

O ingresso dos investidores de varejo nesse mercado se mostra de extrema importância, uma vez que os mesmos têm a possibilidade de diversificar e melhor balancear seu portfólio com ativos que promovem maior estabilidade de longo prazo. Dessa forma, seguindo as boas práticas de investimento executadas pelos indivíduos de alta renda, os pequenos investidores também são capazes de maximizar seu retorno e mitigar riscos.

Nesse contexto, também cabe salientar que, assim como em outras esferas, o mercado de investimentos oferece um padrão quando comparado a países desenvolvidos. Esse fato pode ser ratificado especialmente a partir do JOBS Act nos Estados Unidos, que alguns anos depois foi seguido pela Instrução Normativa CVM 588 no Brasil, que permitiu o início da trajetória de democratização desse tipo de investimento. 

Essa regulamentação de 2017 estabeleceu regras para a oferta pública de distribuição de valores mobiliários para emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, realizada por meio de plataformas eletrônicas de investimento participativo, as também conhecidas como “crowdfunding de investimento”. Tal modalidade alcançou um aumento de 123% em captação, saltando de R$ 84 milhões em 2020 para R$ 188 milhões em 2021, de acordo com dados do Governo Federal – o que confirma a recente potencialização desse mercado no país. 

Nesse contexto, em uma etapa mais avançada, o setor de investimentos como um todo já se encontra bastante desenvolvido no âmbito internacional, onde as alocações em ações por parte dos investidores de varejo atuam como uma realidade antiga e o mercado de privados já funciona como uma alternativa bastante disseminada. O Brasil, como demonstrado, se encontra em uma trajetória de evolução e desenvolvimento gradual do seu panorama. Com isso, espera-se que, com o tempo, o setor de investimento no país adquira os mesmos traços maduros daqueles observados no exterior, superando os desafios estruturais e alcançando, assim, a democratização efetiva. 

*O conteúdo da coluna é de responsabilidade do autor e não reflete o posicionamento do FLJ