Do oceano azul ao polo de inovação: a ascensão das fintechs na América Latina

Com pandemia da Covid-19, setor financeiro cresceu no digital

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Por Oscar Decotelli

A Covid-19 serviu como um catalisador poderoso para a transformação digital, que permitiu a potencialização de diversos setores ao redor do mundo. Com o passar do tempo, no entanto, observou-se que a maior parte dos países retornou às tendências históricas observadas anteriormente, enquanto algumas exceções obtiveram sucesso em consolidar os hábitos digitais gerados pelo período pandêmico – como a América Latina. 

Não há dúvidas de que a região apresentou evoluções importantes no que se refere ao uso e adoção de tecnologias. A crescente penetração da internet, uma maior aderência às mídias sociais, ao e-commerce e à telemedicina, bem como o desenvolvimento do mercado financeiro (como o pix, open finance e open banking), por exemplo, e uma maior inclusão de desbancarizados no setor são apenas alguns pontos que ratificam esse contexto. 

Mas, apesar do progresso notável, fica claro que ainda existe um amplo espaço para crescimento e um oceano azul a ser explorado em termos de penetração tecnológica e criação de valor a longo prazo na América Latina. Atualmente, as empresas de tecnologia da região representam apenas 1,5% do PIB, indicando um explícito potencial para expansão – especialmente quando comparado aos números de outros países, como China, Índia e Estados Unidos. Com relação a esse último país, caso atinjam nível similar, as empresas de tecnologia da América Latina poderiam agregar até US$ 3,2 trilhões em valor econômico nas próximas décadas.

Como mencionado de forma breve anteriormente, dentro do contexto de evolução tecnológica, existe um setor relevante que vem se destacando de forma significativa: o de fintechs. Uma vez que o mercado financeiro latino-americano apresenta importantes gargalos a serem preenchidos e ineficiências a serem otimizadas, essas startups visam promover soluções inovadoras para atender as necessidades crescentes da região. Em um cenário característico de países emergentes, onde a dor dos consumidores é normalmente mais latente do que aquela observada em países desenvolvidos, a consolidação dessas companhias como agentes disruptivos apresenta um potencial de mudança e de retorno ainda maior. 

Um ótimo exemplo para ilustrar o potencial das fintechs no contexto latino-americano consiste no sucesso do Nubank. No Brasil, mais especificamente, onde cinco grandes bancos detinham 80% do mercado, o banco digital prosperou ao apostar na desburocratização, completa digitalização e democratização do sistema bancário, sendo responsável por “bancarizar” milhares de indivíduos. 

Em 2023, com mais de 80 milhões de clientes – cerca de 4x a mais do que em 2020 –  suas ações já alcançaram (até o momento) uma impressionante ascensão de 104% no ano, o que fez com que a fintech se tornasse um dos bancos mais valiosos da América Latina e o quarto maior em número de clientes no Brasil – inclusive à frente dos tradicionais. Essa trajetória ascendente se mostra ainda mais impressionante quando comparada a companhias similares de outros países desenvolvidos: o Chime, fundado em 2012, e que ocupa a posição de uma das fintechs de online banking de maior sucesso nos Estados Unidos, conta com uma base de clientes de pouco menos de 20 milhões de usuários.

Assim, é evidente que o ambiente em que o Nubank foi inserido possibilitou grande parte de seu rápido sucesso. Apesar disso, fica claro que os concorrentes internacionais têm muito a aprender com as fintechs brasileiras e latino-americanas, especialmente em termos de marketing, desenvolvimento de mercado, experiência do cliente e processo de elaboração de estratégias.

Nesse cenário, a América Latina ainda apresenta um grande espaço para crescimento e fortalecimento do seu ecossistema. Dessa forma, as startups atuam como peça chave e importante pilar para impulsionar a inovação, impelir o progresso econômico e estimular a criação de soluções disruptivas – especialmente em setores onde os desafios são mais evidentes, como o financeiro. Esse progresso e dinamismo também abrem importantes portas para o mercado privado, uma vez que fomenta o empreendedorismo e possibilita o surgimento e desenvolvimento de oportunidades com resultados promissores na região – como foi o caso do Nubank, que proporcionou um retorno de mais de 1.000.000% aos primeiros investidores seed com seu IPO.