Por Fernando Marx
Em coluna anterior, a interpretação aqui repassada foi muito assertiva a respeito da crise bancária que acontecia nos EUA. Não que esta não tenha tido consequências, ela teve e ainda tem. Inclusive, com uma aversão ao risco generalizado no setor até hoje, mas, ciclicamente, aquela queda era uma excelente oportunidade de compra – e realmente foi.
Agora acontece justamente o contrário. O mercado, como de costume, gosta de exagerar para ambos os lados, e isso gera grandes oportunidades. Mas a ideia aqui é trazer um alerta. Não vivemos um Bull Market, muito menos lá fora (recomendo a leitura de outros artigos onde foram abordadas as etapas do ciclo macroeconômico).
Primeiramente, para contextualizar, vamos começar pela taxa básica de juros. Viemos de um dos apertos monetários mais agressivos em décadas.
O grande dilema da atualidade é que os indicadores econômicos ainda permanecem fortes. Naturalmente, os cenários de ‘no landing’ (sem recessão) passam a ganhar tração, principalmente a medida em que o FED provavelmente já está no patamar de topo de juros deste ciclo, o que acaba por gerar certo FOMO (fear of missing out – medo de ficar de fora).
Entretanto, alguns indicadores macro que tendem a ir na frente, conhecidos como leading indicators, apontam um cenário oposto. Um dos mais importantes é o LEI (Conference Board Leading Economic Index). Este indicador tem um histórico bastante assertivo de antever mudanças macroeconômicas ligadas à atividade e ao PIB.
Pela imagem, podemos concluir que o LEI antecipa uma desaceleração maior dos EUA, o que definitivamente não parece estar precificado no mercado, dado que os principais índices americanos continuam negociando a níveis de preço/lucro maiores que a média histórica.
Em paralelo, outra análise bastante conflitante é o comportamento das empresas tech frente à curva de juros. Em cenários normais, estas empresas tendem a performar melhor quando a curva arrefece, afinal, as empresas de sua composição respondem positivamente a um menor custo médio ponderado de capital. O que vemos hoje são estas empresas num forte rally nos últimos meses independentemente da da recente alta das taxas de juros reais nos títulos de 10 anos (que vem renovando máxima em valores nominais). Em resumo: para este cenário ser factível, significa dizer que o mercado espera crescimento robusto de lucros à frente.
O futuro é imprevisível mas sempre é possível se precaver. Indiscutivelmente há diversos sinais contraditórios vindo do exterior e é coerente estar atento a estes. Historicamente, demora aproximadamente de 4 a 6 meses para o FED começar a reduzir o juros após o término do ciclo de aperto.
Os cortes começam por conta de alguma eventualidade negativa causada justamente pelo juros altos, que limpam ineficiências de mercado. Provavelmente, se a história estiver correta, estamos perto de encontrar esta ‘eventualidade’ e as consequências tendem a ter grandes colaterais. Cabe ao investidor estar preparado para estes cenários.
*O artigo reflete a opinião do colunista e não do FLJ