Por: Gabriel Fauth
Faz um mês desde o que ficou conhecido como o Liberation Day de Trump — o anúncio do tarifaço que prometia resgatar a indústria americana das garras do dragão chinês e dos Europeus malvados. A reação inicial foi de choque no mercado de risco e uma busca imediata por proteção, com a ‘pimentinha’ em um quase colapso no mercado de treasury americano, mas tudo ficou bem com o alívio para países que estavam em processo de negociação com Washington.
Mas o que, de fato, funcionou? E o que já mostra sinais de fracasso?
De um lado, é inegável que o tarifaço deu tração à estratégia de barganha dos EUA. A China, que já vinha resistindo a concessões, foi obrigada a reabrir a porta para conversas e até começou a ceder em temas sensíveis como propriedade intelectual e abertura do setor financeiro.
Também ficou claro que o governo americano está disposto a usar tarifas como ferramenta diplomática, não só econômica. Ao aliviar tarifas para países aliados, como México e Coreia do Sul, Trump mandou um recado: alinhe-se com a Casa Branca ou aguente o tranco.
Isso impulsionou o mercado acionário de volta para o dia da liberação (02/04), em que Trump anunciou as tarifas.
No plano doméstico, o tarifaço serviu como combustível narrativo para fortalecer políticas industriais. A gritaria em torno de “proteger o trabalhador americano” abriu espaço para justificar incentivos à produção local de semicondutores, baterias e até aço. De maneira prática, vimos recentemente anúncios da TSMC a Nvidia mencionando que produziriam chips nos EUA ou no near shore.
Já do outro lado, o movimento elevou a temperatura inflacionária num momento em que o Fed já estava no limite. Resultado? Um cenário cada vez mais parecido com uma estagflação leve, isto é: crescimento morno, preços pressionados, e um banco central com pouca margem de manobra.
O aperto inicial de Pequim fez a cotação do petróleo cair forte para abaixo de 60 dólares o barril de WTI. Metais essenciais desvalorizados também são um reflexo da retaliação chinesa, dificultando o acesso de empresas americanas que precisam dos componentes para transição energetica. Esse é o principal motivo da preocupação de Trump com terras raras da Ucrania.
A verdade é que o tarifaço está se transformando. Sai o grito vazio, entra a diplomacia tática. Se Trump souber manter o jogo na direção de redução de tarifas e negociações com concessões, talvez o mercado até consiga digerir o tranco. O risco continua alto, mas ao menos agora tem fumaça branca no horizonte para negociação com China e União Europeia.
O xadrez começou a andar. A diferença entre uma vitória geopolítica e um desastre econômico vai estar no próximo lance.