Brasíliaverso e a incerteza na economia brasileira

Prego batido. Ponta virada. Será?

Agência Brasil
Agência Brasil

Por Felipe Pontes

São Paulo, 23/01/2023

No último dia de outubro de 2022 foi decretado o fim da eleição presidencial, com Lula sendo eleito presidente do Brasil. Prego batido. Ponta virada. Será? 

Neste texto darei um contexto geral sobre o ambiente de incerteza na economia brasileira, de modo a, no final, acalentar um pouco os investidores mais ansiosos.

Após muito sobe e desce durante o período de campanha acirrada para definir o próximo presidente do Brasil, todo mundo esperava que a incerteza na economia brasileira seria drasticamente reduzida quando a eleição fosse finalizada. 

Figura 1 – Incerteza na economia brasileira durante 2022

Fonte: Índice TC de Incerteza (Expectativa) na economia brasileira, disponível na Economatica®.

Corro o risco de exagerar em dizer que todo mundo esperava que a incerteza se reduzisse, mas é pouco intuitivo acreditar que ainda teríamos tanta incerteza no pós-eleição. 

De um lado, se o candidato à reeleição Jair Bolsonaro vencesse, já saberíamos o que esperar. Do outro lado, se o então candidato Lula conseguisse a sua terceira eleição, também já sabíamos o que esperar. Porém, ao que parece, ainda falta virar a ponta do prego: no Twitter, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda é candidato à reeleição, por exemplo.

Na terceira dimensão, ou no Brasíliaverso, por sua vez, vimos o caos político e econômico ser instaurado de uma vez por todas. Falas descompassadas de ministros, prováveis ministros e prováveis executivos de empresas e instituições governamentais foram inúmeras. E inconsequentes. 

Houve até a confusão, por parte do nosso Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o que é CVM e o que é CMN. Tudo serve de munição para críticas, o que acaba inflamando ainda mais esta eleição que parece nunca ter fim – pelo menos não nos discursos do presidente Lula, alguns ministros e apoiadores dos dois lados (e nem no Twitter do ex-Presidente Jair Bolsonaro).

Fonte: Twitter de Jair M. Bolsonaro, com acesso em 11/01/2023

O resultado disso tudo é que desde o final da eleição, quando o prego foi batido, ainda que a ponta não tenha sido virada, a incerteza na economia brasileira aumentou de forma tão violenta quanto foi o quebra-quebra ocorrido em Brasília, no dia 08/01/2023.

Figura 2 – Incerteza na economia brasileira pós-eleições presidenciais de 2022

Fonte: Índice TC de Incerteza (Expectativa) na economia brasileira, disponível na Economatica®.

Falando especificamente sobre 2023, a incerteza na economia brasileira subiu tão forte que alcançou patamares alcançados anteriormente apenas na Pandemia da Covid-19 (2020) e no ápice da crise pré-Impeachement da ex-presidente Dilma Roussef (2016).

Figura 3 – Incerteza na economia brasileira pós-eleições presidenciais de 2022 (zoom no gráfico da Figura 2)

Fonte: Índice TC de Incerteza (Expectativa) na economia brasileira, disponível na Economatica®.

A incerteza na economia brasileira cresceu 85% e no primeiro Boletim Focus de 2023 já foi possível perceber, por exemplo, que os economistas esperam uma Selic de 12,25% ao  término de 2023, contra 11,75% do final de 2022. O dólar passou de R$ 5,25 para R$ 5,28 e o IPCA de 5,08% para 5,36%.

Afora isso, enquanto as coisas permanecem, no mínimo, estranhas no Brasíliaverso, a incerteza na nossa economia continua em patamares muito altos, muito acima da média móvel dos últimos 21 dias (MM21) e a atividade econômica ainda longe de retomar a tendência de alta do pré-Pandemia da Covid-19.

Aos investidores, só resta ter cuidado com operações mais arriscadas, especialmente com a alavancagem. Operações muito arriscadas, em momentos de risco alto fazem parte da receita de bolo muito bem conhecida para perder dinheiro na bolsa. 

Figura 4 – Gráfico do Índice TC de Atividade Econômica no painel de cima e Índice TC de Incerteza na Economia abaixo

Fonte: Gráficos obtidos no relatório semanal de dados da B3 fornecido pela Economatica.

Vale acompanhar tanto a incerteza na economia, quanto a atividade econômica, de modo a identificar um período em que a tendência esteja mais para o nosso lado, dado que com a incerteza alta, geralmente temos impactos negativos na atividade econômica, conforme a Figura 4 acima.

Talvez possamos verificar uma melhoria na incerteza e na atividade econômica de uma forma mais abrupta quando o prego das eleições de 2022 estiver com a ponta virada, caso contrário a melhora chegará aos poucos – se o Brasíliaverso for melhorando os sinais para a economia brasileira. 

Todo o cuidado é pouco!

*O conteúdo da coluna é de responsabilidade de Felipe Pontes e não reflete o posicionamento do FLJ