Petrobras (PETR4) sofre pressão para "ajudar" governo, mas "é cedo" para saída de Prates

Confira a apuração exclusiva do Scoop by Mover sobre o tema

Agência Brasil
Agência Brasil

Por Machado da Costa e Luciano Costa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem mostrado nos bastidores insatisfação com a gestão da Petrobras (PETR4), com cobranças para que a estatal “ajude” mais o governo com investimentos e controle sobre os preços de combustíveis, além de cargos para políticos aliados, disseram à Mover três fontes com conhecimento do assunto.

Embora a pressão seja grande para que o CEO da petroleira, Jean Paul Prates (PT), comece a fazer “entregas”, não está no horizonte uma mudança no comando da companhia no momento. “Ele está balançando, mas ainda não houve um motivo público para sua demissão, um erro crasso”, afirmou uma das fontes.

“Estou atribuindo isso ao estresse de acomodação de novos aliados no Congresso”, afirmou outra das pessoas, com fontes confirmando que há uma intensa disputa por nomeações em Brasília, que agora chega também à Petrobras.

Também tem havido discordâncias públicas entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), sobre políticas para aumentar a oferta de gás natural, e o chefe da pasta já defendeu em discurso que a Petrobras poderia dar “uma contribuição maior” para conter os preços dos combustíveis.

Em meio à fritura, Prates é respaldado por dois importantes petistas, mas que estão em baixa com Lula. Os baianos Jaques Wagner (PT), líder do governo no Senado, e Rui Costa (PT), ministro-chefe da Casa Civil, já gozaram de maior prestígio. Barbeiragens políticas cometidas pela dupla nas nomeações de cargos têm atrapalhado a relação de Lula com o Congresso.

Na visão de Lula e do ministro de Energia, Silveira, a Petrobras estaria deixando a desejar em iniciativas importantes para o governo, como a retomada da indústria naval e o aumento da oferta de gás para a indústria, que “persistem sem desfecho”, enquanto a nova política comercial da companhia ainda não garante que o problema dos preços dos combustíveis esteja resolvido, segundo as fontes.

A alta das cotações internacionais do petróleo nos últimos dias, para mais de US$84 por barril, eleva riscos de a Petrobras precisar aumentar o diesel ou a gasolina.

“Com a recente subida do Brent, o assunto está com luz amarela”, afirmou uma das pessoas que falaram ao Scoop, que acompanha discussões sobre a Petrobras em Brasília. “O governo está fazendo sua parte. A Petrobras, como grande investidora, precisa ajudar pelo menos um pouco, mas finge que não é com ela”, disse uma das fontes.

Procurada, a Petrobras não comentou de imediato.

PRESSÃO E ´DESLIZES´

Silveira, neste momento, está muito mais alinhado com os anseios de Lula do que Prates, segundo as fontes, que relatam episódios que teriam gerado desconforto no Planalto. Recentemente, em reunião com dezenas de pessoas do Bradesco, o CEO deixou escapar o interesse da Petrobras na recompra da Vibra (VBBR3), segundo uma das fontes.

Depois, Prates buscou retomar o controle da narrativa, afirmando que vê a venda da ex-BR Distribuidora como um erro, mas que uma reestatização seria complexa e custosa demais. O objetivo permanece, mas o negócio ficou bem mais caro – desde maio, as ações da Vibra valorizam mais de 30%.

A nomeação de Sérgio Caetano Leite, ex-sócio de Prates em outros empreendimentos, como CFO da companhia, também teria sido vista como “erro” pelo Planalto, segundo as fontes. Leite, em seus primeiros dias, convidou sócios da Paper Excellence, a conflituosa parceira da J&F na Eldorado, para uma viagem a Nova York, em maio deste ano. Os irmãos Batista, donos da J&F e amigos pessoais de Lula, ficaram constrangidos com a situação.

Em meio à pressão nos bastidores, a Central Única dos Trabalhadores e a Federação Única dos Petroleiros, ligadas ao PT de Lula, divulgaram manifesto de “apoio à Petrobras e seu presidente, Jean Paul Prates”.

“‘Abrasileirar’ os preços da Petrobras era desejo e promessa de campanha do presidente Lula. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, fez isso acontecer. No entanto, a partir dessa importante decisão, a Petrobras, seu presidente e diretoria vêm sofrendo ataques constantes dos adversários”, afirmaram CUT e FUP, em nota.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 11H13, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.