Mercado espera FOMC e Copom com reação a nomes indicados para diretoria do BC

Expectativa é de Selic inalterada em 13,75%, mesmo com pressões baixistas para os juros vindas de uma crise de crédito

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Por Patrícia Lara

Notícias sobre nomes escolhidos para duas diretorias do Banco Central brasileiro ficam no radar dos investidores locais neste dia em que o mercado global faz ajustes em torno da decisão de juros do Comitê Federal de Mercado Aberto, conhecido como FOMC, lá nos Estados Unidos. Em meio à inflação persistente no país, a aposta em uma alta de 0,25 ponto percentual da taxa básica americana está consolidada, mas os investidores seguram o fôlego até o anúncio da decisão que ocorre no contexto da recente crise bancária. Após o fechamento do pregão, será a vez de o Comitê de Política Monetária do BC brasileiro anunciar sua decisão e o foco recairá sobre o tom do comunicado em meio à crescente expectativa de que será desenhado um caminho para um alívio em maio.

A decisão do FOMC será anunciada às 15h00, seguida por fala do presidente do banco central americano, Jerome Powell, às 15h30. As operações em derivativos indicam uma probabilidade de 87,8% de aumento de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros americana nesta manhã, segundo a ferramenta FedWatch da Chicago Mercantile Exchange. Com as recentes quebras de bancos regionais nos EUA e o socorro ao Credit Suisse, na Suíça, a aposta em alta agressiva que existia há um mês desapareceu totalmente e os derivativos indicam ainda 12,2% de chance de a taxa permanecer no patamar atual de 4,50% a 4,75%.

Em relação ao Copom, a expectativa é de Selic inalterada em 13,75%, mesmo com pressões baixistas para os juros vindas de uma crise de crédito e de uma eventual política monetária em países desenvolvidos menos agressiva. Em contraponto, a persistente desancoragem das expectativas de inflação e a nebulosidade em torno da política fiscal no país justificam a cautela.

Em meio a esse embate, o mercado avalia a notícia de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu dois nomes indicados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para compor duas diretorias que precisam ser renovadas no BC, de acordo com integrantes do governo não identificados citados pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo. O economista Rodolfo Fróes foi o escolhido como titular de Política Monetária, cargo que é ocupado interinamente por Bruno Serra, cujo mandato venceu em fevereiro. Fróes integrou o Conselho de Administração do Banco Fator, que foi presidido por Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Já Rodrigo Monteiro, funcionário de carreira do BC, foi escolhido para a pasta de Fiscalização, segundo os jornais.

No exterior, os futuros de Nova York operam perto da estabilidade, com viés baixista. Os juros das dívidas de curto prazo do Tesouro dos EUA, mais sensíveis ao impacto da taxa básica de juros, sobem, com o rendimento do papel de 1 ano em alta de 9,8 pontos-base, a 4,726%.

O Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante divisas pares, recua 0,20%, a 103,05 pontos. Entre as moedas que se apreciam ante o dólar está o euro, após comentários da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, de que a inflação “ainda está alta”. A moeda se valorizava 0,19%, cotada a US$1,0787.

As bolsas europeias estão mistas, com queda na de Londres após aceleração inesperada da inflação no Reino Unido em fevereiro, o que aumenta as expectativas de que o Banco da Inglaterra elevará as taxas de juros novamente em sua reunião de quinta-feira. A taxa anual de inflação dos preços ao consumidor subiu para 10,4%, de 10,1% em janeiro, e superou o consenso de 9,9% previsto pelo BoE e economistas consultados pela Reuters.

No mercado de commodities, o contrato do petróleo Brent voltava a ceder, cotado abaixo de US$75 o barril, após o relatório do Instituto de Petróleo Americano mostrar ontem aumento inesperado dos estoques da commodity bruta nos Estados Unidos, o que reforça sinais de demanda enfraquecida, segundo a CNBC. O preço do minério de ferro encerrou a sessão em queda 2,15% na Bolsa chinesa de Dalian, cotado a 865,50 iuanes, o equivalente a US$125.71.

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio cedia 0,69%, a US$74,80 o barril.

O Bitcoin cedia 0,14% nas últimas 24 horas, a US$ 28.326; o Ethereum recuava 0,72% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,34% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir vulneráveis ao efeito FOMC na curva de juros externa e ao impacto das notícias sobre nomes para ocuparem a diretoria do BC, enquanto aguardam a decisão do Copom após o fechamento da sessão.

DESTAQUES

Vinte instituições financeiras consultadas pela Mover esperam pela manutenção da Selic em 13,75%. Os bancos, fundos e casas de análise consultadas, contudo, divergem em relação ao início do ciclo de cortes na Selic, variando de maio de 2023 até abril de 2024. O Santander Brasil pontua que uma mudança na estratégia monetária e nas sinalizações futuras seria prematura neste momento, diante da falta de evidências sobre o impacto de uma desaceleração global de crédito e da piora de expectativas de inflação. (Mover)

O Bank of America, por sua vez, antecipou de agosto para maio a expectativa de início de alívio monetário diante da crise no mercado de crédito. Em relatório divulgado ontem, o banco americano citou o alto endividamento e o patamar elevado das taxas de juros como justificativas para a Selic ser cortada no encontro de maio. (Mover)

O Brasil manteria a primeira colocação como o país com o maior juro real, em qualquer cenário, mesmo se houvesse corte da taxa de juro nominal Selic de 50 pontos-base, diz a Infinity em relatório. A amostragem estudada é de 40 países. O último lugar é da Argentina, com taxa real negativa. O juro real é a taxa básica de juros da economia descontada da inflação esperada para os próximos 12 meses. (Mover)

O presidente Lula adiou a divulgação da âncora fiscal que vai substituir o atual teto de gastos para definir, antes, o tamanho do aumento nos gastos com saúde e educação. Os técnicos do governo estão fazendo as contas com base na vinculação de recursos prevista na Constituição para as duas áreas e o reforço. (O Estado de S. Paulo)

O ministro Fernando Haddad afirmou ontem a jornalistas que o novo arcabouço fiscal terá uma regra de transição para recompor os orçamentos das áreas de saúde e educação. Segundo Haddad, os dois setores perderam muitos recursos desde a aprovação do Teto de Gastos, que excluiu o piso de repasse para os dois setores. (Mover)

O secretário extraordinário do Ministério da Fazenda para a reforma tributária, Bernard Appy, admitiu ontem que o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que está em estudo, pode ter mais de uma alíquota. Em fala a integrantes da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), Appy disse que existirão “algumas exceções” e tratamento diferenciado para certos setores, como saúde e educação. (Valor)

Lula disse que o Brasil buscará “ter uma relação extraordinária com os chineses”, mas criticou importações de produtos do país sem pagamento de impostos, o que tem sido alvo de queixas de varejistas locais diante da concorrência de empresas como a Shein. “Está crescendo a importação de produtos que não pagam nenhum imposto. Temos que ter uma seriedade nisso”, disse o presidente. (Mover)

A JBS registrou lucro líquido de R$2,35 bilhões no quarto trimestre, acima do consenso Mover de R$1,39 bilhão, mas mostrou desaceleração nas principais linhas do balanço devido à “normalização” das margens e um ambiente turbulento para as operações de carne de boi, porco e frango nos Estados Unidos. (Mover)

A parceria entre o UBS e o BB será mantida mesmo após a compra do Credit Suisse. A sociedade foi iniciada em setembro de 2020. (O Estado de S. Paulo)

O presidente do Banco Central da Alemanha, Joachim Nagel, disse que os responsáveis ​​pela definição das taxas da Zona do Euro devem ser “teimosos” e continuar aumentando os custos dos empréstimos para combater a inflação, já que ele descartou os temores de que a recente turbulência financeira possa afetar ainda mais os bancos europeus. (Financial Times)

AGENDA

Estoques de petróleo (Estados Unidos) – A Agência de Informações de Energia publicará variação semanal nos estoques de petróleo bruto e derivados americanos. Divulgação: 11h30.

Fluxo Cambial (Brasil) – O Banco Central brasileiro publicará o fluxo cambial semanal. Divulgação: 14h30. Anterior: US$416 bilhões.

FOMC (EUA) – O Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve decidirá a taxa básica de juros americana. Divulgação: 15h00. Anterior: 4,50% a 4,75%.

Coletiva Powell (EUA) – O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, falará em coletiva de imprensa após a decisão da taxa básica de juros americana. Horário: 15h30.

Copom (Brasil) – O Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro anunciará a decisão para a taxa básica de juros do país. Divulgação: 18h30. Anterior: 13,75%. Consenso: 13,75%.

Balanços (Brasil) – A Braskem divulgará seus resultados do quarto trimestre de 2022 após o fechamento dos mercados brasileiros.