Por Lucinda Pinto
O impacto do evento da Americanas (AMER3)sobre o mercado de crédito e, consequentemente, sobre as condições financeiras deve ser analisado pelo Banco Central em suas próximas decisões de política monetária, afirmou à Mover o economista-chefe da Western Asset Management, Adauto Lima.
Para ele, essa é a principal variável a colocar em questão o cenário de manutenção da taxa de juros pelos próximos meses. Do outro lado do balanço de riscos estão as expectativas de inflação ainda muito resistentes, o desemprego em queda e a massa salarial fortalecida, fatores que ainda não mostraram a resposta necessária para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC inicie o esperado ciclo de alívio monetário.
“Pouca coisa mudou desde a última reunião do Copom”, disse Lima. “O que de fato pode alterar o balanço de riscos é o evento Americanas, que trouxe um choque adicional ao canal de crédito.”
Lima explicou que, ao subir os juros, o BC tem por objetivo esfriar a oferta de crédito. Mas uma crise da proporção da deflagrada pela varejista pode intensificar muito esse efeito, a ponto de deteriorar as condições financeiras, mudar a dinâmica do Produto Interno Bruto e, consequentemente, da inflação.
“O mercado de capitais hoje é muito significativo para a economia e, por isso, minha expectativa é que esse fator entre no balanço de riscos do BC.”
Lima trabalha com um cenário em que a taxa de juros caia 1,5 ponto percentual a partir do fim do ano, mas ele acredita que, caso o mercado de capitais continue paralisado e com custos elevados como está neste momento, esse recuo pode acontecer antes.
“Essa é a variável que pode antecipar o corte de juros. O restante, não por culpa do BC, só piorou desde a última reunião”, afirma. Ele diz que, além do cenário de inflação e mercado de trabalho, a ausência da regra fiscal é um limitador para um corte de juros.