Visão Eurasia

Vitória de Trump é alerta contra inflação e ajuda Haddad, diz Eurasia; vê pacote fiscal de até R$50 bi

Vitória de Trump é alerta contra inflação e ajuda Haddad, diz Eurasia; vê pacote fiscal de até R$50 bi

São Paulo, 13/11/2024 – A vitória de Donald Trump nas eleições americanas deveria servir como alerta para o Brasil sobre impactos políticos da inflação, um argumento que pode ajudar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a convencer o presidente Lula sobre medidas de cortes de gastos, disse hoje o diretor da Eurasia, Christopher Garman, ao participar de evento do Bradesco em São Paulo.

A consultoria política trabalha com expectativa de cortes entre R$35 bi e R$50 bilhões aprovados para 2025, com anúncio apenas após o G-20. A Eurasia entende que as medidas seriam essenciais para blindar o país do risco de chegar a 2026 com uma deterioração do cenário econômico para emergentes que piore as condições locais e pressione a popularidade do governo atual.

“É um complicador a mais. Se entrar em 2025 e essas medidas não são tomadas, aí o real desvaloriza mais, isso traz mais inflação, coloca o Banco Central “no corner”… aí pode não conseguir cortar juro lá na frente, e derrubar a economia mais que normalmente”, disse Garman, no evento do BBI.

“Então eu brinco com minhas fontes do Palácio do Planalto. Esquece isso de que a direita está subindo, que a vitória de Trump vai mobilizar a base bolsonarista, que gera um contágio anti-progressismo, ‘anti-woke’. A razão por que o Trump ganhou foi inflação, o surto inflacionário do pós-covid. A principal preocupação das pessoas era custo de vida. Eu diria que foi esse fator, e menos contágio ideológico”.

PACOTE

Garman disse escutar em Brasília que, no pacote de gastos, o governo pode definir um limite para crescimento de gastos com educação e saúde, bem como para reajustes do salário mínimo, de forma a manter a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Mudanças no abono salarial e seguro-desemprego também são vistas como potenciais ajustes, acrescentou.

“Estou mais otimista hoje com o pacote de gastos que pode sair depois do G-20 do que eu estava há um mês atrás”, disse Garman.

Para ele, a decisão de Lula sobre o pacote de gastos “é o que vai definir o perfil da segunda metade do mandato” do presidente. Um acerto agora, com um ajuste fiscal que alivie preocupações do mercado financeiro, poderia permitir ao Banco Central voltar a reduzir juros no ano que vem, sob comando de Gabriel Galípolo, enquanto uma postergação de medidas poderia aumentar riscos de se chegar à eleição de 2026 com a economia deteriorando.

TRUMP

Sobre Trump, Garman disse que o presidente eleito americano agora tem domínio do Partido Republicano e das duas casas do Congresso, diferentemente do primeiro mandato. “Olhando as perspectivas do governo Trump, para nós, na Eurasia, devemos esperar um presidente com menos freios. Dessa vez, a distância entre as promessas da campanha e o que ele deve fazer de fato deve ser menor”, disse.

Para o consultor da Eurasia, o mercado financeiro ainda subestima Trump, pensando só nos aspectos positivos de seu programa, como cortes de impostos e desregulamentações, deixando de lado políticas como aumentos de tarifas e deportações em massa que podem gerar inflação.

“Na nossa visão, vem algo mais forte que muito do mercado está estimando”, alertou. “Mesmo ele fazendo um terço do que prometeu, já é uma agenda com potencial de gerar inflação, pode reduzir PIB ao longo do tempo, e pode arriscar interromper os cortes de juros do Fed”.

Questionado sobre a escolha do bilionário Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX, para ajudar a chefiar uma Comissão de Eficiência Governamental, junto com o empresário Vivek Ramaswamy, Garman mostrou ceticismo.

Mas a visão da Eurasia não é a unanimidade nos mercados financeiros, onde muitos se animam com a chegada de Elon ao governo. O gestor da Dhalia Capital, José Rocha, disse que a nomeação do bilionário é algo que “não tem precedentes na história americana moderna”.

“Se tem um cara que merece o benefício da dúvida, se vai baixar o déficit americano por corte de custos, é o Elon Musk”, disse Rocha, no evento do BBI, ao lembrar feitos do empresário, como fabricar carros autônomos, “fazer foguete dar ré” e tocar as operações do Twitter mesmo após demissões em massa.