Por: Artur Horta
Ainda que a Vale tenha registrado uma produção de minério de ferro abaixo do esperado pelo mercado e da sua própria orientação no quarto trimestre de 2022, os melhores preços da commodity nos mercados globais e as vendas em linha com as expectativas devem impulsionar o faturamento da mineradora no período, segundo analistas ouvidos pela Mover.
A segunda maior produtora de minério de ferro do mundo fechou 2022 fornecendo 308 milhões de toneladas do mineral, queda de 2% no comparativo anual e abaixo do “guidance” de 310 milhões de toneladas. Entre outubro e dezembro, a produção foi de 80,9 milhões de toneladas, recuo de 1% na mesma base, reflexo de maiores chuvas em Minas Gerais, lentidão na obtenção de licenciamentos e questões de processamento, segundo relatório divulgado ontem pela empresa.
Por volta das 12h40, as ações ordinárias da Vale recuavam 2,66% na B3, a R$92,00.
A companhia manteve inalterada sua projeção para 2023 entre 310 milhões de toneladas e 320 milhões de toneladas de minério, “o que implica que todo o crescimento da receita virá de ganhos de preços”, escreveram os analistas Leonardo Correia e Caio Greiner, do BTG Pactual, em nota a clientes.
Em meio à persistente escassez de oferta simultaneamente ao reaquecimento da economia chinesa, o minério de ferro tem passado por um rali que recentemente levou as cotações às máximas de sete meses em Cingapura. Tais fatores devem sustentar os preços entre US$110 e US$130 por tonelada “ou mais”, segundo o BTG, que considera este patamar “ainda muito saudável para o fluxo de caixa e favorável a revisões positivas de lucro para 2023”.
Para a Ativa Investimentos, as vendas de 80,9 milhões de toneladas vieram dentro do esperado, com os prêmios de qualidade pelos finos de minério e pelotas demonstrando um “sólido crescimento interanual”, saindo de US$4,70 por tonelada para US$5,40 por tonelada – mesmo assim, houve desaceleração frente aos prêmios recordes observados no terceiro trimestre, de US$6,60 por tonelada.
Ainda refletindo melhores vendas e preços realizados, o Goldman Sachs elevou em 10% a sua projeção para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização – medida conhecida pela sigla em inglês EBITDA – do quarto trimestre da Vale, para US$5,7 bilhões.
Há praticamente um consenso entre analistas de que a mineradora tem frustrado as expectativas de produção nos últimos anos. A diretoria da Vale, no entanto, afirma que vai priorizar a qualidade dos minerais ante o aumento significativo da produção.
Tanto os analistas quanto a mineradora reconhecem que, muitas vezes, fatores não operacionais e de difícil previsão, tais como greves, atrasos em licenciamentos e piora do clima, afetam negativamente o desempenho da companhia.
Mesmo diante dos desafios, Correia e Greiner, do BTG, acreditam que o momento operacional da Vale “deve seguir em recuperação, com um melhor cenário de produção e custos nos próximos trimestres”.