São Paulo, 25/04/2025 – O ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon, avalia que o cenário externo recheado de incertezas associado a medidas do presidente americano Donald Trump e a consequente desaceleração global permitem ao Comitê de Política Monetária encerrar o ciclo de alta de juros antes do previsto.
Isso abre uma oportunidade para investidores que apostam num fechamento da curva de juros mais rápido do que o precificado hoje nos mercados, disse Volpon, durante participação na TC News.
“Em minhas conversas com investidores internacionais, tenho destacado que a curva de juros brasileira é uma das mais atrativas para se ficar ‘aplicado’ no mundo hoje”, afirmou Volpon, em entrevista ao programa Manhã TC News.
“Com essa tendência global que estamos vendo, de o investidor buscar novos lugares para colocar dinheiro (fora dos EUA), acho que a curva de juros do Brasil se destaca como grande oportunidade”, acrescentou.
Para ele, o Copom teria espaço até para encerrar o ciclo de juros sem nenhuma nova elevação da Selic, mas provavelmente dará uma leve alta porque isso já foi sinalizado (forward guidance).
“Você tem uma diretoria nova e novo presidente (do BC, Gabriel Galípolo) querendo mostrar sua credibilidade”, disse Volpon, que elogiou a atuação inicial do indicado do presidente Lula ao cargo.
Para o ex-diretor do BC, uma tendência de desvalorização do dólar, devido à menor confiança dos investidores nos EUA sob Trump, deverá ajudar o BC a controlar a inflação, assim como a esperada desaceleração global. Isso poderia permitir a autarquia a voltar a cortar juros na reta final do ano.
“Vejo os estrangeiros com quem converso sendo muito mais positivos com essa questão dos juros no Brasil que o investidor local”, acrescentou Volpon.
TRUMP
O ex-diretor do BC avalia que Trump errou na estratégia de negociação com a China, e agora tenta abrir espaço para início de conversas de forma a reduzir tarifas impostas sobre o parceiro.
“Ele está de certa forma pedindo que chineses o ajudem a sair desse buraco que ele mesmo cavou. Aí os chineses têm que jogar um pouco. Se as coisas acontecerem (um acordo), a possibilidade de uma crise financeira é bem mais baixa”, analisou Volpon.
Para ele, um cenário possível atualmente é que os EUA enfrentem uma desaceleração que leve até a uma recessão técnica, de dois trimestres seguidos de retração econômica, mas provavelmente sem uma “crise financeira”, que seria algo mais grave e similar ao que ocorreu em 2008-09, segundo Volpon.
Ele avalia, no entanto, que os últimos dias, com recuos de Trump, como a declaração de que não buscará demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ficou claro que o presidente “sentiu” os sinais dados pelo mercado via preço de ativos.
“A água bateu e ele se assustou. Não tanto pela bolsa… acho que o que assustou a equipe dele, e eles transmitiram isso ao Trump, foi o que aconteceu com o dólar e as Treasuries”, explicou Volpon.
Diante das incertezas, a moeda americana desvalorizou e Treasuries subiram, o que se assemelharia mais ao comportamento de um país emergente em situação de crise que aos EUA.
Para Volpon, o movimento do Bitcoin, que se valorizou diante desse cenário mais extremo nos mercados, mostrou que o criptoativo pode se descorrelacionar dos mercados, oferecendo alternativa aos investidores.
“Essa perda relativa do dólar, essa percepção de que ele não é mais o ‘safe haven asset’, levou vários agentes do mercado, mais institucionais que pessoas físicas, a olhar o bitcoin. Quando você olha o que está acontecendo no bitcoin, especificamente, parece que tem entrado muito mais dinheiro de institucional agora que de PF”, avaliou.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)