Por: Gabriel Ponte
São Paulo, 22/1/2024 – Anúncios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que apontam para a potencial implementação de medidas que não funcionaram bem no passado podem estar “contaminando” o desempenho dos mercados acionários brasileiros neste início de ano, avaliou o responsável pela área de mercados da tesouraria do Santander Brasil, Sandro Mazerino Sobral, em texto enviado a clientes nesta segunda-feira.
“Devo dizer que não gosto da discussão sobre algumas políticas que já foram testadas há uma década com fracos resultados. O mercado tem ignorado essas discussões, mas logo voltará ao radar dos investidores, principalmente dada a importância das eleições municipais, que são um indicador antecedente e um termômetro”, disse. Ele também apontou estar ficando “um pouco confuso e desconfortável” com o cenário local.
Os comentários de Sobral vieram após o presidente Lula anunciar hoje, mais cedo, o lançamento de um novo programa que prevê financiamentos de ao menos R$300 bilhões para projetos de ‘neoindustrialização’ até 2026. Durante o evento, o dólar tocou máximas e a bolsa acelerou queda, evidenciando preocupações com potenciais impactos das medidas sobre a meta do governo de buscar déficit zero neste ano. Os vértices da curva de juros encerraram em alta com o anúncio das medidas.
Ainda que o “firme discurso” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, permaneça como “principal pilar” da narrativa brasileira, Sobral aponta que os investidores devem “mudar a abordagem” e olhar para os micro detalhes da política econômica. “Todas as narrativas atuais dos locais para apoiarem seus níveis de exposição estão ficando ultrapassadas.”
CAUTELA ESTRANGEIRA
Em termos técnicos, Sobral observa redução de exposição líquida de estrangeiros aos mercados acionários em janeiro, com comportamento semelhante no câmbio e nos juros, ainda que haja sinais de aquisições de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) por eles.
“Em termos líquidos, o que vejo é: locais compraram maciçamente em dezembro e continuam a aportar em janeiro – embora em menores proporções – contra pequena redução de estrangeiros. Não é uma boa imagem, especialmente diante do fraco desempenho observado em janeiro.”
Sobral também nota que o diferencial de juros entre o Brasil e outros pares, incluindo economias desenvolvidas, tem se aproximado das mínimas. Já o real não está sendo contaminado pela diminuição do diferencial de taxas dado que os juros reais seguem confortavelmente elevados até o momento. No entanto, “quanto mais o Banco Central corta a Selic, menos válida é essa afirmação”, alerta Sobral.
Na outra ponta, Sobral, do Santander, diz que as condições externas continuam “bastante boas para o Brasil”. Ele cita a performance positiva dos mercados acionários dos Estados Unidos, por exemplo. Também projeta uma estabilização dos preços de commodities, o que favorece a atividade econômica local.
(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)