
São Paulo, 05/12/2025 – A Santa Fé Investimentos, gestora de fundos com foco no mercado de ações e agro, segue otimista com a bolsa mesmo depois do rali superior a 35% do Ibovespa em 2025.
Em entrevista à Mover/Faria Lima Journal, o sócio e gestor Gabriel Diniz Junqueira defendeu que o movimento de alta dos ativos de risco tem pernas mais longas do que o mercado precifica, especialmente no universo das small caps, e que parte dos dividendos extraordinários anunciados neste fim de ano está sendo reinvestido localmente — e não remetido ao exterior, como temia parte do sell-side.
Sobre a enxurrada de proventos antecipados antes da tributação de 10%, que entra em vigor a partir de 2026, Junqueira destacou que as empresas que vêm pagando são exatamente aquelas com balanços mais robustos e caixa abundante. “Não vemos estresse cambial relevante vindo daí”, disse. E mesmo com o Ibovespa testando as máximas históricas em termos nominais, o gestor acredita que ainda há assimetria positiva expressiva — sobretudo fora do índice principal.
Uma análise proprietária da Santa Fé mostra que apenas 37% das companhias do Ibovespa negociam próximas das cotações mais altas dos últimos cinco anos; no universo das small caps, esse percentual despenca para 23%. “O gap continua grande e sugere oportunidades que o mercado ainda não precificou por completo”, afirmou.
Para 2026, Junqueira espera um dólar mais forte, derivado da redução do diferencial de juros Brasil-EUA, mas vê o Banco Central atuando com cautela sob a gestão de Gabriel Galípolo, evitando aceleração excessiva nos cortes da Selic, em meio ao risco fiscal e ao calendário eleitoral de 2026.
Sobre a América Latina, mostra-se estruturalmente construtivo: além dos trades eleitorais no Chile e na Argentina, cita o desempenho do Peru — cujo ETF EPU sobe mais de 65% em Nova York neste ano — como prova de que políticas ortodoxas estão ganhando prêmio de longo prazo na região.
Eis, abaixo, a íntegra da entrevista da Mover/Faria Lima Journal com o gestor.
Mover/FLJ: Temos visto uma trajetória crescente de anúncios de remuneração adicional a acionistas nesta reta final do ano, diante de nova regra tributária que passará a tributar dividendos anunciados por companhias a partir de 2026. Um potencial risco mencionado por players do sell-side, porém, é a possibilidade de estresse no mercado de câmbio diante de eventuais remessas para o exterior com os dividendos pagos. Você compartilha desta leitura? E como vê a posição de caixa das companhias para antecipação desses dividendos?
Junqueira/Santa Fé: A antecipação do pagamento de dividendos para evitar a incidência dos 10% de tributação é uma estratégia legal e amplamente esperada pelas companhias brasileiras. Quando analisamos o perfil das empresas que vêm adotando essa prática, observamos balanços sólidos, com posição de caixa confortável e baixa alavancagem, o que permite realizar antecipações sem comprometer a rotina operacional.
Quanto à leitura de que grande parte desses recursos seria remetida ao exterior, não compartilho dessa visão. Na prática, temos observado um movimento distinto: parte relevante desse capital parece estar sendo reinvestida na própria bolsa, contribuindo para o rally recente.
Mover/FLJ: Falando sobre rally, em meio à forte trajetória de alta do Ibovespa – que acumula alta superior 35% no ano – é natural que investidores busquem por ativos que ainda ofereçam retorno ajustado ao risco atrativo. Dessa forma, quais ativos ou segmentos que você enxerga assimetria positiva na bolsa local?
Junqueira/Santa Fé: Mesmo com o índice testando máximas no fim do ano, ainda vejo espaço considerável para valorização, especialmente entre as empresas de menor capitalização. Small Caps continuam apresentando assimetrias relevantes. Em uma análise proprietária recente, identificamos que apenas 37% das empresas do Ibovespa estão próximas das máximas dos últimos cinco anos, enquanto que no universo de Small Caps esse número cai para 23%. O gap permanece expressivo, sugerindo oportunidades ainda não capturadas pelo mercado.
Mover/FLJ: Caminhamos para um início de flexibilização monetária pelo Copom no primeiro trimestre de 2026, enquanto estimativas do estafe do Federal Reserve apontam para uma pausa no ciclo de corte de juros no próximo ano. Esse potencial menor diferencial de juro entre Brasil e Estados Unidos tem possibilidade de causar uma pressão altista sobre o câmbio? Algumas assets já vêm apontando para esse risco no próximo ano.
Junqueira/Santa Fé: O menor diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos tende a reduzir a atratividade do carry trade, o que naturalmente pode gerar pressão altista sobre o dólar. Esse é apenas um dos vetores que influenciam o câmbio, mas, considerando o cenário atual, a expectativa predominante é de uma moeda americana mais forte frente ao real em 2026.
Mover/FLJ: O Banco Central fará política monetária, no próximo ano, sob a sombra do ciclo eleitoral. Em meio a um quadro de incerteza a respeito das contas públicas para 2027, qual postura seria plausível de se esperar da autoridade monetária? O BC deve ser mais cauteloso na condução do ciclo de flexibilização monetária, diante do quadro eleitoral e riscos fiscais?
Junqueira/Santa Fé: A condução cautelosa da política monetária é fundamental em um ambiente de incertezas fiscais e proximidade do ciclo eleitoral. O Banco Central tem surpreendido positivamente, e a gestão sob Gabriel Galípolo tem contribuído para reduzir volatilidade e reforçar previsibilidade. O principal risco de acelerar demais a flexibilização monetária é reacender pressões inflacionárias, o que obrigaria o BC a interromper o ciclo ou até reverter cortes. Evitar esse tipo de movimento é essencial para preservar credibilidade.
Mover/FLJ: Tem sido nítido o movimento de favorecimento, por estrangeiros, dos mercados emergentes neste ano de 2025. Desenvolvimentos importantes nas eleições de meio de mandato na Argentina, e eleições presidenciais do Chile, têm oferecido catalisadores positivos para região. O viés favorável para a América Latina veio para ficar? Governos com austeridade fiscal têm apresentado maior sustentabilidade, como Javier Milei?
Junqueira/Santa Fé: A meu ver, o movimento de alocação em emergentes não é apenas conjuntural; há elementos estruturais sustentando esse fluxo. Chile e Argentina são exemplos recentes de trades eleitorais bem definidos, mas o fenômeno vai além disso. A bolsa peruana, medida pelo ETF EPU, é um caso emblemático: acumula alta superior a 65% em 2025 em Nova York, superando inclusive o desempenho do EWZ, apesar do cenário político conturbado no país.
O que vemos é um fortalecimento da tese de que políticas econômicas mais ortodoxas e foco em sustentabilidade fiscal aumentam a resiliência das economias da região, ampliando sua atratividade para o investidor global.