Recuperação do mercado de crédito abre oportunidades nos setores de Utilities, Transportes e Logística

Área encontra-se em uma posição bastante privilegiada; entenda

Pixabay
Pixabay

Por Juliana Machado

O elevado nível da taxa básica de juros e a gradual redução do prêmio de risco nos títulos de dívida privada reforçam as perspectivas positivas para o mercado de crédito no Brasil, mesmo com a chance de cortes da Selic neste ano. Em meio a este cenário, setores como os de Utilidade Pública, Transportes e Logística despontam como oportunidades, segundo especialistas no segmento ouvidos pela Mover.

De acordo com as fontes, o mercado de crédito está em uma posição bastante privilegiada por dois motivos. Em primeiro lugar, apesar da perspectiva de corte de juros a partir de agosto deste ano, o carrego – isto é, o rendimento dos títulos de dívida privada – continuará em níveis altos e interessantes para a renda fixa, já que a maioria das estimativas é de uma Selic ainda na casa dos dois dígitos até o fim do ano.

Em segundo lugar, beneficia investidores de dívida a diminuição do chamado spread de crédito – prêmio exigido para que um investidor aceite comprar títulos de dívida corporativa e bancária ao invés de dívida soberana, considerando uma emissão com as mesmas características em remuneração e vencimento.

Até agora, os spreads subiram significativamente por fatores como a crise da Americanas (AMER3) e da Light (LIGT3), já que investidores passaram a exigir prêmios maiores nas negociações. No entanto, isso não necessariamente representou uma real piora das condições de crédito dos emissores de melhor qualidade, chamados de “high grade”. Com a perspectiva de normalização dos prêmios, os preços dos títulos sobem – e o investidor ganha com isso.

Para o analista de crédito da SWM Capital, Odilon Costa, a crise de confiança no caso da Americanas e Light, ambas em recuperação judicial, provocou um forte fluxo de resgate dos fundos de crédito, que precisaram vender ativos a preços menores para honrar resgates, o que provocou um aumento dos prêmios de risco. Agora, apesar da normalização dos resgates nesses fundos, os prêmios de crédito dos emissores ainda estão elevados, mesmo entre nomes mais defensivos.

Neste contexto, o setor de Utilities tem boa oportunidade, segundo Costa, pela maior previsibilidade de geração de caixa, em especial no segmento de Transmissão e Geração. Transportes e Logística também entram no grupo, já que oferecem receitas dependentes de veículos pesados ou do agronegócio, em segmentos como concessões ferroviárias e rodoviárias maduras e com menos necessidade de investimentos em obras.

Emissores menos defensivos e mais ligados a uma economia doméstica com sinais de melhora também surgem como alternativa nesse cenário. “Nomes com um nível de alavancagem maior ainda estão com taxas bastante estressadas. Em um ambiente macroeconômico que tende a apresentar mais otimismo, com expectativa de começo de queda de taxa de juros e aprovação de Reforma Tributária, [esses títulos] deveriam ter espaço para um fechamento [de spreads] mais expressivo”, afirmou à Mover o gestor da Iridium Gestão de Recursos, Yannick Bergamo.

Segundo dois gestores que pediram anonimato, uma das empresas interessantes no momento é a Movida (MOVI3), que atua em um setor intensivo em capital que sofre impacto da taxa de juros na precificação da sua base de ativos. Com o carrego ainda alto, mas com perspectivas de melhora na frente financeira e na precificação de contratos pelo corte de juros, associado a um fechamento de spreads, a segunda maior locadora de automóveis do Brasil entra como relevante opção para o investidor de crédito neste momento.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 14H22, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.