Por Patrícia Lara
A persistência das preocupações com o setor bancário pesa no exterior e baliza o mercado doméstico nesta sexta-feira, após o nervosismo da sessão anterior, quando a bolsa perdeu o patamar dos 100 mil pontos e encerrou em forte queda após críticas duras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central. Às vésperas de sua viagem à China, Lula tem uma reunião com ministros e líderes do Congresso nesta manhã, enquanto a sua base no Senado tenta blindar a autarquia, segundo os jornais. Na agenda de hoje, a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo de março é ponto importante para modular o debate sobre a inflação.
Antes de embarcar para a China neste fim de semana para uma visita de cinco dias, Lula tem poucos compromissos oficiais nesta sexta-feira, sendo o último deles uma reunião com nove ministros e líderes do governo no Congresso, às 10h30. O encontro vem depois de novas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após a manutenção da Selic em 13,75% na quarta-feira. A decisão era esperada, mas a divulgação pelo BC de um comunicado no qual indicou a prioridade em reancorar a inflação esvaziou a expectativa de parte do mercado e do governo com o início do alívio monetário em maio.
No front da inflação, o IPCA-15, que será divulgado às 9h00, pode rechear o debate. O consenso aponta para desaceleração do índice para 0,65% no comparativo mensal, após alta de 0,76% no mês anterior. Para a variação anual, a previsão é de 5,3%, também abaixo dos 5,63% registrados no mês anterior.
A reação aos fatos internos tem como moldura um ambiente tenso no exterior. As bolsas europeias mostravam perdas ao redor de 2% perto das 7h10 e os futuros de Nova York cediam, diante do receio com uma crise bancária. Na Bolsa de Frankfurt, as ações do Deutsche Bank reduziam a queda a 5,20%, mas caminham para a terceira queda seguida nesta sexta-feira. O tombo dos papéis da instituição alemã vem na sequência da forte alta do custo dos swaps de crédito para inadimplência, ou CDS, um derivativo criado para funcionar como um contrato de seguro para risco de inadimplência.
Outro motivo que pesa no humor dos investidores vem da Moody’s, uma das três grandes empresas de classificação de crédito. Segundo a agência, apesar da ação rápida de reguladores e formuladores de políticas, há um risco crescente de que o estresse do sistema bancário se espalhe para outros setores e para a economia dos Estados Unidos, “desencadeando danos financeiros e econômicos maiores do que prevíamos”, segundo nota distribuída ontem e citada pela CNBC.
A cautela traz fluxo para ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro americano e as taxas projetadas nos papéis, que seguem em rumo inverso aos preços e têm forte queda. O rendimento do título de 10 anos derretia 12 pontos-base, para 3,306%.
No câmbio, o dólar americano abriga recursos e dispara ante o euro. O Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante divisas pares, se apreciava 0,59%, a 103,19 pontos. O euro perdia 0,84%, a US$1,0739.
Com a desconfiança com os bancos, um dos refúgios é o ouro, que subia e voltava a atingir US$2.000 a onça-troy nesta manhã. Entre as commodities industriais, o contrato do petróleo Brent para maio derretia 3,19%, para US$73,48 o barril. A queda é reforçada por comentário da secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, que disse, ontem, a parlamentares que será “difícil” reabastecer as reservas estratégicas de petróleo este ano, gerando especulações de que o governo dos EUA só começaria a comprar a preços ainda mais baixos.
O preço do minério de ferro subiu levemente ao fim da sessão desta sexta-feira na Bolsa chinesa de Dalian, após a queda nos estoques do produto nos portos chineses na semana passada, o que é interpretado como sinal de melhora da demanda.
Nos EUA, o presidente da unidade do Federal Reserve em St Louis, James Bullard, participa de um chat sobre economia e política monetária, às 10h30. Entre os indicadores americanos, os destaques são os pedidos de bens duráveis em fevereiro, às 9h30, e os índices de gerentes de compras da S&P Global, às 10h45.
MERCADOS GLOBAIS
O contrato de ouro para entrega em abril subia 0,22%, a US$2.000,10 a onça-troy.
O minério de ferro subiu 0,29% na bolsa chinesa de Dalian, a 866,5 iuanes, ou o equivalente a US$126,43 a tonelada.
O Bitcoin perdia 1,10% nas últimas 24 horas, a US$28.122; o Ethereum recuava 1,65% no mesmo período.
MERCADOS LOCAIS
O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, mostrava queda de 1,82% no pré-mercado americano.
Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir pressionados pela aversão ao risco no exterior e pelas críticas do governo à condução da política monetária.
DESTAQUES
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na véspera que os integrantes do Comitê de Política Monetária do Banco Central vão “pagar o preço” pela taxa básica de juros elevada do país, criticando novamente o patamar da taxa Selic, de 13,75%. Sobre o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, Lula disse que quem tem que cuidar do destino dele é o Senado, mas afirmou que a autoridade monetária não está cumprindo com a sua função. (Mover)
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou na véspera que o país está preparado para tomar medidas adicionais para garantir que os depósitos bancários de norte-americanos permaneçam seguros em meio à turbulência no sistema bancário dos EUA. (Reuters)
As autoridades suíças e o banco UBS estão correndo para concluir a aquisição do Credit Suisse em menos de um mês, de acordo com fontes com conhecimento dos planos, em uma tentativa de reter clientes e funcionários da instituição. Há, entretanto, o risco de que a fusão dos dois maiores bancos da Suíça leve mais tempo. (Reuters)
Bancos europeus e americanos estão interrompendo o congelamento em contratações após a compra emergencial do Credit Suisse pelo UBS para realizar ofertas por talentos disponíveis no mercado, de acordo com recrutadores. Deutsche Bank, Citigroup e JPMorgan estão se preparando para contratar banqueiros e gestores do CS, com headhunters viajando até Zurique para realizar reuniões, de acordo com fontes. (Bloomberg)
Hong Kong anunciou medidas para atrair escritórios familiares e indivíduos ricos para se estabelecerem na cidade. As medidas, algumas já anunciadas anteriormente, incluem isenção de imposto sobre lucros para single family offices, um novo esquema de migração de investimentos e a instalação de novas instalações de armazenamento de arte no aeroporto internacional do território. As regras para listagem de ações na Bolsa de empresas estratégicas também foram flexibilizadas. (Agências)
A inflação não impediu que as vendas no varejo do Reino Unido subissem em fevereiro. O volume de bens vendidos aumentou 1,2% na comparação mensal, muito acima do consenso de 0,20%. (Agências)
A taxa de inflação anual no Japão desacelerou para 3,3% em fevereiro, ante a maior alta em 41 anos registrada em janeiro, de 4,3%. O indicador mostrou ainda a menor variação desde setembro passado, já que o custo de transporte aumentou no menor ritmo em 5 meses, enquanto os preços das tarifas de combustível, luz e água caíram pela primeira vez desde maio de 2021. (Mover)
A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica aprovou a fusão entre Fleury e Hermes Pardini sem restrições. Não havendo recurso de terceiros ou avocação pelo Tribunal do Cade no prazo de 15 dias corridos, a decisão torna-se definitiva. (Mover)
O BTG Pactual acertou a compra do FIS Privatbank, sediado em Luxemburgo, por 21,3 milhões de euros, em linha com a estratégia de expansão no continente europeu.
O FIS Privatbank atua principalmente na gestão de riquezas e ativos, tendo atingido a marca de 500 milhões em ativos sob gestão no final de 2022. (Mover)
O conselho da Petrobras aprovou proposta que prevê corrigir a remuneração fixa dos administradores da companhia em 43,88%, equivalentes ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado desde 2013. A decisão sobre os valores será tomada em assembleia geral ordinária. (Mover)
AGENDA
IPCA-15 (Brasil) – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgará o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 de março. Divulgação: 09h00. Anterior: 5,63%. Consenso: 5,30%.
Pedidos de bens duráveis (Estados Unidos) – O Departamento de Comércio americano divulgará a variação dos pedidos de bens duráveis de fevereiro. Divulgação: 09h30. Anterior: -4,50%. Consenso: 0,60%.
James Bullard (EUA) – O presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, discursará em evento econômico promovido pela Greater St. Louis Inc. Horário: 10h30.
Índice de Gerentes de Compras (EUA) – A S&P Global divulgará os Índices de Gerentes de Compras Composto, Industrial e de Serviços de março. Divulgação: 10h45. Anterior: 50,1 (Composto), 47,3 (Industrial), 50,6 (Serviços). Consenso: 49,0 (Composto), 47,0 (Industrial), 50,5 (Serviços).
Contagem de Sondas (EUA) – O Baker Hughes divulgará o número semanal de plataformas de petróleo ativas na América do Norte. Divulgação: 14h00. Anterior: 754 sondas.
Balanços (Brasil) – A Ser Educacional divulgará seus resultados do quarto trimestre de 2022 antes da abertura e a Cemig, após o fechamento dos mercados brasileiros.