Rebelião do grupo Wagner na Rússia traz implicações sobre guerra e geopolítica global, diz Eurasia

Confira a análise de Ian Bremmer sobre o tema

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Por Gabriela Guedes

A mal-sucedida rebelião armada do grupo paramilitar Wagner contra o Kremlin, neste fim de semana, simboliza falhas profundas no sistema russo e terá consequências para o país e para a guerra contra a Ucrânia, além de adicionar novos ingredientes ao caldeirão geopolítico global, segundo o presidente da consultoria de risco Eurasia, Ian Bremmer.

Em carta semanal a clientes, Bremmer explicou que o Wagner se rebelou por críticas do líder do grupo paramilitar ao ministro da Defesa russo, a quem acusa de “fraquejar” na linha de frente da guerra. Para Bremmer, o mal-estar causado pelo fogo amigo deve enfraquecer a Rússia na guerra, que se estende há mais de um ano no leste europeu, e perante aliados importantes, como a China.

Ao se queixar da desvantagem do Kremlin em alguns fronts de batalha, o líder do Wagner, Yevgeny Prigozhin, mostrou ao mundo que o treinamento e armas concedidas à Ucrânia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) são melhores do que a Rússia esperava. Outro ponto destacado por Bremmer é que a instabilidade e brutalidade dos combatentes russos aumentaram as conversas contra o Kremlin, fortalecendo, de certa forma, os países membros da organização.

Do ponto de vista da Ucrânia, o aumento de deserções e a moral cada vez mais abalada do exército russo inspirados pelo Wagner constituem uma “janela de oportunidades” para o conflito, com a possibilidade cada vez maior de um ataque ucraniano à ponte de pedra que liga a Rússia à Crimeia – o que representaria uma vitória decisiva para o país invadido.

No front geopolítico, a insurgência do Wagner nos últimos dias expôs uma Rússia mais fraca entre seus vizinhos e com um único aliado leal, a Bielorússia, cujo impopular presidente, Aleksandr Lukashenko, foi o responsável por negociar a rendição do líder dos paramilitares.

Até mesmo a China, parceira do Kremlin na infraestrutura da guerra, deve considerar as consequências dos conflitos internos da Rússia dos últimos dias e repensar seus planos de uma intervenção militar em Taiwan, além de continuar na defensiva no conflito europeu por medo de sanções globais. Segundo Bremmer, Xi Jinping valoriza seu relacionamento com o presidente russo Vladimir Putin, mas não está disposto a assumir riscos domésticos para ajudar seu aliado.

Entre os pontos negativos, apesar da rebelião do grupo Wagner, a Rússia continua controlando a maior usina nuclear da Europa, localizada em território ucraniano, e esta, segundo Bremmer, é a maior arma do Kremlin no conflito.

Bremmer lembrou ainda que, por muito menos, oponentes de Putin perderam a vida, mas que uma luta contra Prigozhin e o Wagner a essa altura da guerra enfraqueceria ainda mais o exército do Kremlin. O presidente da Eurasia, no entanto, não descarta que Prigozhin seja morto ou preso até o fim deste ano – o que, de certa forma, mostra que muitas coisas continuam iguais no velho continente.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 14H53, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.