São Paulo, 28/11/2024 – O real tinha o pior desempenho ante o dólar norte-americano em uma cesta de 23 divisas acompanhada pela Mover na tarde desta quinta-feira, descolando-se do peso mexicano – par emergente – desde a abertura da véspera, com operadores da moeda digerindo a frustração do pacote de contenção de gastos, apresentado em conjunto com a isenção do Imposto de Renda para até R$5.000 mensais – medida esta fora do radar dos agentes do mercado – e que turvou perspectivas do compromisso do governo com a austeridade fiscal.
O real registrava depreciação em torno de 4,22% ante o peso mexicano desde a abertura do pregão de quarta, enquanto a divisa do México tinha a segunda melhor performance, no dia, ante o dólar americano, de acordo com levantamento da Mover. Frustrações com o pacote de contenção de gastos, altamente aguardado há semanas, pressionam o real, os vértices da curva de juros, e o mercado acionário.
A melhora do fluxo para a moeda mexicana também coincide com um relatório publicado ontem pelo JP Morgan, favorecendo as ações mexicanas pelo “benefício da dúvida” do novo governo eleito, enquanto a equipe de analistas do banco rebaixou a recomendação para o mercado acionário do Brasil a “neutro”, citando preocupações fiscais.
“O México está relativamente mais barato e com lucros mais estáveis para as empresas, e o país merece o benefício da dúvida. Os mexicanos estão reduzindo juros, enquanto o Brasil está aumentando, e deve levar a Selic a 13% até maio de 2025”, destacou o JP Morgan. A curva de juro já precifica Selic terminal a 14,5% – denotando um ciclo de aperto de 325 pontos-base pelo BC, com a Selic atual em 11,25%.
A depreciação significativa do real na sessão desta quinta, com os futuros do dólar renovando máximas históricas, também suscitou questionamentos, entre operadores, acerca de uma potencial intervenção do Banco Central no mercado. No “X”, o CEO da Armor Capital, Alfredo Menezes, pontuou que em condições normais, a autoridade monetária deveria intervir no câmbio. “Mas acredito que não queira quebrar o termômetro, para passar um recado.”
Na véspera, o CIO do TC, Pedro Albuquerque, afirmou que intervenções no câmbio não têm sido características do atual Banco Central. “Não sei se o BC entra. É incógnita”, complementou. O BC atuou no câmbio pela última vez por meio de um leilão de linha – com compromisso de recompra – de até US$4,0 bilhões em 13 de novembro, movimento atribuído por traders à demanda típica pela moeda norte-americana na reta final do ano.
Por volta das 12h00, o dólar futuro avançava 0,47%, aos R$5,991. Na máxima do dia, às 09h02, os futuros da moeda americana alcançaram R$6,003 – maior patamar desde o início da implementação do Plano Real, em 1994. Dados levantados pela Mover às 12h30 desta quinta indicavam fluxo comprador dos futuros da moeda americana liderado por BTG CV, Morgan CV e Tullett CV.
Apesar do estresse do câmbio em relação ao cenário fiscal brasileiro, o dólar vem ganhando força ante moedas globalmente, especialmente sobre emergentes, após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, em novembro, com uma plataforma de governo protecionista, política esta que detém potencial de fortalecer o dólar ante divisas, além de limitar o ciclo de afrouxamento monetário do Federal Reserve. No mês, o DXY acumula alta superior a 2%.
A Fazenda anunciou, mais cedo, estimativa de economia de R$71,9 bilhões pelos próximos dois anos com o pacote de contenção de gastos, acoplado com a proposta de isenção de Imposto de Renda para salários de até R$5,0 mil mensais – fora do radar dos operadores – e que gerou incertezas sobre o impacto final do conjunto de medidas para as contas públicas e também sobre o real compromisso do governo com medidas de austeridade.