Powell: Condições de crédito mais rígidas aliviam pressão sobre aperto monetário

Investidores aumentaram as apostas de manutenção dos juros na reunião do FOMC de junho

Facebook/Federal Reserve
Facebook/Federal Reserve

Por: Gabriel Ponte, Luca Boni e Patricia Lara

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta sexta-feira que condições de crédito mais apertadas na economia americana aliviam a pressão sobre o banco central elevar os juros, embora não haja decisão sobre se as taxas já se encontra em nível “suficientemente restritivo”.

“O objetivo é alcançar um nível de política monetária no qual os juros estejam em patamar suficientemente restritivo. Ainda não foi tomada nenhuma decisão sobre quanto mais de aperto pode ser adequado”, afirmou Powell, em uma conferência econômica.

Para Powell, os efeitos posteriores da recente turbulência bancária na economia local podem significar que a taxa básica de juros não precise “subir tanto quanto precisaria” para alcançar as metas do Fed. Powell endossou, por outro lado, ser um momento de “elevada incerteza”. 

Embora investidores projetem que o ciclo de aperto monetário do Fed pode ter chegado ao fim após a alta de 25 pontos-base dos juros na reunião de maio, Powell frisou que a inflação permanece “muito acima” da meta perseguida pelo banco central, de 2,0%. A taxa básica de juros americana encontra-se no intervalo entre 5,00% a 5,25%. 

Também em sua visão, os dados recentes parecem endossar a leitura do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), de que levará tempo para que ocorra a desinflação na economia local. Na sequência, Powell pontuou que os investidores precificaram recentemente um “caminho diferente” para os juros, o que parece refletir uma projeção de queda rápida da inflação. 

Questionado sobre o uso de “forward guidance”, ou orientação futura, pelo Fed em suas decisões, Powell afirmou que o mecanismo “depende das circunstâncias”, e é mais útil quando a autoridade possui visão mais clara das coisas. 

“Até recentemente, era claro que mais aperto era necessário. Agora, o Fed já caminhou bastante e tem incerteza sobre os efeitos defasados da política monetária. A nossa orientação hoje é limitada a avaliar condições que possam exigir mais aperto”, complementou. 

Investidores aumentaram as apostas de manutenção dos juros na reunião do FOMC de junho. No início da tarde, derivativos negociados na Chicago Mercantile Exchange (CME) projetavam 85,0% de chances de juros inalterados, ante 63,1% no fim da manhã. As apostas de alta de 0,25 ponto percentual recuaram a 15,0%, ante 36,9%. A próxima reunião do FOMC ocorre nos dias 13 e 14 de junho. 

Reação dos mercados

Em Wall Street, os principais índices acionários operavam em queda, após comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. O mercado acompanha ainda as discussões sobre o teto da dívida americana.

Perto das 12h30, o Dow Jones, o S&P500 e o Nasdaq 100 recuavam 0,33%, 0,22% e 0,28%, respectivamente. Ontem, o S&P500, registrou o maior nível de fechamento desde agosto de 2022, e o Nasdaq 100, desde abril de 2022.

No mesmo horário, os títulos do Tesouro americano reverteram os ganhos e operavam em queda. Os Treasury yields de dez anos caíam 0,8 ponto-base, a 3,642%, e os de dois anos, 3,7 pbs, a 4,221%.

Em um evento econômico hoje, Powell declarou que os juros nos Estados Unidos podem não precisar avançar tanto, devido à contração de crédito, mas voltou a repetir que o Fed está comprometido em trazer a inflação à meta e que não existe ainda uma decisão sobre se o atual patamar dos juros é “suficientemente restritivo”. O mercado reagiu negativamente às falas.

Segundo apuração da Associated Press, as negociações entre legisladores da Câmara dos Representantes e o presidente americano Joe Biden sobre o aumento do teto da dívida do governo federal foram interrompidas. A data final para que autoridades americanas entrem em um acordo para evitar um calote é 1 de junho.

BOLSA

O Ibovespa acelerava o movimento de alta no início da tarde, com as ações da Petrobras e da Eletrobras impulsionando o índice, enquanto as da Vale pressionavam. Investidores seguem repercutindo a divulgação de indicadores econômicos locais e atentos a declarações de autoridades de política monetária brasileiras e americanas, em busca de pistas sobre os rumos das taxas de juros dos dois países.

Por volta das 12h59, o Ibovespa subia 0,53%, aos 110.694 pontos. O volume de negócios projetado para hoje é de R$19,3 bilhões, acima da média de 50 pregões.

As ON e PN da Petrobras avançavam 0,86% e 0,62%, respectivamente. Ontem, a estatal anunciou que fará um pedido de reconsideração ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), após o órgão ambiental ter rejeitado à estatal uma licença para uma perfuração inicial na Foz do Amazonas. Os contratos futuros do petróleo Brent apagaram os ganhos e recuavam 0,33% cotados a US$75,62 por barril.

As ON da Eletrobras ganhavam 2,80%. As ON da Minerva, Marfrig e MRV subiam 6,17%, 5,91% e 5,80%, na mesma ordem, figurando entre as maiores altas percentuais do Ibovespa.

Em uma sessão predominantemente positiva para o mercado acionário em geral, apenas 18 dos 86 ativos que compõem o Ibovespa recuavam. O destaque negativo era das ON do BB Seguridade, que caíam 1,63% e lideravam as perdas percentuais do índice, projetando um volume 188% acima da média de 50 pregões.

As ON da Vale recuavam 0,26%, em linha com o recuo de 1,41% do minério de ferro na bolsa chinesa de Dalian na madrugada. Ontem, o mercado repercutiu notícias ainda não confirmadas de que a Vale recebeu no início da semana uma proposta vinculante para a compra de participação em sua divisão de metais básicos. Segundo reportagem do Valor Econômico, as ofertas deverão ser analisadas pelo conselho da Vale em 25 de maio.

As ações do setor Financeiro operavam com viés divergente. As PN do Itaú perdiam 1,26%, enquanto as PN do Bradesco e as ON do Banco do Brasil ganhavam 2,10% e 0,90%, respectivamente.

A sessão de hoje também é marcada pelo vencimento de opções sobre ações na B3, o que pode trazer volatilidade para o mercado.

JUROS

As taxas dos contratos de juros futuros subiam, ainda que tenham deixado as máximas vistas no fim da manhã, quando os vencimentos de longo prazo chegaram a escalar 10 pontos-base. O movimento ocorre em sintonia com o dos Treasury yields, que subiam em reação aos comentários do presidente do Fed mais cedo.

Por volta das 13h00,o s DIs com vencimento em Jan/25 subiam 2 pontos-base, a 11,72%. O DI Jan/33 apontava alta de 13 pbs, a 12,05%.

Divulgado mais cedo, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,15% em março na base mensal, contração mais branda do que a queda de 0,30% esperada pelo consenso. Vale lembrar que as vendas no varejo e o volume do setor de serviços de março vieram inesperadamente robustos.

No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), participa do Seminário do BC em São Paulo, às 14h00, junto com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. Ontem, Haddad afirmou que o governo elevou a projeção para o Produto Interno Bruto deste ano, para 1,9%, ante 1,6%.

O Bradesco também elevou a previsão para o PIB do primeiro trimestre de 1,3% para 1,5%, em relatório divulgado hoje pelo economista-chefe Fernando Honorato. O banco citou a surpresa positiva dos dados do varejo e de serviços de março. Quanto às especificidades inseridas no projeto de arcabouço fiscal, o Bradesco prevê que o governo dependerá ainda mais do aumento de receitas para alcançar a meta de resultado primário zero em 2024.

CÂMBIO

O dólar à vista subia 0,37% na B3, a R%4,9840, por volta das 12h35, com o real mostrando o segundo pior desempenho em uma cesta de 22 moedas acompanhadas pela Mover, perdendo apenas para o peso argentino.

O movimento vai na contramão do rumo do Índice DXY, que cedia 0,40%, aos 103,10 pontos.

No mesmo horário, o dólar futuro avançava 0,31% na B3, a R$4,993. Temores na cena local brasileira aumentaram com os novos mecanismos de flexibilização da regra fiscal incluídos pelo relator do projeto, deputado Claudio Cajado (PP), dando força à hipótese de aumento dos gastos públicos nos próximos anos.

O dia também é marcado pelo pagamento da primeira parcela dos dividendos complementares da Petrobras referentes ao exercício de 2022 para detentores de ações ON e PN. O pagamento de dividendos relativos aos American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobras negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) ocorrerá a partir de 26 de maio através do JP Morgan Chase, banco depositário dos ADRs da Petrobras.