Por Bruno Andrade
O comunicado divulgado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) seguiu uma linha mais dura que a esperada pelo mercado. A autoridade monetária deixou claro que não vai hesitar em retomar o ciclo de alta de juros caso a inflação não arrefeça.
“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, disse o Banco Central em nota divulgada nesta quarta-feira (22).
No comunicado, o BC também mencionou os recentes episódios de turbulência bancária nos Estados Unidos e na Europa como causas de “volatilidade e incerteza”. Ainda segundo o comunicado, “dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetárias nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista.”
O economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, enxerga que a ata “praticamente descarta” a hipótese de corte na Selic em maio e junho.
“O final da ata se mostra bem conservador. O Copom reforça que irá perseverar sua estratégia de manutenção da taxa e citou em diversas oportunidades a desancoragem das expectativas a longo prazo”, disse Borsoi.
Segundo o economista, o comunicado abordou tópicos que já eram esperados como o cenário de risco no exterior e a desaceleração da atividade econômica à vista, mas ressaltou a abordagem de consolidar o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, o comitê foi na contramão das expectativas do mercado, que esperavam um tom mais leve e até mesmo uma eventual sinalização de quando começaria o ciclo de corte de juros.
“O BC deve manter a Selic no patamar atual por mais tempo, até que haja uma real deterioração da inflação”, disse. Ele comenta também que o indicativo para uma eventual luz no fim do túnel pode ser o novo arcabouço fiscal, que pode sinalizar que o governo estaria no mesmo time que o BC, o de combate à inflação.
“Além disso, um cenário externo menos conturbado poderia ajudar, o que tornaria válido uma eventual nova discussão sobre corte de juros no segundo semestre de 2023”, explicou.
As próximas reuniões do Copom vão ocorrer nos dias 2 e 3 de maio e 20 e 21 de junho.
Os impactos econômicos da decisão do Copom são incertos, mas é praticamente seguro o recrudescimento da disputa entre Lula e o presidente do BC.
A equipe de Campos Neto vem sofrendo pressões políticas de Lula, segundo o qual o patamar de 13,75% ao ano é considerado elevado. O presidente exige uma redução imediata da taxa.
“A primeira coisa que eu acho absurda é a taxa de juros estar a 13,75% num momento em que temos o juro real mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda”, argumentou Lula antes da decisão do Copom, em entrevista ao site Brasil 247.
O líder petista também lamentou não poder demitir o presidente do Banco Central. “Eu não posso demitir porque isso depende muito do Senado”, disse. A fala do chefe do Executivo remete à lei de autonomia do Banco do Central, aprovada no governo de Jair Bolsonaro, que só permite a exoneração do presidente do BC com o apoio de 41 senadores, número difícil de ser alcançado.
* Com Fabricio Julião