Minério de ferro pode ser investimento resiliente mesmo em caso de recessão nos EUA, diz especialista

Segundo especialista Gilberto Cardoso, uma recessão americana não deve impactar fortemente o setor de mineração

Unsplash
Unsplash

Por: Artur Horta e Luciano Costa

O risco de uma recessão econômica nos Estados Unidos neste ano não deve impactar fortemente o setor de mineração e seus investidores, devido à perspectiva de que os preços da commodity deverão manter a força com os esforços para o reaquecimento da economia chinesa, disse à Mover o especialista Gilberto Cardoso, que acompanha o setor há mais de 20 anos.

Os preços do minério de ferro caem quase 5% na bolsa chinesa de Dalian desde o final do Ano Novo Chinês, em 30 de janeiro, mas esse movimento acontece porque o mercado já precificou o maior otimismo com o fim das políticas anti-Covid do gigante asiático, explicou Cardoso, presidente da Tarraco Commodities e contribuidor da OhmResearch.

Cardoso lembrou que os preços do minério de ferro tiveram um rali entre novembro do ano passado e janeiro, com investidores tentando antecipar o ritmo de recuperação da economia chinesa. “O mercado agora vai negociar os números reais da China, para ver se a recuperação foi superestimada ou não”.

O especialista estima que o patamar de preço equilibrado para a tonelada do minério de ferro é de cerca de US$130 diante do cenário de oferta e demanda previsto para 2023, com um “piso” acima de US$100 por tonelada para a commodity.

“A China deve aumentar a produção de aço por volta de 2% a 3% neste ano, e as mineradoras estão basicamente mantendo a produção do ano passado”, disse Cardoso, sobre as previsões.

A perspectiva otimista para a atividade chinesa deve-se a promessas do governo local de reaquecer a atividade econômica, após o país ter registrado crescimento de 3,2% do Produto Interno Bruto em 2022, bem abaixo da média 6,6% registrada nos últimos 10 anos.

Nos últimos meses, Pequim tem implementado medidas de estímulo econômico, como a maior liberação de crédito para incorporadoras. Analistas dizem ainda que acelerar a economia chinesa é uma das principais metas do presidente Xi Jinping, que precisa recuperar sua popularidade após um longo período da política Covid-Zero, que impôs fechamentos de grandes centros urbanos e paralisações no setor manufatureiro.

Na madrugada desta segunda-feira, os contratos futuros de minério mais negociados na Dalian Commodity Exchange da China encerraram em alta de 0,90%, a US$125,85 por tonelada.

REFLAÇÃO

Segundo Cardoso, o minério de ferro pode ser uma boa proteção contra uma potencial reflação – o movimento de alta acelerada de preços após um período de crise e recessão econômica.

Ele explicou que em um cenário de maior demanda na China, o gigante asiático pode “exportar inflação para o mundo, o que tornaria mais difícil o cumprimento da meta de inflação anual de 2% nos Estados Unidos”, afirmou Cardoso. Assim, o minério de ferro torna-se um ativo interessante aos investidores, “por ser ligado ao setor industrial chinês”, avaliou.

Ainda que defenda a tese de resiliência da commodity siderúrgica, Cardoso reconheceu que o atual cenário ainda impõe algumas dificuldades para as mineradoras.

No ano passado, as vendas de residências na China derreteram 28,3%, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas. Ainda há um excedente de estoques a ser vendido pelas incorporadoras, o que deve culminar em grandes descontos nos imóveis do país antes de novos lançamentos. “Acho que o mercado de construção civil começa a andar somente no segundo semestre”, previu.

Em entrevista hoje à TC Rádio, o gestor do fundo multimercado Asa Hedge, Marcio Fontes, disse acreditar que a recuperação chinesa será mais calcada em serviços, e não na incorporação imobiliária.

Fontes também aposta que a situação econômica pode piorar significativamente nos EUA. Segundo o gestor, o super núcleo da inflação no país ainda está acima da meta de 2% do Federal Reserve e, para que esta seja cumprida, é necessário um aumento da taxa de desemprego.

“Houve um tempo virtuoso em que a inflação americana caía sozinha, mas o contexto voltou a ser o que era, ou seja, para colocar a inflação na meta, essa taxa de desemprego precisa subir ao ponto de assistirmos uma recessão”, avaliou.

Para Cardoso, no entanto, mesmo que a demanda por aço no segmento industrial americano caia diante de uma recessão, é preciso considerar que “a importação de minério de ferro pelos EUA é muito baixa se comparada à da China”. Nesse sentido, o especialista entende que uma eventual perda de demanda nos EUA deva ser “facilmente compensada por outros mercados”.