Mercados caem após Fed apontar para nova alta de juros no fim do ano

No Brasil, Copom mais firme pode pesar

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Por: Leandro Tavares

Um dia depois de o Federal Reserve manter inalterada a taxa de juros nos Estados Unidos, as bolsas internacionais operam em baixa, repercutindo o comunicado da autoridade monetária, que projeta um novo aumento dos juros ainda este ano. No Brasil, os investidores digerem o corte da Selic em 50 pontos-base.

Como a manutenção dos juros pelo Fed já estava precificada, os agentes se atentaram aos detalhes do comunicado, que endureceu a postura, com a projeção de um novo aumento dos juros ainda este ano e um cenário ainda muito apertado em 2024, uma vez que a inflação está muito acima da meta de 2%. 

Na Europa, além da decisão do Fed, os investidores aguardam a decisão de juros pelo Banco do Inglaterra (BoE), às 8h, que tem a expectativa de uma elevação na taxa em 25 pontos-base, passando de 5,25% para 5,5% ao ano, um dia depois de os dados de inflação no Reino Unido virem melhor que o esperado. 

Às 11h, está previsto um discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, além da divulgação do índice de confiança do consumidor na zona do euro de setembro, com expectativa de um queda de 16,5 pontos. 

Na Ásia, os mercados encerraram em queda, influenciados pela decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). Nem mesmo a elevação do tom do governo chinês, que vai acelerar a adoção de medidas de estímulos, foi suficiente para animar os agentes. A China informou que vai acelerar a adoção de medidas para consolidar a recuperação econômica e desenvolver um setor industrial avançado. 

Além disso, o gigante asiático vai pressionar para que as medidas já lançadas entrem em vigor e mobilizem totalmente o entusiasmo das empresas.  

Essa iniciativa é muito bem vista pelo mercado, já que, a depender das novas medidas, elas têm o potencial de fazer emergir o mercado imobiliário e o financeiro, propulsores da economia local.  

Nos EUA, com uma decisão de juros sem surpresa, os agentes se debruçam pelas novas projeções da economia contidas no “Dot-Plot”. No documento, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) foi revista de 1,0% para 2,1% em 2023, enquanto para 2024 a expansão econômica subiu para 1,5%, ante 1,1%.

Os membros do Fed também mantiveram a projeção para o nível terminal dos juros neste ano, a 5,6% – sem mudanças em relação a junho. Essa projeção implica em mais uma alta da taxa-alvo Fed Funds em 25 pontos-base, para o intervalo entre 5,50% e 5,75%.  

Durante coletiva de imprensa, logo após a decisão que manteve a taxa, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que manter o patamar de juros não significa que o nível procurado foi atingido, uma vez que trazer a inflação à meta de 2% é um processo longo.

“Estamos preparados para elevar mais os juros, caso seja necessário. A maioria dos membros do Fed creem ser provável mais uma alta dos juros, uma vez que a inflação segue bem acima da meta perseguida pela Fed”, afirmou Powell.

Na agenda do dia, destaque para os dados semanais de seguro-desemprego, às 9h30, que tem a previsão de 225 mil novos pedidos, uma alta em comparação à semana anterior, quando havia registrado 220 mil. 

No mesmo horário, ainda serão divulgados o saldo da conta corrente de junho, com previsão de déficit de US$221 bilhões, e o índice de manufatura do Fed de Filadélfia, que tem consenso de uma queda de 0,70% em setembro. Às 11h, será a vez da venda de casas usadas de agosto.

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic em 50 pontos-base, como esperado pelo mercado, reduzindo a taxa de 13,25% para 12,75% ao ano.

No comunicado, o colegiado indicou que manterá a magnitude de corte de 50 pbs na próxima reunião, e que este é o ritmo adequado para o processo desinflacionário no país. Porém, o BC enfatizou a importância do equilíbrio das contas públicas para a ancoragem das expectativas de inflação, como a meta do governo de déficit zero em 2024. 

Um dia depois da decisão, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de volta ao país depois de acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Nova York, almoçam em Brasília.

Às 10h, a Receita Federal vai divulgar os dados da arrecadação do mês de agosto, com uma estimativa de R$172,5 bilhões, sendo que em julho o número foi de R$201,8 bilhões.  

No âmbito político, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Sem partido), afirmou, ontem, que a votação do Desenrola Brasil, programa para renegociação de dívidas, será a prioridade do Senado na semana que vem. Isso porque a data limite para aprovar a matéria é o dia 3 de outubro. 

Ontem, o Ibovespa encerrou em alta, após manutenção dos juros nos EUA e à espera do Copom, que cortou a Selic em 50 pbs. No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta, impactado pelas declarações mais duras do Fed.

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MERCADOS GLOBAIS

Perto das 07h00, o futuro dos índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 operavam em queda de 0,31%, 0,48% e 0,68%, respectivamente. 

O Índice Stoxx Europe 600 caía 0,93%, enquanto o índice alemão DAX tinha baixa de 0,85% e o britânico FTSE-100 tinha queda de 0,55%. Entre os setores, destaque para o segmento de energia, que caía 0,90%. 

O dólar americano operava em alta em comparação aos pares. O DXY subia 0,06%, aos 105,504 pontos. No geral, as moedas operam sem direção única, com destaque para o rand-sulafricano, que cai 0,38%. 

Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, ou T-Notes, operam em alta de 2 pontos-base, a 4,433%. 

Na Ásia, o índice HSI de Hong Kong caiu 1,29%, enquanto o Xangai Composto teve queda de 0,77%. O índice Nikkei 225, da bolsa de Tóquio, caiu 1,37%. 

O minério de ferro com teor de concentração de 62%, negociado na bolsa de Dalian, caiu 1,90%, às 6h00, cotado a US$116,86 por tonelada. 

O petróleo tipo Brent, que serve como referência para a Petrobras, operava em baixa de 0,89%, a US$92,70.

O Bitcoin tinha queda de 1,12% nas últimas 24 horas, a US$26.722,00; o Ethereum caía 1,07% no mesmo período. 

MERCADOS LOCAIS

Bolsa: O Ibovespa futuro deve abrir em queda, após as decisões de política monetária aqui e nos EUA, além da queda das commodities, que deve impactar Vale e Petrobras. O índice tem suporte mínimo em 114 mil pontos e resistência máxima em 128.800 pontos, segundo o BB Investimentos.

Câmbio: O dólar futuro deve abrir em alta, mesmo movimento visto ontem, depois de tanto o Fed quanto o Copom adotarem discurso mais duro. 

Juros: Os contratos de juros futuros na B3 devem operar em baixa. Os juros futuros nos EUA operam em alta, após o Fed deixar a porta aberta para novo aumento da taxa. 

DESTAQUES

O Comitê de Política Monetária do Banco Central indicou no comunicado divulgado nesta quarta-feira que manterá a magnitude de corte de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do colegiado, e que este é o ritmo adequado para o processo desinflacionário no país. O Copom também pontuou que a magnitude do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica de componentes de inflação mais sensíveis à política monetária. (Mover)

O Copom também enxergou um ambiente “mais incerto” no cenário externo, ante somente “incerto” em agosto, diante da continuidade do processo de desinflação, a despeito dos núcleos de preços ainda elevados e de um mercado de trabalho resiliente em diversos países. O colegiado também citou, nominalmente, a perspectiva de menor crescimento da China e a elevação das taxas de juros de longo prazo nos EUA. (Mover)

O FOMC manteve os juros americanos no intervalo entre 5,25% e 5,50%, e realizou pequenas alterações no comunicado da decisão, entre elas a de que o FOMC reconhece que a atividade econômica avança em ritmo “sólido” – em julho, o termo usado foi “moderado”. O comitê reconheceu que a geração de empregos desacelerou, embora ainda seja forte no país. (Mover)

Na coletiva de imprensa que se seguiu à decisão, Powell afirmou que as autoridades do Fed estão “preparadas” para elevar os juros se necessário e devem mantê-los em nível restritivo até que estejam “confiantes” de que a inflação caminha em direção à meta de 2,0% ao ano. “A maioria das autoridades crê ser mais provável mais uma alta do juro do que não fazê-la”, disse. (Mover)

O Fed elevou sua projeção para o crescimento econômico dos Estados Unidos neste ano e no próximo, na esteira de dados recentes que indicaram que a economia americana tem se expandido em ritmo “sólido”, de acordo com o mais recente “Dot-Plot”. No relatório, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) foi revista a 2,1% em 2023, ante 1,0% previsto no “Dot Plot” anterior, divulgado em junho. O Fed também projetou expansão econômica para 2024, a 1,5%, ante 1,1% (Mover)

Aumenta a pressão contra MP que tributa incentivo fiscal. O governo espera arrecadar R$35,3 bilhões em 2024 com a MP 1.185, mas há grande mobilização empresarial para impedir sua aprovação. (Valor)

Para especialistas, momento é de diversificar carteira da renda fixa. Os analistas dizem ainda que o ciclo de baixa da taxa básica de juros pede atenção para bons negócios que podem surgir na Bolsa. (Estadão)

GM projeta venda ruins até 2024 e diz que precisa reestruturar fábricas. A montadora teve programa de demissões voluntárias rejeitado nas unidades de São Paulo na semana passada, mas diz que ajustes na produção serão necessários. (Estadão) 

A nova oferta da Stellantis NV para o sindicato dos trabalhadores nos EUA carece das garantias de segurança no emprego que a entidade deseja, disse um negociador, sugerindo que os trabalhadores rejeitarão a oferta. A proposta contém um aumento salarial semelhante aos 19,5% já oferecidos anteriormente. (Bloomberg)