Por Patrícia Lara
Os mercados param novamente para ouvir o presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Jerome Powell, que participa de sabatina na Câmara dos Estados Unidos nesta quarta-feira, em busca de sinais que possam contemporizar a expectativa de uma alta mais forte da taxa de juros no país. Após sua fala mais dura ontem, as bolsas europeias e os futuros dos índices americanos seguem cautelosos nesta manhã. No Brasil, as declarações penalizaram a bolsa e puxaram o dólar. As taxas de juros dos contratos futuros, contudo, resistiram em queda diante da possibilidade de antecipação de cortes da taxa básica Selic.
Powell presta depoimento hoje ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, às 12h00. Ontem, o presidente do Fed disse que o BC americano poderia considerar um aumento das taxas de juros em meio ponto percentual neste mês e provavelmente poderá elevar as taxas mais do que o esperado para esfriar uma economia surpreendentemente forte e que alimenta uma inflação persistente. Com a sinalização, os derivativos negociados na CME Group mostram hoje que 73,5% das apostas são em uma probabilidade de alta de 50 pontos-base das Fed Funds, para 5,00% a 5,25%, na reunião de 22 de março. Há uma semana, essa chance era de apenas 29,9%.
Nesse cenário, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante principais divisas pares, prolonga ganhos e sobe 0,11%, a 105,73 pontos. Os juros projetados nos títulos de curto prazo do Tesouro dos EUA operam em alta, com a taxa de 2 anos em elevação de 2,8 pontos-base, a 5,043%, no maior nível em 14 anos. As taxas longas sobem com menos intensidade.
No mercado de juros futuros no Brasil, prevaleceu ontem a leitura de que a perda de força da atividade pode dar ao BC espaço para iniciar o processo de alívio monetário já neste ano. Diante da economia fraca, os fundos multimercados tiveram o maior resgate líquido da indústria em fevereiro, da ordem de R$15 bilhões, informou ontem a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima. O mesmo movimento foi visto na poupança, que teve saída líquida de R$11,5 bilhões em fevereiro. Esse foi o maior valor de resgate para o mês da série histórica, iniciada em 1995, informou o BC na segunda-feira.
A atividade na Zona do Euro, por sua vez, segue sem sinais claros de estabilização. As vendas no varejo da Alemanha tiveram uma queda inesperada de 0,3% em janeiro, no comparativo mensal, contrastando com o consenso que era de alta de 2,0%. Mas a produção industrial de janeiro no país avançou 3,5%, acima do consenso e mostrando aceleração da queda revisada em dezembro, de 2,4%. Foi o ritmo mais robusto de produção em 2 anos e meio. O Produto Interno Bruto na Zona do Euro ficou estagnado no quarto trimestre de 2022, confirmando as expectativas.
No mercado de commodities, o contrato futuro do minério de ferro prolonga os ganhos da véspera com expectativa de demanda do setor siderúrgico da China, já que o país deve entrar no pico da temporada de construções. Já a cotação do barril de petróleo Brent opera perto da estabilidade, após tombo de mais de 3% da véspera com a possibilidade de aperto do consumo dos americanos em meio à perspectiva de alta mais agressiva da taxa de juros do país.
Além de Powell, ficam no radar hoje os dados do mercado de trabalho do setor privado americano em fevereiro calculados pela ADP, com o consenso apontando alta de 200 mil vagas. O dia também trará a divulgação do Livro Bege, com um panorama do Federal Reserve sobre as condições da economia americana. No Brasil, saem dados de fluxo cambial e o dia volta a ser movimentado por balanços corporativos, incluindo os da 3R Petroleum e da CSN após o fechamento do pregão.
MERCADOS GLOBAIS
O futuro do petróleo Brent para entrega em maio subia 0,12%, a US$83,38 o barril.
O minério de ferro encerrou a sessão na China em alta de 0,77% na Bolsa de Dalian, a 911,5 iuanes, ou o equivalente a US$130,74 a tonelada.
O Bitcoin cedia 0,70% nas últimas 24 horas, a US$ 22.097; o Ethereum recuava 0,36% no mesmo período.
MERCADOS LOCAIS
O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, cedia 0,33% no pré-mercado americano.
Os contratos de juros futuros na B3 podem prolongar queda com o ajuste à expectativa de antecipação do alívio monetário pelo Banco Central brasileiro.
DESTAQUES
O secretário André Ceciliano, responsável pelos assuntos federativos da secretaria de Relações Institucionais do Planalto, afirmou ontem a jornalistas, após reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que está claro que a Reforma Tributária resultará em ganhos de arrecadação para a União. A fala contradiz declarações recentes do secretário extraordinário da reforma no Ministério da Fazenda, Bernard Appy, que tem insistido que a matéria prevê a manutenção da carga tributária atual. (Mover)
Appy participa hoje de audiência do Grupo de Trabalho para a reforma tributária na Câmara, que discutirá as Propostas de Emenda à Constituição 45, que tramita na Casa, e a 110, que tramita no Senado. Também estarão presentes o senador Davi Alcolumbre (União Brasil), autor da PEC 110, e o ex-senador Roberto Rocha, relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. (Mover)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve apresentar hoje, Dia Internacional da Mulher, projeto de lei para garantir igualdade de salários entre homens e mulheres no Brasil. ‘Multa por falta de igualdade salarial vai doer no bolso’, disse a ministra do Planejamento, Simone Tebet, ontem, segundo os jornais. (Mover)
A General Motors aceitou ontem interromper o processo de demissões iniciado na semana passada na fábrica de São José dos Campos. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, a decisão ocorreu após paralisação dos metalúrgicos na manhã dessa terça-feira. Neste primeiro acordo, a GM garantiu a estabilidade para todos até o dia 19 de abril, quando acontece uma nova reunião. (Mover)
O Goldman Sachs elevou as projeções para o nível terminal da taxa-alvo Fed Funds, para o intervalo entre 5,50% e 5,75%, após testemunho duro de Powell perante o Comitê Bancário do Senado na véspera. As falas do chair do Fed deixaram a porta aberta para potencial alta de 0,50 ponto percentual dos juros na reunião de março. (Agências)
As mulheres americanas estão retornando ao mercado de trabalho americano, o que tem ajudado a impulsionar a economia diante da alta inflação e do aumento das taxas de juros. As mulheres ganharam mais empregos do que os homens por quatro meses consecutivos, inclusive no aumento de contratações de janeiro, levando-as a deter mais de 49,8% de todos os empregos não agrícolas. (WSJ)
O Twitter pode igualar as receitas e despesas em seu fluxo de caixa no segundo trimestre, e tem chances de se tornar positivo, pontuou Elon Musk, CEO da companhia, em evento do Morgan Stanley na véspera. Musk disse que a empresa tem trabalhado para tornar seu segmento de publicidade mais relevante. Em suas projeções, a companhia pode se tornar a “maior instituição financeira global”. (Agências)
A Adidas reduziu seu dividendo depois de sofrer um prejuízo operacional trimestral, com a queda à metade das vendas na China e com acúmulo de tênis Yeezy não vendidos após a decisão da marca de romper os laços com o rapper Kanye West. O grupo alemão cortou seu dividendo anual em 79%, para 70 centavos de euro, de 3,30 euros no ano passado. No quarto trimestre, a empresa teve prejuízo de 724 milhões de euros, ainda que melhor do que as expectativas dos analistas de um prejuízo de 782 milhões de euros. (Financial Times)
AGENDA
Empregos ADP (Estados Unidos) – A Automatic Data Processing divulgará o Relatório Nacional de Emprego americano de fevereiro, com a variação de vagas de trabalho de empresas privadas não-agrícolas. Divulgação: 10h15. Anterior: 106 mil. Consenso: 200 mil.
Balança Comercial (EUA) – O Escritório de Análises Econômicas americano divulgará a Balança Comercial de janeiro. Divulgação: 10h30. Anterior: -US$67,4 bilhões.
Lula (Brasil) – O presidente da República participará da cerimônia de celebração do Dia Internacional das Mulheres e anúncio de conjunto de ações. Horário: 11h00.
Relatório JOLTs (EUA) – O Escritório de Estatísticas americano publicará o relatório JOLTs de janeiro, com informações sobre vagas de empregos disponíveis no país. Divulgação: 12h00.
Powell (EUA) – O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, testemunhará perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados americana. Horário: 12h00.
Estoques de petróleo (EUA) – A Agência de Informações de Energia publicará a variação semanal dos estoques americanos de petróleo bruto e derivados. Divulgação: 12h30.
Fluxo Cambial (Brasil) – O Banco Central brasileiro publicará o Fluxo Cambial semanal. Divulgação: 14h30. Anterior: US$1,71 bilhões.
Leilão de Títulos (EUA) – O Tesouro americano realizará leilão de títulos com vencimento em dez anos. Horário 15h00.
Livro Bege (EUA) – O banco central americano divulgará o Livro Bege, relatório sobre as atuais condições econômicas em cada um dos 12 distritos do Federal Reserve. Divulgação: 16h00.
Balanço (Brasil) – A IRB Brasil, a 3R Petroleum, a CSN, a CSN Mineração, a Dexco, o Grupo Mateus, a MRV, a Petz e a SLC Agrícola divulgarão os balanços do quarto trimestre após o fechamento dos mercados brasileiros.
PIB (Japão) – O gabinete do governo japonês divulgará o Produto Interno Bruto do quarto trimestre. Divulgação: 20h50. Anterior: -0,3%. Consenso: 0,2%.
CPI (China) – O Escritório Nacional de Estatísticas chinês publicará o Índice de Preços ao Consumidor de fevereiro. Divulgação: 22h30. Anterior: 0,8%. Consenso: 0,2%.
PPI (China) – O Escritório Nacional de Estatísticas chinês divulgará o Índice de Inflação ao Produtor anual de fevereiro na China. Divulgação: 22h30. Anterior: -0,8%. Consenso: -1,3%