Mercado local reage a falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não há discussão para mudança, e sim aprimoramento, da meta de inflação

Por Patrícia Lara

Mercado doméstico reage a comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não há discussão para mudança da meta de inflação, mas estudos de aprimoramento, em entrevista ontem à noite marcada por um tom apaziguador. Campos Neto disse que o fiscal é um dos problemas que explicam os juros elevados, completando que o amadurecimento de iniciativas pode melhorar o cenário de convergência da inflação à meta.

“Se a gente fizer uma mudança agora, sem um ambiente de tranquilidade e um ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é um efeito contrário ao desejado”, disse o presidente do BC, que defendeu a autonomia da autarquia, citando que isso ajuda o governo. Ele disse estar disposto a se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, Campos Neto participa de painel sobre Política Monetária na em evento organizado pelo BTG Pactual, a partir das 09h45.

No exterior, predomina o compasso de espera pelo índice de inflação ao consumidor nos Estados Unidos, que sairá às 10h30 e pode trazer mais uma peça para definir a trajetória da taxa de juros. O indicador deve acelerar para 0,5% em janeiro no comparativo mensal, segundo o consenso das projeções, ante 0,1% em dezembro. Na base anual, o dado deve desacelerar para 6,2%, o menor patamar desde outubro, ante 6,5% em dezembro.

Antes do dado, as bolsas europeias subiam e os futuros de Nova York estavam perto da estabilidade. O Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda ante principais pares, recuava 0,35%, a 102,93 pontos, perto das 06h40. Os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos também cediam.

Nas commodities, o petróleo Brent cedia abaixo de US$86,00 o barril, após o governo dos EUA informar que pode liberar mais reservas estratégicas do produto como determinado pelos parlamentares, o que contrasta com a expectativa de alguns operadores de que a liberação seria suspensa ou adiada. O minério de ferro futuro terminou em leve alta após uma sessão volátil na Bolsa de Dalian.

A bolsa local reage ainda a balanços. O Banco do Brasil reportou o melhor resultado de sua história no quarto trimestre de 2022 e renovou recorde de lucro líquido pelo oitavo trimestre consecutivo, superando projeções de analistas mesmo com um provisionamento extra de R$788 milhões para cobrir 50% da exposição a operações envolvendo a varejista Americanas. Entre outubro e dezembro, o maior banco estatal do país em ativos reportou lucro líquido ajustado de R$9,04 bilhões, contra consenso de analistas colhido pela Mover que previa um ganho líquido de R$8,25 bilhões, apresentando alta de 52,4% na base anual e de 8,1% na base trimestral devido ao aumento da margem financeira bruta,

A agenda doméstica traz leilão do Tesouro, com oferta de LFT e NTN-B.

MERCADOS GLOBAIS

-O futuro do petróleo Brent para entrega em abril cedia 1,04%, a US$85,71 o barril.

-O minério de ferro subiu 0,2% na bolsa chinesa de Dalian, a 856,50 iuanes, ou o equivalente a US$125,66 a tonelada.

-O Bitcoin subia 1,28% nas últimas 24 horas, a US$21.821,30; o Ethereum ganhava 2,48% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

-O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no pré-mercado americano, estava estável.

-Os contratos de juros futuros na B3 devem passar por um ajuste após Campos Neto dizer que não há discussão no BC sobre mudança da meta de inflação. Mesmo assim, o BC tem um voto de 3 na decisão que cabe ao Conselho Monetário Nacional. O CMN tem a primeira reunião do governo Lula na próxima quinta-feira.

DESTAQUES

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na entrevista ao “Roda Viva” da TV Cultura que a autoridade monetária tem monitorado o efeito da crise da Americanas sobre o crédito na ponta. De acordo com Campos, diretores executivos de instituições financeiras do país com quem se reuniu projetam que a crise envolvendo “inconsistências contábeis” na Americanas não afetarão a distribuição de produtos, nem a forma como veem o crédito. (Mover)

A mudança da meta de inflação dominou os dois encontros de economistas do mercado com diretores do Banco Central, realizados na véspera pela autarquia em São Paulo. Economistas alertaram que este não seria o momento para uma mudança, diante da falta de elementos que deem subsídio à decisão, como a apresentação de um arcabouço fiscal. (Mover)

O JPMorgan acredita que o Conselho Monetário Nacional “provavelmente” vai alterar as metas de inflação para este e para o próximo ano, embora pondere que a magnitude da mudança, bem como período de tempo aplicado, estão indefinidos. O banco também avaliou que os efeitos de eventual modificação da meta são “altamente incertos”. (Mover)