Mercado doméstico digere resultado do Bradesco e rumores de alteração na meta da inflação estão no radar

Exterior aguarda falas de integrantes do Banco Central americano, que podem sinalizar o caminho dos juros nos EUA

Unsplash
Unsplash

Por Patrícia Lara

Os mercados domésticos abriram sob efeito do balanço abaixo do esperado do Bradesco, divulgado na véspera, e com foco em rumores sobre mudança na meta de inflação, que provocaram disparada das taxas de juros e do dólar ontem, além de pesar no Ibovespa. No exterior, o dia é de baixa nas bolsas europeias e nos futuros dos índices acionários americanos, após o Produto Interno Bruto britânico mostrar estagnação na economia do Reino Unido e antes de falas de membros do Federal Reserve, o banco central americano, que podem sinalizar o caminho dos juros nos Estados Unidos. A manhã desta sexta-feira também é marcada por dados que mostraram aceleração da inflação ao consumidor na China em meio às festividades do Ano Novo Lunar.

Ontem, o Bradesco registrou lucro líquido recorrente de R$1,60 bilhão, muito abaixo do consenso de projeções levantadas pela Mover, de R$4,35 bilhões, e o menor Retorno sobre Patrimônio da série histórica iniciada em 1987, de 3,9%. O segundo maior banco privado do Brasil teve seu resultado pressionado por um provisionamento de R$4,85 bilhões para cobrir 100% da exposição à varejista Americanas. Os recibos de ações do banco cediam 9,06% no pré-mercado de Nova York, ainda que o horário seja de baixa liquidez.

No mercado de câmbio, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas, sobe ao redor de 103,38 pontos. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano também avançam nesta manhã antes de dados da Universidade de Michigan, que incluem expectativa de inflação, e antes de falas de dirigentes do Fed, que acontecem sob expectativas dos dados de inflação ao consumidor americano, divulgados na próxima terça-feira.

Nas commodities, o barril do petróleo Brent se valorizava 2,40%, cotado a US$ 86,53, caminhando para fechar a semana em alta com as perspectivas de aumento da demanda na China. O minério de ferro fechou a sessão na China em leve elevação na Bolsa de Dalian.

A inflação anual ao consumidor na China acelerou para o maior patamar em três meses, ao subir 2,1% em janeiro, de 1,8% em dezembro. O resultado ficou abaixo do consenso de 2,2%. A alta foi puxada pelos preços dos alimentos, que aceleram para 6,2%, de 4,8% em dezembro.

A agenda do dia é marcada pelo encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca a partir das 16h00. Já o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem várias reuniões fechadas à imprensa ao longo do dia.

MERCADOS GLOBAIS

-O minério de ferro subiu 0,8% na bolsa chinesa de Dalian, a 863,50 iuanes, ou o equivalente a US$126,98 a tonelada.

-O Bitcoin cedia 2,87% nas últimas 24 horas, a US$22.249,30; o Ethereum recuava 3,23% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

-O índice EWZ, que replica o movimento das ações brasileiras no exterior, cedia 0,40% no pré-mercado americano.

-Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir pressionados, após vários vencimentos dispararem mais de 30 pontos-base na véspera com os rumores sobre discussão antecipada da meta de inflação.

DESTAQUES

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, fez diversos ataques ontem ao Banco Central e, em uma entrevista dada à CNN Brasil, no fim da tarde, alcançou seu ápice ao dizer que, se o presidente do BC mantiver os juros no patamar atual por um longo período, estaria cometendo um crime contra o país. “Sinalizar que juro fica estável até o fim do ano é um crime”, disse. (Mover)

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), por sua vez, tem feito o trabalho de apagar o fogo, reiterando à imprensa ontem que não há plano nenhum no governo para modificar a lei que assegura a autonomia do BC. Padilha também disse que o debate público sobre o patamar da taxa básica de juros Selic não significa uma pressão sobre as decisões do BC. (Mover)

No âmbito do Legislativo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, avaliou ontem, durante fala em um evento, que a tendência da maioria do Congresso é de não retroagir na lei que garante a autonomia do BC. Lira argumentou que BC independente é uma marca mundial e foi o modelo escolhido pelos parlamentares no Brasil. (Agências)

A equipe econômica do governo considera uma revisão antecipada das metas de inflação do país, em uma tentativa de aliviar as tensões entre o BC e o presidente Lula, segundo fontes não identificadas. A próxima reunião do Conselho Monetário Nacional, órgão responsável por definir as metas de inflação, ocorrerá em 16 de fevereiro. Campos Neto seria a favor de uma meta mais alta, e teria sinalizado ao governo que defende uma alteração de 3,25% para 3,50%, segundo fontes. (Agências).

O conselho da Americanas aprovou um financiamento de R$2 bilhões na modalidade DIP, ou “debtor in possession”, por meio da emissão de debêntures simples com custo de até 128% do CDI e sem garantias, a fim de manter a operação da empresa. Segundo a varejista, a primeira tranche de R$1 bilhão do financiamento será paga por seus acionistas de referência Jorge Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, sócios da 3G Capital. (Mover)

As aéreas Azul e Gol tiveram suas notas de crédito rebaixadas pelas agências Fitch e S&P Global ontem, refletindo o cenário desafiador para empresas com alto endividamento e uma perspectiva de deterioração na geração de caixa das companhias ao longo deste ano. (Mover)

O PIB britânico ficou estável no quarto trimestre de 2022, conforme o consenso projetava, enquanto a produção industrial na região caiu 4%, ante uma expectativa de recuo de 5,3%. (Mover)

AGENDA

Pesquisa de Serviços (Brasil) – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgará o volume de serviços prestados em janeiro. Horário: 09h00. Anterior: 0,0%.

Confiança (EUA) – A Universidade de Michigan publicará a Confiança do Consumidor americano de fevereiro. Divulgação: 12h00. Anterior: 68,4 pontos. Consenso: 68,0 pontos.

Discurso Fed (EUA) – Christopher Waller, membro do conselho do Federal Reserve, e Patrick Harker, presidentes do Fed da Filadélfia, falarão em eventos. Horários: 14h30 e 18h00, respectivamente.

Contagem de Sondas (EUA) – O Baker Hughes divulgará o número semanal de plataformas de petróleo ativas operando na América do Norte. Divulgação: 15h00. Anterior: 759 sondas

Balanço Orçamentário (EUA) – O Tesouro americano publicará o balanço orçamentário de janeiro. Divulgação: 16h00. Anterior: -US$85 bilhões. Consenso: -US$63 bilhões.

Ministério da Fazenda (Brasil) – O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, participa de live da Bradesco Asset. Horário: 16h00.

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Joe Biden, reúnem-se na Casa Branca. Horário: A partir das 16h00