Da euforia ao medo

Mercado cai com operadores indo da leitura de 'pouso suave' nos EUA para 'pouso abruto'

Reuters News Brasil
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Brasília, 1/8/2024 – O humor dos mercados acionários azedou subitamente nesta quinta-feira, revertendo ganhos impulsionados por visão inicial positiva sobre sinalizações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, ontem, de que pode haver corte de juros já em setembro, à medida que operadores passaram da euforia à preocupação, por temores de que o banco central estaria levando tempo demais para iniciar o ciclo de alívio monetário, ameaçando substituir o cenário traçado de “pouso suave” na economia norte-americano pelo de “pouso abrupto” com base em dados.

Operadores e investidores passaram a projetar hoje, majoritariamente, três cortes de 25 pontos-base cada da taxa-alvo Fed Funds no segundo semestre deste ano pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), enquanto os índices acionários de Wall Street encerraram em firme queda, na esteira das falas de Powell — ele afirmou que uma redução em setembro “estaria na mesa” caso os dados evoluíssem conforme o esperado.

“Há um cenário no qual um corte de juro seria visto negativamente para os mercados acionários, e isso seria se um corte de juro fosse atrelado ao Federal Reserve vocalizando preocupações sobre a economia”, afirmou George Ball, da Sanders Morris, à Bloomberg.

A reação dos mercados se segue aos números de pedidos semanais de seguro-desemprego para a semana encerrada em 27 de julho, que foram a 249 mil, na maior leitura em 11 meses, e acima do consenso, que projetava 236 mil novas solicitações. O relatório é um forte endosso a um corte de 25 pontos-base pelo FOMC em setembro.

Diante dos dados fracos reportados nesta quinta-feira e temores quanto a uma desaceleração da atividade econômica, o “Índice do Medo” VIX, que mensura a expectativa de volatilidade dos investidores, operou no maior patamar desde abril na sessão desta quinta-feira.

Seguindo-se à precificação de cortes neste ano pelo FOMC, as Treasuries yields de dez anos operaram hoje no menor nível desde fevereiro, e abaixo de 4%, também refletindo o recuo do PMI Industrial dos EUA, medido pelo S&P Global, a 49,6 em julho – território de contração – ante 51,6 em junho. A leitura aumenta temores de uma desaceleração da atividade econômica no terceiro trimestre.

No início da tarde, as Treasuries yields de dois anos operavam em queda de 7,3 pontos-base, a 4,187%, enquanto as Treasuries yields de dez anos perdiam 4,7 pbs, a 3,986%.

DESEMPREGO NA MIRA DO FED

A taxa de desemprego encontra-se atualmente em 4,1%, no maior patamar desde novembro de 2021, à medida que mais pessoas passam a compor a força de trabalho da atividade econômica. Na decisão de ontem, o FOMC reescreveu trecho do comunicado para citar atenção a ambos os lados de seu duplo mandato, tanto de assegurar preços estáveis, como de fomentar o pleno emprego.

Durante a coletiva de imprensa, Powell também pontuou que “riscos baixistas” para o mandato de emprego são “reais” no atual momento, enquanto os “riscos altistas” para a inflação diminuíram, em linha com falas anteriores, nas quais reconhecia um esfriamento do mercado de trabalho. O FOMC reconheceu, no comunicado, que a geração de postos de trabalho moderou nos EUA, enquanto a taxa de desemprego avançou, embora permanecesse baixa.

Diante do avanço da taxa de desemprego, os EUA estiveram próximos de acionar a chamada “Regra de Sahm” em junho, que explora um modelo preditivo de recessão, a depender de gatilhos acionados. Pelo modelo, quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego supera em 0,5 ponto percentual a taxa mínima de desemprego em 12 meses, aciona-se o gatilho de recessão.

O relatório Payroll, que será divulgado amanhã, deve reportar geração líquida de 175 mil postos de trabalho em julho, de acordo com consenso de analistas, enquanto a taxa de desemprego deverá permanecer inalterada em 4,1%. Os dados serão reportados às 9h30 pelo Departamento de Trabalho.