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Lula indica Gabriel Galípolo para comandar Banco Central; saiba mais sobre o substituto de RCN

Agência Brasil
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São Paulo, 28/8/2024 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou na tarde desta quarta-feira a antecipação da indicação do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, para assumir a presidência da autarquia em 2025, em substituição ao atual chefe, Roberto Campos Neto, colocando fim a uma incógnita entre operadores de mercado acerca da sucessão na autoridade monetária.   

Galípolo, de 42 anos, que terá o nome enviado para sabatina no Senado, é mestre em economia política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), tida como heterodoxa, onde também se formou bacharel em ciências econômicas. Indicado inicialmente para a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, ele foi alçado por Lula em maio de 2023 à diretoria de Política Monetária do BC, em movimento já tido na época como “preparação” para assumir futuramente a chefia da instituição. 

 Desde então, Galípolo foi visto sob desconfiança por parte de operadores, em parte devido às críticas públicas e constantes do presidente Lula a Campos Neto, que geraram alguns temores de um “cavalo de pau” na política monetária a partir de 2025– o que, se ocorresse, repetiria movimento visto na gestão do BC liderada por Alexandre Tombini, indicado de Dilma Rousseff, a partir de 2011.   

DIVISÃO NO COPOM GEROU TEMORES 

Um dissenso observado na reunião do Copom de maio – com Galípolo e outros indicados por Lula votando por corte de 50 pontos-base da Selic – enquanto outra ala votou por corte menor, de 25 pontos-base – aumentou as preocupações acerca de uma potencial leniência do BC acerca do cumprimento da meta de inflação a partir de 2025.  

As expectativas de inflação, por consequência, desancoraram, em meio à resiliência da atividade econômica, o que levou o Copom a interromper na reunião seguinte o processo de corte da taxa básica de juro – iniciado em agosto de 2023 – com a Selic encontrando-se, atualmente, em 10,5% – e com precificação da curva de juros para uma retomada do aperto monetário a partir de setembro.  

 Desde então, membros do BC – capitaneados por Campos Neto e Galípolo – esforçaram-se em transmitir ao mercado uma visão coesa de compromisso com a meta de inflação.  Nas últimas semanas, inclusive, Galípolo surpreendeu, passando a ser visto por parte do mercado como um dos membros da ala “hawkish”, após sinalizar potencial retomada do ciclo de aperto monetário pelo Comitê de Política Monetária (Copom).  

Mas as aparições públicas de Galípolo também causaram mais ruídos e alguma confusão no mercado, com alguns apontando que o reconhecimento de um balanço de riscos assimétrico por parte do diretor consistiria em um guidance para a política monetária e sua tomada de decisão.  

O gestor da Verde Asset, Luis Stuhlberger, chegou a brincar que Galípolo estaria “indo até em quermesse” para falar sobre alta de juro. Segundo Stuhlberger, as colocações de Galípolo colocaram o BC “no corner”. Hoje, o ex-diretor do BC Luiz Awazu disse ao Broadcast que “membros do BC estão falando demais” e que poderiam “limitar” as aparições públicas, com maior parcimônia. 

Em suas últimas falas, Galípolo chegou a admitir que foi mal interpretado, e reforçou que não buscou dar nenhum “guidance” para o próximo Copom, o que nas palavras dele faz com que o colegiado caminhe para a reunião de setembro “com todas as alternativas abertas”.  

Embora a curva de juro precifique mais de 30 pontos-base de alta para a Selic em setembro, a mediana de projeções do Focus segue estimando Selic inalterada em 10,5% até o fim de 2025, e sellsides, como o Bank of America, estão entre os que não veem um aumento iminente, dado um cenário de alívio monetário a ser implementado pelo Federal Reserve neste ano e potenciais ventos favoráveis para economias emergentes.  

PERFIL E POLÊMICAS 

Ex-presidente do Banco Fator entre 2017 e 2021, Galípolo teve importante papel na transição de governo em 2022, ao assumir a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda a partir de janeiro de 2023, período em que era visto como o nome mais próximo do mercado na equipe econômica de Lula.  

Mas não demorou para essa imagem começar a ser abalada, conforme Lula insistia em ataques ao atual chefe do BC, Campos Neto, insinuando que as decisões dele poderiam ter influência do ex-presidente Jair Bolsonaro. Petistas repetiram argumentos contra RCN, e é frequente a crítica ao presidente do BC por ter ido votar em 2022 com camiseta da seleção brasileira de futebol, associada ao ex-presidente. 

Galípolo, por sua vez, também acabou dando alguma munição à ala do mercado que teme atuação mais política do BC, ao visitar uma feira do Movimento Sem-Terra em maio do ano passado, em clara aproximação com militantes do movimento social próximo do PT. E, se RCN sofreu reprimendas por ir a um jantar do governador paulista Tarcísio de Freitas, Galípolo também foi visto em festa de aniversário do petista José Dirceu.  

Mas os temores de que o novo presidente do BC possa ceder aos apelos do PT, ou movimentos de esquerda, são contrastados por uma visão, em parte do mercado, de que Galípolo poderia buscar retomar a credibilidade com os posicionamentos “hawkish” recentes, o que apoiaria votos dele por um eventual aumento de juros.  

Em artigo no Estadão neste mês, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles – à frente da autarquia entre 2003 e 2010 – lembrou que subiu juros em suas duas primeiras reuniões como chefe da autarquia, o que segundo ele foi “necessário” e ancorou expectativas. 

Por outro lado, a missão de Galípolo na condução da política monetária pode receber ajuda externa, com ventos internacionais mais favoráveis, em meio a um esperado ciclo de afrouxamento monetário em países desenvolvidos, ainda que dirigentes da autarquia insistam em não haver correção mecânica entre as políticas monetárias local e norte-americana.  

 Nos Estados Unidos, por exemplo, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) caminha para iniciar em setembro um ciclo de corte de juros, após aperto entre março de 2022 e julho de 2023, mantendo a taxa-alvo Fed Funds desde então no intervalo entre 5,25% e 5,50%, maior patamar desde 2001.